O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Nome do mundo, diadema

"Não te queria quebrada pelos quatro elementos.
Nem apanhada apenas pelo tacto;
ou no aroma;
ou pela carne ouvida, aos trabalhos das luas
na funda malha de água.
Ou ver-te entre os braços a operação de uma estrela.
Nem que só a falcoaria me escurecesse como um golpe,
trémulo alimento entre roupa
alta,
nas camas.
Magnificência.
Levantava-te
em música, em ferida
- aterrada pela riqueza -
a negra jubilação. Levantava-te em mim como uma coroa.
Fazia tremer o mundo.
E queimavas-me a boca, pura
colher de ouro tragada
viva. Brilhava-te a língua.
Eu brilhava.
Ou que então, entrecravados num só contínuo nexo,
nascesse da carne única
uma cana de mármore.
E alguém, passando, cortasse o sopro
de uma morte trançada. Lábios anónimos, no hausto
de árdua fêmea e macho
anelados em si, criassem um órgão novo entre a ordem.
Modulassem.
E a pontadas de fogo, pulsavam os rostos, emplumavam-se.
Os animais bebiam, ficavam cheios da rapidez da água.
Os planetas fechavam-se nessa
floresta de som unânime
pedra. E éramos, nós, o fausto violento, transformador
da terra

Nome do mundo, diadema."
Herberto Helder

7 comentários:

Unknown disse...

Este não podia aqui faltar... e invocado que foi o Poeta... ;)

platero disse...

anita

grato pela colaboração gentil

acaba de sair " a Faca não corta a Chama" - ou coisa parecida - de que já li um poema em "bibliotecário de Babel".

é uma poesia que não entendo mas de que gosto. como certa pintura, como alguma música, como o canto natural de muitos pássaros

Anónimo disse...

Grande poeta! Eu também agradeço. Muito, tanto, tudo.

E ao Platero um obrigada grande por saber que a poesia não se recebe com o entendimento, mas com o coração.


Lindo, lindo, lindo: o poema e tantas pessoas!Que as faces mais belas da Terra escolham a página, escolham o poema e para ela fiquem voltadas. O jardim floresceria e a paz sentir-se-ia como um odor, como um perfume.

Unknown disse...

Ad-mirar o poema é agradecimento que chegue.

Abraço carinhoso aos 2.

Ana Moreira disse...

Ai Anita, Anita... Pitonisa da voz dos os poetas, um coração com olhos deste verde mata a fome de turbas esfomeadas. Haja alguém que faça florir a terra!

Unknown disse...

:) A terra floresce como flor que é - e nós com ela...

Semente disse...

Que lindo, Anita!

:)