O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 26 de maio de 2009

"Só há procura por não se saber o que se procura" - Jigme Khyentse Rinpoche

(Centro Karuna, serra de Monchique, 23.5.2009)

16 comentários:

afhahqh disse...

Buenos dias!

kunzang disse...

porque se soubéssemos o que procuramos, não procurávamos.

maltez disse...

Ia.

Eu sei o que procuro: qualia.

Nunca Mais disse...

Saber o que se procura é saber/saborear ser o que se procura e isso é o fim da procura?...

kunzang disse...

mas afinal o que se procura?

maltez disse...

Kunzang: qualia, sentir, extâse, ser criança (eu=mundo), desaparecimento do eu no sentimento...

Nunca Mais: qualia não tem fim.

Anónimo disse...

Nunca Mais: saborear é uma palavra saborosa, ainda que saboreemos o cinzento.

kunzang disse...

será qualia a tua natureza primordial?

maltez disse...

Não sei... Como assim?

Digo apenas que é algo a buscar...

kunzang disse...

Creio que não é preciso procurar esse algo porque ele está sempre aqui e agora. Se o procuro (porque também o busco como tu), é porque a minha ignorância cobre esse algo. Por isso «há procura». Bem haja o grande mestre Jigme Khyentse Rinpoche. Nunca me esquecerei uma conferência que fui, onde este mestre nos mostrava «algo» com grandes intervalos de silêncio entre as suas palavras de sabedoria. Era um silêncio esmagador, aniquilador da ilusão e das suas tendências.
Nuno, quando precisares de um violino, juntamo-nos para tocar. Soube aqui que tocas guitarra. Abração.

maltez disse...

Gostaria muito. Abraço.

Pedro Jigme disse...

Dou graças aos méritos recolhidos no passado que me possibilitaram poder estar presente quando Jigme Khyentse Rinpoche falou sobre isto.

jamyang disse...

e quem os recolheu?

pé nu disse...

e o que há para recolher? e quem há para assinar?

tino disse...

e onde guardou o que recolheu? Ainda há espaço para mais recolhas?
Não fica a barriga mais pesada com tanto mérito recolhido?

Unknown disse...

A minha Tomada de Refúgio com Jigme Khyentse Rinpoche:

A minha vida foi uma guerra. No sentido literal da palavra.
Com mortos e tudo.
Em que acordava a pensar: “ Porque não fui eu?”
Uma vida repleta de ignorância e comandada por esta. Até aos 33 anos julgava que era um perturbado mental.
Apesar de louco pela liberdade, nunca a encontrei. Só encontrei sofrimento. Sofrimento pessoal e sofrimento causado aos outros. E uma cessação da liberdade de escolha que todo o ser humano tem á nascença.
E, o que era mais aflitivo, era o facto da minha inteligência não me ajudar em nada. Aliás, só piorava tudo, pois fez-me perder anos de uma vida preciosa a ter diálogos de surdos comigo mesmo.

Mas, após muitas batalhas e muito sangue, suor e lágrimas derramados, parei de pensar com esta mente limitada pela ignorância. E agi em vez de racionalizar.

E foi demais…

Foi um momento MUITO especial. Como Jigme Rinpoche nos disse, antes da Tomada de Refúgio:

"Vocês vão tomar refúgio na LIBERDADE (Buda), na SABEDORIA (Dharma) e na COMPAIXÃO (Sangha)".

Queremos melhores objectivos para esta vida? :)
E senti a responsabilidade REAL do compromisso do Boddicitta. Mas não senti
medo ou aversão a ela. Abraçei-a com alegria genuina.

E eramos só 6 (o único homem era eu) e ali estavamos sentados junto à
poltrona onde ele estava (a uns 20 cm) a ouvir aqueles conselhos e
explicações que saiam como água duma nascente. Sem esforço e sem
racionalismo.
Puros como a Verdade. Tansbordando Alegria e Compaixão que se podiam sentir de um modo emocional, mas também muito fisico.

E quando chegou a minha vez para ele escolher o nome (e ele parava muito tempo a olhar para cada um de nós antes de nos "baptizar"), ás tantas olhou para a minha t-shirt, (que eu tinha vestido para lá ir depois de andar o dia todo com outra!). A t-shirt é uma t-shirt do Parapente.

Aí perguntou-me se eu andava de parapente. Eu disse que sim e que também me mandava de aviões.
Perguntou-me se o fazia com paraquedas (risadas da sala...) e depois, com ar sério, perguntou se eu tinha medo quando o fazia.
E eu fui 100% honesto: disse-lhe que tinha. E ele insistiu. Perguntou-me se tinha SEMPRE medo quando fazia essas coisas. E eu disse que sim.

E ele pergunta: "Então, porque o fazes?" E eu, como era impossivel sair uma resposta que não fosse 100% honesta, disse que era para lidar com o ultrapassar o medo (to overcome fear).
Aí parou, pensou mais um bocado e “baptizou-me” de ABHAIA (sanscrito) ou JIGME (tibetano) que quer dizer "fearless", o que não tem medo.
E disse-me que era por ele também ter medo :)

Foi um momento de alegria pura.

Pedi-lhe para me escrever o nome em tibetano e disse-lhe que era para o
tatuar. Aí, ele mostrou-se interessado e, apesar de o ter escrito em escrita
normal e em caligrafia tibetana, disse-me, sem eu pedir nada, que, se era
para tatuar, que me ia arranjar a palavra em jpg para ficar como deve ser.

E, depois, entre os novos "sanghas" surgiu ali um bonito fenómeno de empatia
que quebrou as barreiras dualistas de não se conhecer o “outro”.

No dia seguinte, na Conferência que Jigme Khyentse Rinpoche deu, tive a oportunidade de lhe oferecer a dita t-shirt do Parapente :)

Agradeço os méritos que me possibilitaram a benesse deste momento, e a todos os seres vivos que contribuiram para este dia ter chegado: os meus pais que me receberam nesta vida, a minha familia que, do modo que sabiam, sempre me "empurraram" na direcção certa, a minha mulher e companheira de caminho que, intuitivamente, me salvou a vida, os meus amigos espirituais e os meus "inimigos", enfim, todos os seres que contribuiram para isto se ter concretizado ainda a tempo de poder utilizar esta vida humana preciosa para a minha libertação e para poder ajudar todos os seres sensíveis a atingi-la também.

"For as long as space abides,
And living beings endure,
For that long, may I too remain,
To dispel the sufferings of the world."


Pedro (Jigme)