O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Micro-história do mar imenso


Respirei fundo.
Minha desvantagem.
Naquelas condições não nos sentimos protegidos por um traje salvador.
Pelo contrário, estamos tão nus e vulneráveis como qualquer peixe ou animal marinho.
Sem dar por isso, fora ao encontro de umas peças de cobre aguçadas e já apareciam nos meus braços e pernas pequenos arranhões e dois golpes compridos.
Toda a mobilidade do meu corpo tinha de ser paga por um risco maior, do qual só dava conta numa situação como aquela. Além disso, não tinha quaiquer possibilidades de contacto com o mundo à vertical. Se me acontecesse alguma coisa, ninguém me podia valer.
A minha imersão já ia em dois minutos. Era tempo de regressar, calmamente, à superfície.
Pierre e o seu amigo respiraram fundo quando me viram reaparecer.
Entreguei-lhes o arpão e levei comigo a câmara fotográfica. Trocámos sorrisos. Informei os meus companheiros de que não encontrara sereias e mergulhei de novo, rumo às águas de um azul mais escuro, em direcção ao navio, que eu já quase considerava propriedade pessoal legitimamente adquirida. Meu efémero refúgio.
VT

3 comentários:

platero disse...

Vergílio

mergulhar no norte de moçambique -Pemba até Nacala - é verdadeiramente fascinante.

a paisagem, a vida e as cores dum banco de corais; a curiosidade quase humana de alguns peixes - o peixe papagaio, o peixe aranha...

as "cáfilas" de lagostas - deslocando-se como caravanas de camelos...

não passei de modesto amador desses delírios. Sem técnica, sem eqipamentos. Dá para imaginar o que será fazer a coisa a sério

abraço

rmf disse...

A sério a sério, mas só durante um mês no ano... E percebe-se qual, o sempre benvido mês de férias que, não me posso queixar, tenho gozado na íntegra e de uma só vez.
Ou seja, ultimamente cá, mas trago na memória os mergulhos nos Açores, que no continente, nada lhes é comparável... imensidão de vida! Semelhante ou muito parecido, ou ainda com mais vida, Moçambique é um exemplo desses... ou o Mar vermelho (fora das minhas posses!)
Mas Platero, a forma como o descreves diz-me apenas uma coisa... estiveste lá, daí as tuas breves e sinceras palavras de recordação!
Histórias de pesca, de peixe, de mar...

É ou não é outro mundo?
De certo concordarás.

Amigo, estou disponível para mergulhos!! Conta comigo!

(la´estou eu a sonhar... a 100 km do mar...)

Platero, Boa!
Há peixes no mar!!
Aquele abraço.

Anónimo disse...

Parabéns!...Um abraço!