O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 19 de outubro de 2008

A Magnólia

A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.

Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.

A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.


Luiza Neto Jorge

2 comentários:

luizaDunas disse...

BonDia Vergílio,

Li agora o poema. "A exaltação do mínimo" "um diminuto berço" é isso, a gota que devolve à sede a Perfeição, a Plenitude, enfim. (não a sua saciedade).

Este comentário articula com os da "sede silente".

rmf disse...

Agora, por acaso, surgiu-me uma passagem de "o Deus das pequenas coisas", acredito tê-la presente mas não a consigo recordar e livro não o tenho aqui. Certo que é qualquer coisa como a admiração pela ínfima beleza demais esquecida, por nós, dentro de nós… por aí...
Sendo a gotinha o próprio berço (o que acho lindo de comparação) a partir do qual são exaltados todos os "mínimos" então a gota é em si, um universo de infinitos significados, infindáveis proposições. A gotinha é sem dúvida o elemento primordial, que "necessária e leve a cada um" se dá a saciar!
É bonito:)
A gota vê-se metáfora.
A gota, unitária, "ente magnífico" que nos embala e recolhe para um berço regenerador, um canto, um estado de alma que, sendo para nós individual, é o único espaço da restituição da forma, da mente... essa porta aberta de onde tantas vezes se pede protecção.
Sede saciada e uma garrafa cheia de metáforas, mas sem água... uma gota era o bastante.

Gostei muito Luiza, foi-me difícil arranjar as palavras "certas" para não cair dentro do meu inexistente.
Uma sede Silente.