O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 12 de outubro de 2008

vaga solta
o mundo todo numa chama
perdido está quem ama
secretos os anseios da escuridade
solta e perdida
a amargura e a saudade
tudo envolto na perdição de não ver
o fim e a consolação de acabar
solta no fundo do fundo do mar
rodopio e pedra perfurada
o coração submerso na transferência do nada
que move as raizes dos cardos
para o fundo para o avesso do chão
solta sem peso nem brandura
nem alvor nem morte nem torrente
vaga onda de lava
vagarosa e potente
as asas quase ainda só nervuras na pele percutida
pelo fulgor ferrugento do tempo não passado
e os pés plantados por cima da sombra duma macieira
todo o universo em perfume é maçã e apodrecimento
vaga secreta flama
secreta e rumorosa
agita-se ao fundo o que a sede regurgita
na alameda do jardim de não ter sido
presença apenas na pele do visível
planura rasura amarelo e assim
em breves luas se entorna
prenhe de estrelas e frio estatelado nas folhas de malva
na noite quase debruada a azul e continuação
secreta vaga que nada sustém
a voracidade vestida de branco como de manhã e gaze
uma alma
já sem quem
ainda amante e quase

4 comentários:

rmf disse...

Quando a palavra se alia à fotografia...

Belo.
E bela a fotografia!

Abraços

Unknown disse...

Lugar Comum

"Beira do mar, lugar comum
Começo do caminhar
P'ra beira de outro lugar
Beira do mar, todo mar é um
Começo do caminhar
P'ra dentro do fundo azul
A água bateu, o vento soprou
O fogo do sol, o sal do senhor
Tudo isso vem, tudo isso vai
P'ro mesmo lugar
De onde tudo sai"
Gilberto Gil

http://www.youtube.com/watch?v=BcmsRsgDL2I&feature=related

Abraço de maresia! :)

Paulo Feitais disse...

Vergilio, o culto do belo... é o que mais importa.
:)

Anita: tua a maresia! Que bem que sabe!

:)

Semente disse...

de-vagar se vai ao longe

:)

de vaga em vaga, de espuma branca e alma solta, de rebentação de tudo o que está dentro em vem de fora. É para fora que tudo regressa depois da rebentação... das vagas, das águas, de nós mesmos a rebentar pelas costuras

:)