terça-feira, 5 de maio de 2009
A Idade do Ouro
Como se sabe, os gregos possuíam, com muitos outros povos da Antiguidade, a tradição de que em tempos remotos tinham os homens vivido num estado de perfeita inocência e numa felicidade só comparável à dos deuses; tratavam-se todos como irmãos, alimentavam-se de frutos das árvores. Desconheciam as disputas e a guerra; havia entre eles e a natureza uma completa comunhão, a tal ponto que nem mesmo distinguiam entre si próprios e o mundo que os rodeava; e poderiam ter prosseguido nesta existência beatífica se não tivesse dado uma corrupção dos costumes, se da Idade do Ouro se não tivesse passado para a Idade de Ferro, a actual, em que todas as aberrações se tornaram normais na humanidade.
- Agostinho da Silva, A Comédia Latina
Por que é que se deu uma corrupção dos costumes? Será que é possível regressar à Idade do Ouro, ou o ferro que nós cremos ver afinal é ouro lamacento?
- Agostinho da Silva, A Comédia Latina
Por que é que se deu uma corrupção dos costumes? Será que é possível regressar à Idade do Ouro, ou o ferro que nós cremos ver afinal é ouro lamacento?
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13 comentários:
Encontrei este vídeo, é interessante e tem a ver:
http://www.youtube.com/watch?v=uqKD7Bp0qsE&feature=related
Algures no tempo deixámos de ser nómadas e criámos grupos, preferências e vícios no relacionamento humano.
Entretanto, já no séc. XX, deixámos de falar uns com os outros e passámos a falar com a televisão (lembro-me de ir para a escola em adolescente e falava-se nos intervalos sobre a televisão). Agora, falamos com a internet (e contra mim falo).
Vivi uns tempos no Alentejo, terra onde nasci, e lá as pessoas são mais humanas, porque provavelmente se relacionam mais e mais profundamente e porque estão mais ligadas à terra. Sabem o que custa trabalhá-la.
Nós, por nosso lado, estamos cada vez mais desligados da realidade e ligados ao artificial, dentro de aviões, autocarros que parecem naves espaciais, Colombos e companhias.
Isso desumaniza-nos e torna-nos mais frios e menos compassivos e empáticos. Também nos torna mais narcisistas e virados para os nossos pequenos mundos.
Quando saímos deles, saímos para outra prisão - o trabalho - em que pela sede de dinheiro nos aturamos uns aos outros e nos fartamos uns dos outros e com consciência disso.
Comemos e bebemos que nem uns abades selvaticamente revelando os nossos impulsos mais sanguinários e sobrepondo a vontade a todas as coisas.
Julgamo-nos omnipotentes por tudo o que conseguimos, à custa da miséria que está longe e cada vez mais perto, numa civilização podre que sobrevive à custa de barricadas em sítios como o Iraque, o Afeganistão e Palestina.
Até que algum dia alguém se passe completamente dos carretos e rebente com isto tudo ou até que aprendamos a ser humanos de novo.
Agora escolha.
Vivemos sob uma grande teia intelectual e desligados do corpo: das sensações, inclusivamente da dor.
Tudo o que outrora era real, agora aparece-nos como fantasia que lemos ou vemos apaticamente nos jornais e televisões.
Por tudo isso desaparece o respeito por nós e pelo outro, pelo que é real.
Masturbamos a mente no cinema com estrelas suadas e musculadas aos tiros em filmes repletos de explosões e efeitos especiais - puro entretenimento.
Queremos luxo: casas paradisíacas, carros rápidos, roupas fashion, comidas raras e requintadas:
Vivemos sem pensar e a "aberração" já parece normal e o que é normal parece aberração.
Rimo-nos dos outros sem sabermos os seus percursos, pensamentos ou problemas, pressupondo que conhecemos tudo isso.
E por isso há uma sombra sobre o mundo. Cabe-nos eliminá-la com um sopro como se fosse vento.
Como? Começando por rejeitar tudo o que aqui foi criticado, se a crítica foi correcta. É um princípio.
Serpenteamos de livro em livro, um após outro, 10000 páginas por dia, e no fim tudo são palavras esborratadas no nosso pensamento. Como um professor um dia me disse - "falta-lhe reflexão".
Ao contrário, as televisões repetem as mesmas notícias e as mesmas caras dia após dia e a silly season agora é o ano inteiro.
Os políticos, em vez de discutirem políticas, falam em papas maizena e lutam para o soundbyte.
Como os Tara Perdida dizem algures numa música "chegou a altura de parar para pensar no futuro". Parar para pensar.
Não podemos estar tristes, não podemos estar revoltados, não podemos estar sem fazer nada que logo nos apontam o dedo - estás tão triste, estás tão parado o que se passa?
Não posso? Temos de estar sempre ocupados? Por que razão é melhor estar a ver televisão ou a ler ou a ouvir música do que a apreciar o silêncio e a paz de ninguém nos chatear?
Por que temos de andar sempre a sorrir fingindo que está tudo bem? Dizem que rir faz bem e eu até já fiz terapia do riso mas.... será essa a terapia de que precisamos? Injecta-se mais uns triliões nos bancos, volta tudo ao mesmo e está tudo bem? (para no futuro acontecer o mesmo)
O sistema está "falido" e toda a gente sabe. Para onde vamos? Alguém sabe?
Podemos ir para o Despertar, se agirmos de acordo com a tomada de consciência que o Nuno está a ter. Concordo com tudo e fico muito contente por o ver a falar assim. Há apenas que não ficar demasiado amargo e saber encontrar a Grande Perfeição que continua a haver no fundo de tudo e todos, mesmo nestes tempos de grande e acelerada decadência. Há que amar e ter compaixão por todos os seres que multiplicam assim os seus sofrimentos. E ver a ilusão que subjaz a tudo isto, o que significa que tudo pode a cada momento ser diferente, desde que a consciência desperte.
Li algures que as cidades são grandes prisões. E é bem verdade.
Saímos de casa para o autocarro que nos transporta para o trabalho. Vamos almoçar ao mesmo "refeitório" todos os dias, passeamos nos mesmos sítios, sempre fechados na cidade e com os mesmos horários - é a rotina.
E aceitamo-la passivamente, somos como que teleguiados, zombies... a ideia de liberdade e de libertação de todas as m*rdas que nos envolvem e de nós próprios (e contra mim falo) foi completamente esquecida e reside agora algures nas profundezas de algo que já não se sabe bem o que é: se é uma mente, se é um receptáculo de emoções alheias e fingidas, ou de sofrimento.
Um dia acordamos e revoltamo-nos.
Espero que o Paulo tenha razão e que a sua luta dê muitos e bons frutos à humanidade. A mim dá, embora não compreenda todas as palavras. Embora por vezes me dê "sobressaltos" é uma voz mais sábia que em momentos traz muita paz. Bem haja.
http://www.youtube.com/watch?v=BmxjQoWbDoM&feature=channel_page
Quero partilhar este vídeo, que pode ter algumas mentiras ou teorias da conspiração, mas que no fim tem palavras certeiras sobre a televisão.
Bem haja você, Nuno! Bem hajam todos os seres!
Será o essencial da Idade do Ouro uma era ou antes um estado intemporal do ser, porventura menos encoberto na "Idade do Ouro", mas susceptível de ser desencoberto em todas as eras, mesmo nesta de Ferro em que vivemos? O ouro é um símbolo tradicional da imortalidade. Não é essa a nossa verdadeira natureza? Agora não basta saber isto intelectualmente, é preciso experienciá-lo a cada instante. Não
é imortal, sempre presente, o haver aqui e agora consciência, em mim e em si, leitor? Uma consciência anterior ao conceito de haver alguém consciente de algo? Uma consciência que não tem forma e não se pode situar, aqui ou ali, e que por isso de nada é separada? Eis o Ouro, sem idade!
Escuto e gosto das vossas conversas... Obrigada a ambos. Agradeço também a K. Dorge.
Imortal é aquele que vence o medo e luta - como Cristo, Sócrates, os guerrilheiros e muitos outros que desconheço.
Somos mais dignos que os deuses porque somos mortais. E quando um mortal vence o medo da morte, torna-se maior do que os deuses:
Mata Deus e os deuses - "põe uma pedra na boca de Deus", que fica mudo perante tamanha coragem e virtude humana.
Daniel Dennett escreve no início de um livro de cujo nome não me recordo que o ser humano tem a capacidade de entregar a sua própria vida por um ideal.
Isso é sublime - não há nada mais sublime. Uma pessoa que está em constante luta, como Che Guevara.
Um dia não tive consciência e um dia deixarei de ter. A minha vida é pouco importante.
Há consciência antes de haver consciência de si, segundo dizem os psicólogos. Mas isso é pouco importante, não é uma seta que importe tirar.
Espero que cheguemos à idade sem "idades" e sem "ouros", sem sonhos megalómanos, uma idade perpétua em que ninguém "dê a vida por sonhos de psicopatas".
Um mundo justo, fraterno e solidário. Sim, sonho com isso. Será que me limitarei a sonhar, como Pessoa? (não querendo comparar-me a tamanho génio que nos fala ao ouvido, como se estivesse dentro de nós, como se fosse nós, podendo levar-nos à loucura, como outros escritores, como Nietzsche)
"Uma consciência que não tem forma e não se pode situar, aqui ou ali, e que por isso de nada é separada" - não tenho estofo para comentar isso.
Digo apenas que o que nos separa é uns serem leitores, outros escritores, uns professores, outros alunos, uns músicos, outros engenheiros, outros desempregados, outros homens, outros mulheres, uns animais, outros pedras, uns nuvens, outros céu...... Mas todos existimos.
A nós, que nos une? Sermos humanos (categoria natural: pensar, sentir, sofrer..............)
Morte à imortalidade. Que morram todos os nossos sonhos megalómanos. Que morra o mundo de um homem só.
Convertam-se!: só pela educação conseguiremos vencer, porque pela violência oprimiremos os outros que por sua vez se revoltarão num ciclo sem fim.
A quem de direito devia ensinar a compaixar para abrir os corações fechados, para que juntos choremos as nossas misérias interiores e os nossos "pecados" contra a humanidade, contra os nossos irmãos.
Só assim vejo saída.
Onde está "compaixar" leia-se "compaixão".
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