quinta-feira, 7 de maio de 2009
Eco
Estou na escuridão
Envolvem-me eternos nadas
No passeio há folhas caídas
Os meus passos silenciosos
Ecoam no infinito e chegam
Aos ouvidos de Deus
Que chora a Sua criação
E ignorante se pergunta:
Meu Deus o que fui fazer?
Mas não obtém resposta
E isolado de tudo na mais
Imaculada solidão
Apercebe-se do nada
Que está para lá de todas
As coisas
Que ecoam ruidosamente
No mais íntimo de Si
E então chora
E envergonha-Se
E sente culpa
Uma culpa tão grande
Que O leva a fechar-Se
Em Si
Num acto suicida
Quando mais nada pode
Que não sofrer a fatalidade
Do Fado que, todo-poderoso
O guia pela rua cinzenta
Onde os brilhos na sujidade são
Deslumbres, meros deslumbres
Que logo passam e que até
O entristecem como a alegria
O entristece ao um dia
Ter vindo a saber
Do seu ser como eco etéreo
Que efémero ecoa no infinito
Longe, como um espelho
Que se quebra no espaço negro
Em alturas imaginadas libertas
De todos os astros que sabe serem
Fogos de artifício que antecedem
A morte que criou, enfeitiçado
Pela Sua própria ignorância impelido
Por uma vontade louca
Que o cegou enquanto se distraía
Na fruição da luz que acabou
Por obscurecê-Lo e transformá-Lo
Em eco no infinito.
João Darque, Pautas para uma obra imaginária, Livreira Nocturna, 1999.
Estou na escuridão
Envolvem-me eternos nadas
No passeio há folhas caídas
Os meus passos silenciosos
Ecoam no infinito e chegam
Aos ouvidos de Deus
Que chora a Sua criação
E ignorante se pergunta:
Meu Deus o que fui fazer?
Mas não obtém resposta
E isolado de tudo na mais
Imaculada solidão
Apercebe-se do nada
Que está para lá de todas
As coisas
Que ecoam ruidosamente
No mais íntimo de Si
E então chora
E envergonha-Se
E sente culpa
Uma culpa tão grande
Que O leva a fechar-Se
Em Si
Num acto suicida
Quando mais nada pode
Que não sofrer a fatalidade
Do Fado que, todo-poderoso
O guia pela rua cinzenta
Onde os brilhos na sujidade são
Deslumbres, meros deslumbres
Que logo passam e que até
O entristecem como a alegria
O entristece ao um dia
Ter vindo a saber
Do seu ser como eco etéreo
Que efémero ecoa no infinito
Longe, como um espelho
Que se quebra no espaço negro
Em alturas imaginadas libertas
De todos os astros que sabe serem
Fogos de artifício que antecedem
A morte que criou, enfeitiçado
Pela Sua própria ignorância impelido
Por uma vontade louca
Que o cegou enquanto se distraía
Na fruição da luz que acabou
Por obscurecê-Lo e transformá-Lo
Em eco no infinito.
João Darque, Pautas para uma obra imaginária, Livreira Nocturna, 1999.
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7 comentários:
Abençoados todos os que sofrem porque deles é o Reino de Deus. Um dia terão a sua justiça. Um dia todos estaremos libertos ainda que antes passemos pelo julgamento em que seremos julgados pelo mal que fizemos. Pode bastar que te arrependas, podes ter que sofrer mais. Dá provas em vida da tua transformação e liberta-te lentamente de tudo o que te prende à obscuridade até que Cristo viva em ti. Mas não o digas de ânimo leve, porque blasfemas - é bom que tenhas consciência disso, o que é o bastante. Mata-te e aceita em ti um homem novo. Sê o homem novo. Não sejas Eu, sê tu mesmo. Encontra-te. "Despe-te de tudo e todos" e segue a tua viagem. Guarda como pedras preciosas as preciosidades que aprendeste e nunca te esqueças delas. Sê humilde. Sê compassivo. Ama tudo e todos. Sente raiva - contra as injustiças -, mas não sintas ódio. Essa raiva é revolta que te levará a agir. Toma posições em favor do outro. Ajuda os pobres e os oprimidos; sê compassivo com os loucos, porque louco és. Abraça-os, luta por eles: sê judeu, cristão e muçulmano de uma assentada!, porque sabes que para lá disso está um ser humano. Não mistures religião e política e insurge-te contra os que o fazem. Insurge-te contra todos os que usam a religião para espalhar o ódio e os seus ideais próprios e não a compassividade, o amor. A religião "serve" para unir e não para dividir. Essa é uma das pedras de toque: se divide é irreligioso. Não que seja profano, mas simplesmente não é sagrado.
Sabes, a política cria fronteiras enquanto a religião as esbate. E quando a política esbate fronteiras, esbate-as em nome de interesses ou fins, como lhes queiras chamar - económicos, sociais, nacionais, estratégicos...-, ao passo que a religião as esbate em si e por si, como um fim em si, em nome do amor: tal é a Paixão de Cristo, São Francisco, Madre Teresa e João Paulo II, que sofreu até ao fim como um Homem. Tal é a Paixão de Jeremias. Tal é a Paixão de Moisés. Tal é a Paixão de todos aqueles que sofrem compassivamente. A Religião é essa Paixão. A Religião é essa Martirização: o outro em lugar do eu. Por isso todo o ser humano religioso é um herói, e creio que todo o ser humano é, ainda que nas profundezas mais recônditas mas luminosas do seu ser, religioso. Os tiranos choram arrependidos no Céu o mal que fizeram ao mundo. O Diabo verga-se perante tamanhas palavras. Que nos tenhamos uns aos outros porque Deus somos Nós.
Raio de Sol na ombreira da porta,
na trave da cadeira, vindo da gelosia,
peço-te para amanhã voltares
mais arqueado pela esfericidade da Terra,
um raio não decididamente recto
cravado no meu tórax côncavo,
mas no meu coração curvo como um globo.
Fiama Hasse Pais Brandão
Com o coração falo
Com o coração escrevo
Com o coração calo
Os mundos que elevo.
Didáctica poéticaEscreve poesia
Mas sempre certinha
Pois é maresia
O acerto da linha.
Escreve poesia
Mas sempre ritmada
Pois é vazia
A poesia do nada.
Escreve poesia
Mas toma cuidado
Pois é correria
A poesia do Fado.
Escreve poesia
Mas no respirar recta
Pois é ousia
A alma do poeta.
Daniel Cosme, Filhos de Apolo, Publicações Alva, 1991.
de nao o que me espera, tirei à sorte a minha guerra, encontrei sombras onde havia luzes de orvalho ao meio-dia
de nao saber,´já pareço Baal
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