sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Nome do mundo, diadema
"Não te queria quebrada pelos quatro elementos.
Nem apanhada apenas pelo tacto;
ou no aroma;
ou pela carne ouvida, aos trabalhos das luas
na funda malha de água.
Ou ver-te entre os braços a operação de uma estrela.
Nem que só a falcoaria me escurecesse como um golpe,
trémulo alimento entre roupa
alta,
nas camas.
Magnificência.
Levantava-te
em música, em ferida
- aterrada pela riqueza -
a negra jubilação. Levantava-te em mim como uma coroa.
Fazia tremer o mundo.
E queimavas-me a boca, pura
colher de ouro tragada
viva. Brilhava-te a língua.
Eu brilhava.
Ou que então, entrecravados num só contínuo nexo,
nascesse da carne única
uma cana de mármore.
E alguém, passando, cortasse o sopro
de uma morte trançada. Lábios anónimos, no hausto
de árdua fêmea e macho
anelados em si, criassem um órgão novo entre a ordem.
Modulassem.
E a pontadas de fogo, pulsavam os rostos, emplumavam-se.
Os animais bebiam, ficavam cheios da rapidez da água.
Os planetas fechavam-se nessa
floresta de som unânime
pedra. E éramos, nós, o fausto violento, transformador
da terra
Nome do mundo, diadema."
Herberto Helder
Nem apanhada apenas pelo tacto;
ou no aroma;
ou pela carne ouvida, aos trabalhos das luas
na funda malha de água.
Ou ver-te entre os braços a operação de uma estrela.
Nem que só a falcoaria me escurecesse como um golpe,
trémulo alimento entre roupa
alta,
nas camas.
Magnificência.
Levantava-te
em música, em ferida
- aterrada pela riqueza -
a negra jubilação. Levantava-te em mim como uma coroa.
Fazia tremer o mundo.
E queimavas-me a boca, pura
colher de ouro tragada
viva. Brilhava-te a língua.
Eu brilhava.
Ou que então, entrecravados num só contínuo nexo,
nascesse da carne única
uma cana de mármore.
E alguém, passando, cortasse o sopro
de uma morte trançada. Lábios anónimos, no hausto
de árdua fêmea e macho
anelados em si, criassem um órgão novo entre a ordem.
Modulassem.
E a pontadas de fogo, pulsavam os rostos, emplumavam-se.
Os animais bebiam, ficavam cheios da rapidez da água.
Os planetas fechavam-se nessa
floresta de som unânime
pedra. E éramos, nós, o fausto violento, transformador
da terra
Nome do mundo, diadema."
Herberto Helder
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7 comentários:
Este não podia aqui faltar... e invocado que foi o Poeta... ;)
anita
grato pela colaboração gentil
acaba de sair " a Faca não corta a Chama" - ou coisa parecida - de que já li um poema em "bibliotecário de Babel".
é uma poesia que não entendo mas de que gosto. como certa pintura, como alguma música, como o canto natural de muitos pássaros
Grande poeta! Eu também agradeço. Muito, tanto, tudo.
E ao Platero um obrigada grande por saber que a poesia não se recebe com o entendimento, mas com o coração.
Lindo, lindo, lindo: o poema e tantas pessoas!Que as faces mais belas da Terra escolham a página, escolham o poema e para ela fiquem voltadas. O jardim floresceria e a paz sentir-se-ia como um odor, como um perfume.
Ad-mirar o poema é agradecimento que chegue.
Abraço carinhoso aos 2.
Ai Anita, Anita... Pitonisa da voz dos os poetas, um coração com olhos deste verde mata a fome de turbas esfomeadas. Haja alguém que faça florir a terra!
:) A terra floresce como flor que é - e nós com ela...
Que lindo, Anita!
:)
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