terça-feira, 5 de maio de 2009
Lançamento de Tratados e Sermões de Mestre Eckhart, "o homem de quem Deus nada escondeu"
Estarei na próxima 5ª feira, pelas 19 h, na Esplanada Central da Feira do Livro de Lisboa, para apresentar a primeira tradução portuguesa de Tratados e Sermões, de Mestre Eckhart, selecção de textos feita por mim, por Jorge Telles de Menezes e pelo Frei José Luís de Almeida Monteiro, tradução de Jorge Telles de Menezes (Lisboa, Paulinas, 2009).
Deixo-vos o prefácio (sem as notas de rodapé) que escrevi para esta obra cuja aparição - por fim! - em português considero o acontecimento editorial do ano. São obras como esta que vão justificando a cultura e cabe interrogar porque só agora se edita em Portugal um autor que é referência maior de toda a cultura europeia e hoje até planetária. Sem nos permeabilizarmos a estas vozes da experiência abissal do ser e da vida dificilmente sairemos da "apagada e vil tristeza".
Mestre Eckhart ou “o homem de quem Deus nada escondeu”
É com funda emoção que prefaciamos esta primeira publicação em Portugal de uma antologia de tratados e sermões de Mestre Eckhart (1260 ? – 1328), o teólogo, filósofo e pregador dominicano cuja profundidade e subtileza espiritual e “mística” o tornam cada vez mais uma referência fundamental para todos os que, independentemente da sua cultura ou religião, procuram ir ao fundo das possibilidades da vida, da consciência e da existência, sem se contentarem com a mera especulação intelectual sobre o seu sentido. Com efeito, em Eckhart dá-se a rara e feliz conciliação de uma sólida erudição universitária com a radicalidade da experiência espiritual que rompe e inova as categorias do pensamento da sua época e da sua tradição, fazendo dele um “Leben Meister” (“Mestre de vida” e não só de doutrina) que influiu decisivamente em gerações de discípulos e tem inspirado um significativo e crescente número de pensadores, psicólogos, escritores, poetas, pintores e músicos contemporâneos.
Consagrado pela posteridade como “o homem de quem Deus nada escondeu”, Eckhart assume de facto a sua visão e discurso como “uma verdade não encoberta, que veio directamente do coração de Deus”. “Voz” vinda “da eternidade”, mas não compreendida senão nos limites do tempo, como o disse Tauler, seu discípulo , acabou por ser objecto de um processo e de uma Bula papal que condenou vinte e oito afirmações suas como heréticas ou “mal sonantes, ousadas e suspeitas de heresia” . Todavia, se Eckhart ousa transgredir o plano teológico-filosófico e doutrinal para falar em nome de uma experiência imediata de Deus, esta fuga à norma da sua própria tradição institucionalizada pode noutro sentido ser vista como fidelidade a uma experiência cristã mais profunda, em que a resposta à questão tradicional – Cur Deus homo; Porque se fez Deus homem ? – é a de que Deus se faz homem para que cada homem “seja engendrado como o próprio Deus”, sendo “a abissalidade [Abgründigkeit] do ser divino e da natureza divina” inteiramente gerada “no seu Filho unigénito” para que “nós próprios sejamos o mesmo Filho unigénito”. Cristo, o Filho único de Deus, não é assim somente considerado uma pessoa individual e distinta, designando sobretudo a suprema possibilidade, histórica e trans-histórica, comum a todo o ser humano, cumprida no acesso de cada um ao estado de unção espiritual que esse nome designa.
Se a pregação eckhartiana tem dois temas capitais - o nascimento de Deus na alma e o trespasse do espírito na Divindade - , é neste último que se torna mais sensível a sua inovação e radicalidade. Bernard McGinn usa a expressão “mística do fundo” para designar a nova forma de experiência espiritual iniciada ou redescoberta por Eckhart, seus contemporâneos e seguidores , sintetizada na afirmação: “o fundo de Deus e o fundo da alma são um fundo” . Grunt (forma antiga do moderno termo germânico Grund) abre assim um “campo de palavra místico”, constituindo uma “metáfora explosiva” (Blumenberg), enquanto “expressa de modo concreto o que não pode ser capturado em conceitos” e “trespassa anteriores categorias da linguagem mística para criar novos modos de apresentar um encontro directo com Deus” . Dos vários sentidos que Grunt assume no alemão medieval, destaca-se em Eckhart o do “mais íntimo” e “oculto” de um ser, “a sua essência” , referindo-se quer ao “mais íntimo da alma”, quer às “profundezas ocultas de Deus”, para designar a radical unicidade desse seu fundo único. Univocamente comum a Deus e à alma, o fundo transcende-os enquanto “Deus” e “alma” surgem como algo distinto em si mesmo e na sua relação mútua. Com efeito, metáfora do infinito e do absoluto livre de todo o limite e referência, o fundo é “sem fundo” e “um único um” que transcende o Deus pensado pelo homem “enquanto causa eficiente do universo” e diferenciado nas pessoas trinitárias: como diz, a origem do ser divino e de todas as coisas reside nesse “fundo simples” e “imóvel” ou “deserto silencioso onde jamais a distinção lançou um olhar, nem Pai, nem Filho, nem Espírito Santo” . Sendo a “indistinção” e a ausência de características a “característica distintiva de Deus” como fundo, este é “nu, livre, vazio, puro”. Daí a relação da metáfora do fundo com as do “deserto”, do “mar” e do “abismo” [Abgrund] , imagens de espaços vastos, uniformes e desobstruídos, sem limites nem entidades. Referindo também o incondicionado que há na alma, esse “algo incriado” que nela reside, o fundo é a mais poderosa metáfora que Eckhart usa – a par de outras, como a “pequena centelha” e a “cidadela” – para indicar a presença em cada ser do absoluto e infinito, isso que transcende e identifica o humano e o divino: “Aqui o fundo de Deus é o meu fundo e o meu fundo o fundo de Deus” .
A questão central de toda a pregação eckhartiana é assim a de reassumir esse incondicionado fundo primordial de toda a experiência, que antecede e transcende não só a constituição do sujeito e do mundo, mas ainda a do próprio Deus enquanto tal, não só na sua determinação trinitária . Um dos sermões mais elucidativos disso é o “Beati pauperes spiritu…”, donde se colhe o título da presente obra, embora nele o autor não recorra explicitamente à metáfora do fundo. Propondo o despojamento radical do sujeito, pelo qual nada queira, saiba ou tenha, libertando-se de tudo e do próprio Deus, enquanto sujeito com atributos pensado pelo homem, Eckhart mostra como isso conduz à reintegração no estado primordial, pré-existencial, onde ele próprio, antes de se determinar como ente humano, vivia numa imanência absoluta, “livre de Deus e de todas as coisas” . É apenas pela sua livre saída desse estado e consequente recepção do seu “ser criado” que obtém “um Deus”, “pois antes que fossem as criaturas, Deus não era «Deus»”, mas apenas “o que era”, ou seja, nem isto nem aquilo, pura indeterminação não entificada nem qualificada. É somente pelo surgimento das “criaturas” nessa e a partir dessa indeterminação primordial, num processo solidário da auto-determinação existencial do próprio sujeito Eckhart, que “Deus” vem a ser, já não “em si mesmo”, mas “nas criaturas”, como um ente divino. É este “Deus”, criado, como tudo o mais, pela auto-criação do próprio sujeito enquanto ente mundano, que não lhe pode bastar, pois ele procede de algo anterior ao próprio “Deus” entificado e divinizado, isso que Eckhart designa como “o abismo eterno do ser divino” [den ewigen Abgrund göttlichen Seins]. “Por isso rogamos a Deus que de “Deus” nos livremos”, como diz, fruindo eternamente a “verdade” “aí onde os anjos mais elevados, a mosca e a alma são iguais”, ou seja, nessa manência primordial, sempre presente, transcendente do mundo da diferenciação criada, onde o sujeito residia quando “não era”, o que, embora sem o nomear, a não ser como “abismo eterno”, é decerto uma das indicações mais sugestivas do Grund ou fundo sem fundo . É a saída ou exílio ex-istencial desse “abismo”, mediante o escorrer ou emanar [Ausfliessen] diferenciador, que a ruptura ou trespasse [Durchbrechen] reintegrador vem anular, libertando o sujeito de si e assim de Deus e de todas as coisas e restaurando-o nesse eterno imo de não diferenciação onde não é “nem “Deus” [Gott] nem criatura”, instância noutros lugares designada como “Divindade” [Gottheit]. Esta é aquela “verdade” que só pode compreender quem se lhe assimila, a “verdade não encoberta, que veio directamente do coração de Deus” .
Cremos residir neste aprofundamento extremo da experiência espiritual , livre de todo o condicionamento e idolatria conceptual e figurativa, a razão pela qual Eckhart também se vem crescentemente a impor como incontornável mediador do diálogo entre o Ocidente cristão e as tradições orientais . Diálogo autêntico, num duplo sentido: após Schopenhauer haver assumido em Buda, Eckhart e nele próprio um mesmo ensinamento fundamental (precipitadamente, cremos) , são autores orientais, sobretudo budistas Zen, como Daisetz Taitaro Suzuki, que encontram em Eckhart, para além das fronteiras terminológicas, uma experiência comum à sua e fecunda para uma “cultura mundial” . A Escola de Kyoto tem particularmente promovido, muito em torno de Eckhart, um fecundo diálogo com a filosofia e mística ocidentais, desde Keiji Nishitani, que estudou o pregador alemão em Deus e o nada absoluto , até Shizuteru Ueda, que sobre ele se doutorou na Alemanha com uma tese sobre os seus dois temas capitais: o nascimento de Deus na alma e o trespasse na Divindade.
Aqui se apresentam ao leitor português alguns textos fundamentais dum autor que muito pode contribuir para dois dos maiores e urgentes desafios da nossa época: o florescimento da nossa consciência espiritual e o diálogo inter-cultural e inter-religioso, com Eckhart aberto - como entre nós com Agostinho da Silva - a agnósticos e ateus, pois uma Divindade equivalente ao “Nada” [Nichts] pode igualmente experimentar-se no silêncio da união místico-contemplativa, no abster-se de afirmar ou negar a sua existência ou no puro negá-la.
Concluímos expressando a nossa gratidão às edições Paulinas, pelo tão bom acolhimento desta proposta, bem como a gratificação de havermos levado a cabo este projecto com o nosso amigo Jorge Telles de Menezes, que a ele dedicou todo o seu imenso talento e experiência de tradutor da língua alemã, poética e filosófica, tal como os seus grandes dons de poeta e escritor.
Bem hajam!
Deixo-vos o prefácio (sem as notas de rodapé) que escrevi para esta obra cuja aparição - por fim! - em português considero o acontecimento editorial do ano. São obras como esta que vão justificando a cultura e cabe interrogar porque só agora se edita em Portugal um autor que é referência maior de toda a cultura europeia e hoje até planetária. Sem nos permeabilizarmos a estas vozes da experiência abissal do ser e da vida dificilmente sairemos da "apagada e vil tristeza".
Mestre Eckhart ou “o homem de quem Deus nada escondeu”
É com funda emoção que prefaciamos esta primeira publicação em Portugal de uma antologia de tratados e sermões de Mestre Eckhart (1260 ? – 1328), o teólogo, filósofo e pregador dominicano cuja profundidade e subtileza espiritual e “mística” o tornam cada vez mais uma referência fundamental para todos os que, independentemente da sua cultura ou religião, procuram ir ao fundo das possibilidades da vida, da consciência e da existência, sem se contentarem com a mera especulação intelectual sobre o seu sentido. Com efeito, em Eckhart dá-se a rara e feliz conciliação de uma sólida erudição universitária com a radicalidade da experiência espiritual que rompe e inova as categorias do pensamento da sua época e da sua tradição, fazendo dele um “Leben Meister” (“Mestre de vida” e não só de doutrina) que influiu decisivamente em gerações de discípulos e tem inspirado um significativo e crescente número de pensadores, psicólogos, escritores, poetas, pintores e músicos contemporâneos.
Consagrado pela posteridade como “o homem de quem Deus nada escondeu”, Eckhart assume de facto a sua visão e discurso como “uma verdade não encoberta, que veio directamente do coração de Deus”. “Voz” vinda “da eternidade”, mas não compreendida senão nos limites do tempo, como o disse Tauler, seu discípulo , acabou por ser objecto de um processo e de uma Bula papal que condenou vinte e oito afirmações suas como heréticas ou “mal sonantes, ousadas e suspeitas de heresia” . Todavia, se Eckhart ousa transgredir o plano teológico-filosófico e doutrinal para falar em nome de uma experiência imediata de Deus, esta fuga à norma da sua própria tradição institucionalizada pode noutro sentido ser vista como fidelidade a uma experiência cristã mais profunda, em que a resposta à questão tradicional – Cur Deus homo; Porque se fez Deus homem ? – é a de que Deus se faz homem para que cada homem “seja engendrado como o próprio Deus”, sendo “a abissalidade [Abgründigkeit] do ser divino e da natureza divina” inteiramente gerada “no seu Filho unigénito” para que “nós próprios sejamos o mesmo Filho unigénito”. Cristo, o Filho único de Deus, não é assim somente considerado uma pessoa individual e distinta, designando sobretudo a suprema possibilidade, histórica e trans-histórica, comum a todo o ser humano, cumprida no acesso de cada um ao estado de unção espiritual que esse nome designa.
Se a pregação eckhartiana tem dois temas capitais - o nascimento de Deus na alma e o trespasse do espírito na Divindade - , é neste último que se torna mais sensível a sua inovação e radicalidade. Bernard McGinn usa a expressão “mística do fundo” para designar a nova forma de experiência espiritual iniciada ou redescoberta por Eckhart, seus contemporâneos e seguidores , sintetizada na afirmação: “o fundo de Deus e o fundo da alma são um fundo” . Grunt (forma antiga do moderno termo germânico Grund) abre assim um “campo de palavra místico”, constituindo uma “metáfora explosiva” (Blumenberg), enquanto “expressa de modo concreto o que não pode ser capturado em conceitos” e “trespassa anteriores categorias da linguagem mística para criar novos modos de apresentar um encontro directo com Deus” . Dos vários sentidos que Grunt assume no alemão medieval, destaca-se em Eckhart o do “mais íntimo” e “oculto” de um ser, “a sua essência” , referindo-se quer ao “mais íntimo da alma”, quer às “profundezas ocultas de Deus”, para designar a radical unicidade desse seu fundo único. Univocamente comum a Deus e à alma, o fundo transcende-os enquanto “Deus” e “alma” surgem como algo distinto em si mesmo e na sua relação mútua. Com efeito, metáfora do infinito e do absoluto livre de todo o limite e referência, o fundo é “sem fundo” e “um único um” que transcende o Deus pensado pelo homem “enquanto causa eficiente do universo” e diferenciado nas pessoas trinitárias: como diz, a origem do ser divino e de todas as coisas reside nesse “fundo simples” e “imóvel” ou “deserto silencioso onde jamais a distinção lançou um olhar, nem Pai, nem Filho, nem Espírito Santo” . Sendo a “indistinção” e a ausência de características a “característica distintiva de Deus” como fundo, este é “nu, livre, vazio, puro”. Daí a relação da metáfora do fundo com as do “deserto”, do “mar” e do “abismo” [Abgrund] , imagens de espaços vastos, uniformes e desobstruídos, sem limites nem entidades. Referindo também o incondicionado que há na alma, esse “algo incriado” que nela reside, o fundo é a mais poderosa metáfora que Eckhart usa – a par de outras, como a “pequena centelha” e a “cidadela” – para indicar a presença em cada ser do absoluto e infinito, isso que transcende e identifica o humano e o divino: “Aqui o fundo de Deus é o meu fundo e o meu fundo o fundo de Deus” .
A questão central de toda a pregação eckhartiana é assim a de reassumir esse incondicionado fundo primordial de toda a experiência, que antecede e transcende não só a constituição do sujeito e do mundo, mas ainda a do próprio Deus enquanto tal, não só na sua determinação trinitária . Um dos sermões mais elucidativos disso é o “Beati pauperes spiritu…”, donde se colhe o título da presente obra, embora nele o autor não recorra explicitamente à metáfora do fundo. Propondo o despojamento radical do sujeito, pelo qual nada queira, saiba ou tenha, libertando-se de tudo e do próprio Deus, enquanto sujeito com atributos pensado pelo homem, Eckhart mostra como isso conduz à reintegração no estado primordial, pré-existencial, onde ele próprio, antes de se determinar como ente humano, vivia numa imanência absoluta, “livre de Deus e de todas as coisas” . É apenas pela sua livre saída desse estado e consequente recepção do seu “ser criado” que obtém “um Deus”, “pois antes que fossem as criaturas, Deus não era «Deus»”, mas apenas “o que era”, ou seja, nem isto nem aquilo, pura indeterminação não entificada nem qualificada. É somente pelo surgimento das “criaturas” nessa e a partir dessa indeterminação primordial, num processo solidário da auto-determinação existencial do próprio sujeito Eckhart, que “Deus” vem a ser, já não “em si mesmo”, mas “nas criaturas”, como um ente divino. É este “Deus”, criado, como tudo o mais, pela auto-criação do próprio sujeito enquanto ente mundano, que não lhe pode bastar, pois ele procede de algo anterior ao próprio “Deus” entificado e divinizado, isso que Eckhart designa como “o abismo eterno do ser divino” [den ewigen Abgrund göttlichen Seins]. “Por isso rogamos a Deus que de “Deus” nos livremos”, como diz, fruindo eternamente a “verdade” “aí onde os anjos mais elevados, a mosca e a alma são iguais”, ou seja, nessa manência primordial, sempre presente, transcendente do mundo da diferenciação criada, onde o sujeito residia quando “não era”, o que, embora sem o nomear, a não ser como “abismo eterno”, é decerto uma das indicações mais sugestivas do Grund ou fundo sem fundo . É a saída ou exílio ex-istencial desse “abismo”, mediante o escorrer ou emanar [Ausfliessen] diferenciador, que a ruptura ou trespasse [Durchbrechen] reintegrador vem anular, libertando o sujeito de si e assim de Deus e de todas as coisas e restaurando-o nesse eterno imo de não diferenciação onde não é “nem “Deus” [Gott] nem criatura”, instância noutros lugares designada como “Divindade” [Gottheit]. Esta é aquela “verdade” que só pode compreender quem se lhe assimila, a “verdade não encoberta, que veio directamente do coração de Deus” .
Cremos residir neste aprofundamento extremo da experiência espiritual , livre de todo o condicionamento e idolatria conceptual e figurativa, a razão pela qual Eckhart também se vem crescentemente a impor como incontornável mediador do diálogo entre o Ocidente cristão e as tradições orientais . Diálogo autêntico, num duplo sentido: após Schopenhauer haver assumido em Buda, Eckhart e nele próprio um mesmo ensinamento fundamental (precipitadamente, cremos) , são autores orientais, sobretudo budistas Zen, como Daisetz Taitaro Suzuki, que encontram em Eckhart, para além das fronteiras terminológicas, uma experiência comum à sua e fecunda para uma “cultura mundial” . A Escola de Kyoto tem particularmente promovido, muito em torno de Eckhart, um fecundo diálogo com a filosofia e mística ocidentais, desde Keiji Nishitani, que estudou o pregador alemão em Deus e o nada absoluto , até Shizuteru Ueda, que sobre ele se doutorou na Alemanha com uma tese sobre os seus dois temas capitais: o nascimento de Deus na alma e o trespasse na Divindade.
Aqui se apresentam ao leitor português alguns textos fundamentais dum autor que muito pode contribuir para dois dos maiores e urgentes desafios da nossa época: o florescimento da nossa consciência espiritual e o diálogo inter-cultural e inter-religioso, com Eckhart aberto - como entre nós com Agostinho da Silva - a agnósticos e ateus, pois uma Divindade equivalente ao “Nada” [Nichts] pode igualmente experimentar-se no silêncio da união místico-contemplativa, no abster-se de afirmar ou negar a sua existência ou no puro negá-la.
Concluímos expressando a nossa gratidão às edições Paulinas, pelo tão bom acolhimento desta proposta, bem como a gratificação de havermos levado a cabo este projecto com o nosso amigo Jorge Telles de Menezes, que a ele dedicou todo o seu imenso talento e experiência de tradutor da língua alemã, poética e filosófica, tal como os seus grandes dons de poeta e escritor.
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9 comentários:
Um budista Zen japonês disse que o Eckhart era o Buda do Ocidente.
Muito se gosta de hereges e heterodoxos neste blogue...
Como lerão e compreenderão Eckhart os homens que se identificam com os seus limites!?
Maria da Conceição, há quanto tempo não te confessas? O que é que tens contra o Mestre Eckhart?
Paulo,
Sem dúvida uma edição que permita conhecer em Portugal a obra de Mestre Eckhart é de uma importância imensa. Grata por esse acontecimento. Felicito-o por estar entre os que estimam e divulgam essa pouco conhecida e tão grande obra e pensamento místico. Em tradução primeira para a Língua portuguesa.
P.S. Só mesmo este lançamento para acordar do seu "torpor" a Maria da Conceição de quem já tinha Saudades.
P.S. Grata também pelo muito interessante prefácio.
Um abraço, Paulo.
Confesso que a mim também me acordou de algum "torpor", este prefácio... e este post.
Uma vez mais agradeço.
Cara Saudades, grato também pelas suas palavras. Então o que lhe aconteceu? Desertou da Serpente, juntamente com vários outros?
Caro Paulo,
Não se pode verdadeiramente desertar do "deserto". Sempre estamos nele. De regresso a Ele.
Um abraço de Saudades.
Maria da Conceição,
Os heterodoxos pensam por si, e não têm medo de expor seus insights à covardia dos burocratas do espírito...
Simples assim.
Abraços,
Marcelo.
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