O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 2 de maio de 2009

Poder de Deus

Nos mosteiros, sinagogas e mesquitas
refugiam-se os débeis, temerosos do
Inferno. Mas aquele que experimentou
o poder de Deus, não cultiva no seu
coração as funestas sementes do medo
e da súplica.

-Omar Khayyam, Rubaiyat

Que poder de Deus é este de que nos fala Khayyam?

8 comentários:

Anónimo disse...

A liberdade do eu desagregado. A nossa própria futilidade e pouca importância.

Pedro Nuno disse...

Para um budista seria fácil dizer que é a sabedoria da vacuidade e a compaixão, a natureza de Buda... Mas será isso?

Paulo Borges disse...

O que diz Omar Khayyam tanto pode ser certeiro como extremamente falacioso, por ser uma generalização. Quantos não estão nos mosteiros, sinagogas e mesquitas precisamente por experimentarem o "poder de Deus", seja lá o que for, e se haverem libertado ou se quererem libertar do medo e da súplica? E quantos não os evitam devido à recusa desse poder, de que buscam fugir refugiando-se na vida mundana? Que sabemos nós das motivações íntimas de cada homem?

Anónimo disse...

Paulo, é isso: os nossos actos dependem da motivação que está por detrás. Eu posso ir a um local de culto, mas se a minha motivação for centrada no eu reforço mais a dualidade entre o mim e o outro e cultivo no coração medos e súplicas que encobrem o Encoberto. Todavia posso ir ao mesmo local de culto, mas com uma motivação não egocêntrica, não centrada na minha libertação mas sim na do outro (amigos e inimigos!), e desta forma estou a praticar um acto que purificará todos os véus que obscurecem o «poder de Deus», deixando de haver eu, Deus e outro.
Creio que este local de culto tanto pode ser um mosteiro, uma sinagoga ou uma mesquita como pode ser uma caverna, uma árvore ou até mesmo um campo de concentração (recordo-me de Viktor Frankl).
A sua última questão leva-me a perguntar o seginte: o que cada homem sabe das suas motivações íntimas? Creio que viver em ignorância é viver sem o conhecimento de algo que é inato em nós, creio, Pedro Nuno, que de-terminar esse algo inefável e infinito com conceitos é bastante redutor e fácil não sabendo de facto o que é Isso, creio que quem é ignorante desconhece as motivações que estão por detrás dos seus actos sendo este como um animal que é sacrificado pelo homem para deleite dos deuses, creio que esta ignorância leva-nos a ser permanentemente impermanentes, creio que todas estas crenças são aprisionam a Liberdade que há em todos nós.

Paulo Borges disse...

Inteiramente de acordo.

platero disse...

li poesia de Khayam há mais de 20 anos. Saber que inteligência tão rica e polifacetada já existia há mais de mil anos explicou-me um pouco a possibilidade de Pessoa.
Que o conhecia tão bem quanto o admirava.
Os seus (de Pessoa)Raboyat, que li por acaso há menos tempo, provam isso.
Obrigado pela revelação

platero disse...

ler
Khayyam e
Rubaiyat

Laura disse...

Pois eu acho que o Poder de Deus é o Amor.