segunda-feira, 25 de maio de 2009
"A minha palavra é como as estrelas, que não empalidecem"
Carta do Chefe Seattle (1855)
Em 1855, o Chefe Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos, Francis Pierce, depois de o Governo ter dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aquela nação índia.
Faz mais de um século e meio. Mas a força das palavras do ancião têm uma espantosa actualidade.
"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é simpático da sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Iremos pensar na sua oferta, pois sabemos também que, se o não fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz, com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. A minha palavra é como as estrelas, que não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, ou o calor da terra? Tal ideia é-nos estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como poderá então compra-no-los? Nós decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e o zumbido dos insectos são sagrados na tradição e na crença do meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de vida. Para ele, um pedaço de terra é igual a outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-la, vai-se embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai, sem remorsos. Rouba a terra dos seus filhos, e nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. A sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. As suas cidades são um tormento para os olhos do homem de pele vermelha, mas talvez seja assim por ser este um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar das folhas na Primavera ou o zunir das asas dos insectos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é essa em que o homem não pode ouvir a voz do corvo nocturno ou o falar dos sapos no brejo, à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho de água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e o aroma dos pinheiros. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores e homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisontes apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisonte, mais do que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afectar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam o corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não serão muitos. Mais algumas horas, ou até mesmo alguns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança, como o nosso.
Uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a descobrir um dia: o nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez ele julgue que pode ser dono d’Ele, da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há-de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejectos. Depois de abatido o último bisonte e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem a gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então as florestas e as pradarias ? Terão acabado. E as águias? Ter-se-ão ido embora. Restará dizer adeus à andorinha da torre, e à caça; o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência.
Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, que visões de futuro oferece para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são-nos desconhecidos. E por serem, desconhecidos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda, será apenas para garantir as reservas que nos prometeste. Lá, talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra duma nuvem a pairar sobre as pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e margens, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amámos. Protege-a, como nós a protegíamos. Nunca esqueças como era a terra quando dela tomaste posse. E com toda a tua força, o teu poder e todo o teu coração, conserva-a para os teus filhos, e ama-a como Deus a todos nos ama. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."
Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/seattle1.htm
(ortografia e sintaxe adaptadas)
Original inglês: http://www.context.org/ICLIB/IC03/Seattle.htm
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7 comentários:
Aii a Ver(melh)a Vida!... ;)
Volta, volta.
boa reaparição
refeito?
abraço
Grato, meu bom amigo, pela releitura desta carta.
Em saudade da tua voz, aqui te envio um abraço irmão, e um aceno de amizade à Ana e Platero.
Até breve :)
Nas cidades do homem branco não se vêem as estrelas.
Namastê, meu querido amigo Luís! :)
Eu adoro esta Carta, logo no 1º ano em que comecei a leccionar apresentei-a como doc. inserido nos valores éticos.Posteriormente, descobri a música e até a tinha no outro blog.
Por todas as razões e mais algumas, é uma apelo ao humanismo, à natureza, à vida...à dança de todos estes elementos que são fragmentos cósmicos sagrados!
(ó Félix, quem é q te mostrou a Carta, quem foi? ;)
Bjs luz e paz
Caro Lapdrey,
Se não fosse Sereia*, seria Índia.
Há coisas que não sabemos explicar e, no entanto, sabemos que existe uma explicação.
Não conhecia esta carta, este manifesto. Foi o que valeu no meu dia. Obrigada pela partilha*
Mais actual do que nunca... pois como disse o próprio Chefe Seattle, há "palavras que são como as estrelas, que não empalidecem". Mas a verdade é que há estrelas que empalidecem. Outras explodem. Outras implodem. Mas não estas. Não são realmente estrelas. São a matéria/energia de que se fazem as estrelas.
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