O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Não no entendereis?



Fotografia Diane Arbus: Albino Sword Swaller at a Carnival- 1970

Yakut Song - Hector Zazou


Como viver sem conhecer a dor,

mesmo que não seja essa a MINHA dor?
Como não oferecer a minha mão

para enxugar o suor da fronte,
daquele que perdeu, sabe-se lá como, sua mão?

Como se pode dizer que é só sonho,

o pesadelo que consome um irmão?

Como ambicionar reinos paradisíacos,

se tudo em volta se devora,

sem reconhecer na boca o sabor
da mesma carne, do próprio sangue?
Com não mergulhar em todos os infernos
sem beijar todos os demónios?
Como não desejar as pústulas
dessa carne dilacerada,
se são elas formosas papoilas,

se são elas verdes pastos, graças
,
do poeta que nos apascenta

com os olhos verdes do seu coração?

8 comentários:

Ana Margarida Esteves disse...

Entendo, E MUITO BEM ...

rmf disse...

redundante... vivendo.

esclarecedora... oferecendo.

ambíguo... o pesadelo.

ambição... falso reconhecer do Eu.

aventura... experimentando.

tentação... não desejar.

Se fosse possível uma resposta coerente a tanta dúvida, arriscaria esta, correndo o risco de ser leviano ou imcompreendido....

Vivendo, oferecendo o pesadelo, o falso reconhecer do Eu que experimenta a dor do desejo de uma faca espetada na garganta.

Riscos assumidos.
Um beijo em forma de agradecimento.

PS: Ana Margarida, benvindo seja o seu regresso! :)

Unknown disse...

Redenção, é só o que me vem.

Beijo, Ana.

Unknown disse...

A única que sei cantar:
http://www.youtube.com/watch?v=p7pAvbjChQM

Anónimo disse...

Um texto com um coração que bate e sangue a correr-lhe nas veias, acompanhado com uma fotografia e uma grande Senhora.

Ana Moreira disse...

Perguntar mais e afirmar menos foi o que aprendi com Sócrates. O caminho do meio; esse que me chama, o que eu procuro, aquele que anula infernos e paraísos, que desvenda uma nova ética activa e menos moralista; torna-se mais partilhado. A valência das perguntas é, apesar de já conterem em si a minha resposta, poderem ser sempre acrescidas e valorizadas pela combinação das vossas respostas. Obrigada por pensarem comigo.
Beijos para todos!

Anónimo disse...

Parabéns!...Um abraço!...Com os braços de veludo das sombras.De qualquer modo, já não é Primavera!

luizaDunas disse...

Ai Ana, chegares assim à formosura das papoilas e aos campos verdejantes... (Quando a espada "se interioriza" - bondade de um gume, poder do outro - não há necessidade de "ambicionar" reinos paradisíacos.