O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 2 de janeiro de 2010

Ainda sobre a genialidade...

Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade. A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflinge a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo pelas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. Depois, além de plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de génio desconhecido pode gozar a volúpa suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu génio; e pode, pensando que seria célebre se o quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio.

Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-interpretação, Ed. Ática, Lisboa, 1966, pp.66 a 68

7 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Coisas do Pessoa, senhor Kunzang, coisas do Pessoa! Náo foi ele que se apelidou de "supra-Camões"?!... Olhe, senhor Kunzang, vá pregar esse sermão ao Saramago, que ele lhe dará o troco! E, a propósito, ouça esta minha quadra, acabada de sair do forno:

Sem lhe chegar aos tacões,
não foi acaso Pessoa
que quis ser mais que Camões,
como ele próprio apregoa?

João de Castro Nunes

baal disse...

ó jcn, porra sr. abade, o pessoas apelidou-se de supra camões não por ser melhor mas por ser 'depois' (temporalmente).

Julio Teixeira disse...

Um retrato bem delineado e reconhecido pelo olhar e ouvir...
No mundo. Aqui. Agora.

João de Castro Nunes disse...

Ó BAAL, vai dizer essa... ao polícia da esquina! Acaso Pessoa estaria com os copos... quando teria confundido "supra" com "depois"?!... Já patrces tu... quando confundiste Fídias com Apeles! "Ne sutor ultra crepidam",
o caro BAAl, ne sutor ultra crepidam"! Não fales do que não sabes! Não há pachorra, senhor abade!

João de Castro Nunes disse...

Aviso que "patrces" é erro por "pareces". É que, na altura, eu estava a pensar nas "patranhas" do nosso caro BAAL, o tal do Fídias. JCN

baal disse...

é melhor fídias do que pífio.
não há pachorra

João de Castro Nunes disse...

Como Fídias... estás longe de ser, então és pífio. Ainda bem que te reconheces! JCN