O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 5 de outubro de 2008

Parabéns, actas e aforismos


Aos quatro, quase cinco, dias do mês de Outubro, no restaurante “X”, um grupo de amigos reuniu-se para celebrar o que ainda não era, mas estava prestes a ser: o aniversário do Paulo. Todos estiveram presentes, porque os que não estiveram, “estiveram” de outras formas mais elevadas e puras do que a representação mental. A reunião não tinha uma sequência de trabalhos e por isso não existiram os tradicionais pontos de ordem. Não houve pontos, houve declarações, exclamações e interrogações.
Mas, numa noite em que nada era e tudo quase podia ser, sugere a redactora desta acta que o lema fosse, roubando um título a Kierkegaard, “In Vino Veritas”. O lema, como tudo na noite, deve agradar a quase todos, menos a uma das participantes que desta vez quase bebeu como os outros. Mas só quase. O que se segue não obedece senão à ordem, sem ordem, que reinava, mas em muito se deve à atentíssima capacidade de concentração do seu primeiro redactor, que à falta de melhor, usou desse mui nobre papel que é a toalha da mesa. Com efeito, será por algum de nós guardado como um papiro, e/ou quiçá algum historiador das mentalidades não o tome um dia por uma peça de um preciso in folio de vidas privadas a discutir a vida pública. Res publica: 5 de Outubro. Como se pode verificar, só aparentemente fora do tempo e das circunstâncias. E da lógica.

Nesse sentido, o que a seguir se apresenta é um conjunto de aforismos, ou de frases que nos fizeram sorrir e esperar com alegria a chegada do dia 5 de Outubro. O que aqui se designa por “aforismos” resulta da livre expressão de vários autores, inspirados por aromas, perfumes e cores do supremo néctar dos deuses. Todas as taças se ergueram para saudar o Paulo. Mas, inspirado e feliz, o Paulo considerou que estas poderiam ser as premissas do renovado blog: A Nova Serpente. [Esta ideia suscitou muitos risos.] Saliente-se, desde já, que nem sempre, ou quase sempre os “aforismos” estão à altura de tudo aquilo que nos ensinou e é. Pelos menos os meus, redactora oficial, também, desta acta. Há, afinal quem tenha muitas actas como há quem tenha muitas “gactas”. Há quem realize muitos actos como quem há quem salve muitos “gactos”. E, nada mais havendo a relatar para tentar tornar perceptível o que não é, e sem termos da lei, porque o vinho os quase anula, seguem-se as fórmulas finais que o secretário mais sebastianista que alguma vez tive a meu lado recolheu para esta composição derradeira: que a todos agrade, faça sorrir e a alegria se possa espalhar como um dom com que a Terra nos celebra. Em especial ao Paulo.

1. A minha cara não é verosímil.
2. Eu prefiro vinho: a sério!...
3.Também quero!
4. Para ser perfeito é porque tem branco.
5. Não posso meter migas em cima dos aforismos.
6. O vinho branco é como o sétimo chackra: uma ausência que é uma presença. (aforismo deturpado, de torpeado).
7. Juro que ainda não estou bêbeda [correcção] ébria. 20:43.
8. Regra de três simples: Gacta está para gacto como acta está para acto. E esta é a solução para a crise financeira e Wall Street.
9.À décima garrafa é possível que me torne ministro da economia.
10. Que quer dizer “maîtrise”?
11. Não existe. O R., secretário-mor deste reino de “Pancas”, saltou do número dez para o aforismo doze.
12. Qual é a diferença entre “ser livre” e “estar em liberdade”?
13. Segunda regra de três simples: O Bom está para sai (supostamente bonsai) como o Mau está para entra.
14. Disseste feitiozinho? (…) e o açúcar?
15. Eu ruborizo: sou a ilustração de mim própria.
16. O amor dá fé.
17. Sou carneiro-aquário. E haverá aí água?

Depois de tanto vinho a água. A última pergunta, de tão filosoficamente profunda, dada a riqueza semântica para que remete o conceito de “água”, deixou bloqueada as nossas frágeis mentes. A noite chegara ao fim. Ainda que eu, no instante em que termino este ofício, me apeteça muito dizer que tomo “água” como origem e fonte e deseje ao Paulo o “caminho de regresso”. Na água esconde-se a transparência de tudo e vê-se o sem fundo: o abismo onde se cai sem nada doer. Como a amizade que muitos e tantos lhe dedicam livres do vinho e da água, do branco e do escuro, para sempre o brindarmos espiritualmente. Muitos vivas ao Paulo!

A presente gacta foi redigida pela nossa mui querida Isabel Santiago, infelizmente devido a obstáculos de ordem informática que ainda não foram devidamente ultrapassados, foi-me incumbida a mim a missão de a postar, para deleite e regabofe de todos nós, excelso povo reinadio do Reino / República ( conforme as convicções individuais de cada um - democracia oblige) da Nova Serpente.

9 comentários:

Paulo Borges disse...

Esta gacta é o melhor de tudo! Parabéns à regactora!

luizaDunas disse...

É a rosa a florir quando o quatro é quase cinco.


(O que eu me ri com os aforismos, Isabel...)
Quanto à água, é o que as nossas raízes procuram por caminhos e profundidades infindos para saciarmos a sede de regresso.
( É este o "tal" Bosque? )

Anónimo disse...

Ó Isabel, não somos só um grupo de “Pancas”! Mas também da Cartuxa. Não de Parma mas de Sintra! Não, desculpem do Alentejo!

Anónimo disse...

Saúde Irmãos!

Anónimo disse...

Paulo
As que fiz hoje não são iguais a esta, seguramente! As de hoje têm que ser aprovadas, são reclamadas, não são entusiasmadas! Esta semana farei seguramente três, pelo menos.

Luíza

este não é o "tal" bosque! Estou em falta, mas tentarei chegar lá e levar-vos. Não me esqueci. Prometo. A ti e ao Soantes. Mas com tanta acta, ou gacta, redegacção, e sei lá que mais...risos.

tacinha de vinho...

segredos do vinho
Saúde irmão! Porque, ou o vinho já te faz sentir muitos, ou és só um apesar dos segredos!
nós somos o que tu quiseres! Ou somos até onde o vinho me/nos levar. Sorriso.

Anónimo disse...

Isabel, na realidade, ontem fui fazer uma acção de formação. E não me ofereceram vinho, nem de "Pancas" nem da "Cartuxa". Mas o formador, indelicada pessoa que não oferece aos convivas vinho bom, ofereceu chá de Dharamsala! Achas isto normal? Ou é ignorante, o que acontece a quase todos os formadores, ou já tinha bebido ou "Pancas" ou "Cartuxa", não te parece?

Mais, não só não ofereceu "Cartuxa", como também não ofereceu chá (aquele que ele falou não existe...)! Chá, Isabel, é feito com água! Isabel tens que mandar umas actas destas para o meu formador, para ver se ele aprende com o Paulo a receber bem os amigos! Tanta hierarquia e tanta solenidade, e depois, nada...imperou a lei seca! Até água nos faltou, ou chá...tanto faz...

Sim, porque depois de Sábado estou uma verdadeira devota do chá. É sempre cinco de cada vez! E venham mais cinco...e envio cinco vivas ao Paulo, de cada vez...

Anónimo disse...

Consistentemente deprimida

começo com um sorriso. Depois respondo-te assim: deixa lá o formador e a sua indelicadeza. Concentra-te nos amigos que são delicados e conhecem os vinhos das mais belas paisagens exteriores e interiores. Olha lá, e digo isto a rir à gargalhada, quais os efeitos de cinco chávenas de chá dentro de ti? A senhora do bar estava perdida de riso, e nós muito siso! Como se fosse normal, como se todos, ou a humanidade em geral pedísse/mos "cinco chás, se faz favor!" Não a noite foi mesmo hilariante. E a velocidade com que bebericaste os cinco chás?! Eu bebi dois e já estava farta de chá. Estava calor...até eu senti calor. Enfim...para mais tarde recordar. Espero que hoje estejas consistentemente alegre, com aquela alegria que não vem do vinho e vem só de se estar aqui, entre os que conhecemos e desconhecemos, entre a luz e a sombra.

Anónimo disse...

Gargalhadas deu eu, Isabel!
Vejo ainda, as cinco chávenas de chá na mesa, que de tão grandes mais pareciam canecas (para quem nos escutar: não, não se tratava do Chá das Cinco! Antes das quatro da manhã, num dia que era já cinco, claro!), risos... não foi apenas isso que disse àquela simpática senhora do bar: Consumo mínimo... Ah, tenho que consumir este valor?!
Ok ... vou conduzir, não posso beber mais álcool !
São cinco chás, se faz favor!
“Os cinco já?!”
Sim, por favor.

Que queriam vocês amigos noctívagos, que eu bebesse, depois daquele delicioso néctar dos deuses?


Agora, saio apressada e diligentemente, para outra (acção de formação). E, espero voltar “consistentemente alegre”, haja ou não, vinho! Risos... Saúde!

Anónimo disse...

Saúde e muita alegria. Bem e se o efeito do chá, melhor, de tanto chá é a alegria, então bebamos chá! E quanto a formação...deixa lá também tenho actas que não são "gactas" para fazer e lá também não há chá e às vezes até falta chá a muita gente... Muitos e variados risos...; sobre esta última parte muitos sisos.
Que a formação seja pelo menos cordial.