O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 27 de maio de 2009

Nacionalismo e Espelho de Narciso

"O nacionalismo é a arte de consolar a massa por não ser senão uma massa e de lhe apresentar o espelho de Narciso: o nosso futuro quebrará esse espelho"

- Albert Caraco, Bréviaire du Chaos, Lausanne, L'Âge d'Homme, 1999, p.88.

35 comentários:

maltez disse...

E há ainda o regionalismo, que é um nacionalismo local, sob a mesma premissa: isto é nosso. Naturalmente, o que é estranho é selvaticamente excluído.

maltez disse...

Todos os ismos excluem.

O Abominável das Neves disse...

Viva o nacionalismo e o narcisismo e todos os ismos que excluem e os espelhos e a selva e a palavra EGO!
E a demarcação de território e todas as tabuletas a dizer: DÁ DE FROSQUES!

Hoje acordei com os pés de fora!

maltez disse...

parabéns lol

maltez disse...

Quero deixar uma música de amor à Serpente:

http://www.youtube.com/watch?v=wy97lOwvECs

Louis Armstrong, All the time in the world.

maltez disse...

a cultura europeia é uma cultura decadente e em decadência e desligada da terra e do primordial e das emoções mais simples e básicas, o amor pela terra.

maltez disse...

é uma cultura artificial, dominada pela electricidade.

maltez disse...

é uma cultura egoísta.

maltez disse...

é nitidamente uma cultura nacionalista, a Europa como nação, imperialista, a Europa que se quer afirmar como império e tomar as rédeas do mundo.

maltez disse...

é a cultura do trabalho sem sentido e da luta pelo dinheiro, em que impera a inimizade e a tramóia.

maltez disse...

é a cultura da competitividade, da raiva e do uso dos nossos vizinhos e do usufruto dos seus bens e trabalho.

maltez disse...

é uma cultura oportunista e de oportunistas e parasitária, como a cultura americana.

maltez disse...

é essa a grande conquista do homem branco: não a ciência, não a filosofia, não as artes, mas o deboche, tal é a natureza do homem branco.

maltez disse...

os poucos que escapam, escapam pela e só pela abertura às outras culturas.

maltez disse...

a cultura ocidental é a cultura do lento suicídio.

Anónimo disse...

uma cultura desligada do espírito, desligada do outro, virada para si mesma, virando-se para os outros pelo e só pelo interesse necessitário. É uma cultura fechada sobre si mesma e por isso condenada à implosão.

maltez disse...

Virar-nos-emos para as outras culturas apenas para salvar o nosso couro?, mais uma vez por interesse?

maltez disse...

Era já essa a crítica de Cristo aos que estavam no templo, é já essa a renúncia de Buda, é já esse o fim último dos Hindus, é já esse o ajoelhar e o canto místico e profundo dos Islâmicos. A renúncia ao mundo material, económico, o grito pelo coqueiro de luz, a lágrima pelo coqueiro de luz, a afirmação de que há algo mais, de que somos algo mais, de que algo mais é possível.

maltez disse...

Mas o quê, senão a união de todos os povos, a afirmação de uma única civilização, a humanidade, sob a égide do espanto e entusiasmo pela diversidade de culturas?

maltez disse...

Agora, que cultura cada um tem e aceita, é consigo. Nao podes deixar de aprender o que aprendeste, tem-lo na memória, mas nada nem ninguém te pode obrigar a adorar o país em que nasceste, mais do que os outros adoras, ainda que imaginariamente. Essa é a natureza de tudo o que li de Pessoa: imaginariamente tudo.

maltez disse...

Mas o monólogo não é sobre ele, mas apenas uma crítica à cultura de superfluidade, a cultura eléctrica, mas deselectrizante, em que me insiro. Uma cultura que assim é de todo em todo aqui e agora.

maltez disse...

Em que consiste a sua grandiosidade, senão em ecos do passado ou em críticas recensionistas do presente?

maltez disse...

Por isso clamo o retorno ao primitivo, mas com internet lol.

Outros houveram e outrs ohaverão, depois de esta cultura fechada implodir.

Da minha parte, não quero mais desta cultura, desisto dela.

Sempre fui um desistente desta cultura e sempre serei um desistente desta cultura.

Vivendo nela, sou fora desta cultura, porque sou um místico, desde que me lembro de ser.

Por isso me emocionei com o texto do Sousa Tavares e com o texto dos índios.

Sim, também eu me imaginei pele vermelha, também eu, desconhecendo a cultura mexicana, me imaginei nas tribos mexicanas, também eu me imaginei nas Índias.

Abominável: bem podes crer, porque não papo mais desta cultura raivosa que me entristece todos mas todos os dias.

Já Russell dizia que um dos males do homem (terá dito branco?) é a competitividade.

É que sabes, não fui fadado para ela.

Música a ouvir neste momento solene: Kothbiro - que conheci no fantástico produto ocidental "O fiel jardineiro".

Boa noite a todos.

A Abominável sem dó disse...

O verbo haver, no sentido de “existir”, é impessoal, ou seja, não tem sujeito e deve aparecer sempre na terceira pessoa do singular. Portanto, a forma correta é outros Houve, sendo "outros" o complemento (objeto) do verbo, não seu sujeito. A flexão indevida de Haver é muito frequente no Brasil, mas nunca ocorre quando o verbo se encontra no presente, só em outros tempos. Com efeito, ninguém diria Hão dificuldades, mas dizem, equivocadamente, Haviam ou Haverão dificuldades.

Atenção: se se tratar de locução verbal, o verbo auxiliar será afectado pela mesma impessoalidade, ou seja, deverá sempre ser flexionado no singular: Deve Haver mais candidatos, Poderá Haver outras exigências.

maltez disse...

Note-se que o haver desta merda não é um haver bonito mas, sim, com ideias. Há uma diferença subtil. Bjs linda.

maltez disse...

E desculpa-me dizer "merda" mas é o que mereces pela tua frieza... de resto tão característica do homem branco. A sua história poderia chamar-se "Uma ode ao meu umbigo", não existe sujeito só massa; devias ter lido o Singer com mais atenção. Desenraíza-te para te enraízares. Bjs, enraivecida.

maltez disse...

Mas a tua frieza cura-se: basta que deixes de tratar todos por igual (discriminação positiva) e que tenhas em conta o contexto (pragmatismo). Uma equação simples. O passo 2 é deixares de ser sectária. O passo 3 - o mais difícil - é o vero respeito pelo princípio da igualdade. Tudo isto numa ontologia da vida e da morte. Naturalmente, tudo isto exige uma purga espiritual prévia e contínua, que se deverá manter actualizada pós PREC: um conselho: não te fies nos cristãos de hoje, porque não são veros cristãos - deixaram um amigo abandonado na rua numa cidade estranha.

Gostaste deste? olololololololololo eu gostei, falta-me só completar o processo de purga espiritual.

gato disse...

Maltez, tu não dormes? Dormir também é uma característica da cultura ocidental que repudias?

maltez disse...

A purga, como dizia, é um processo de reflexão ética - a única verdadeira ética, somada à ética na acção.

Sabes como fazes? Usas a memória e analisas todos os comportamentos de que tenhas memória. No fundo, a tua relação com os outros, com todo e cada um.

A certa altura, sentirás culpa. Não te angusties com a lama; esta extinguir-se-á à medida que te fores pondo em prática os princípios inatos então já desocultos em ti.

Se não os conseguires racionalizar, não te apoquentes: sente-os, pois talvez pudesses saber que os sentimentos e as sensações são o fundamento de toda a ética, acrescentando-lhe o tempo a possibilidade de reflexão.

Talvez pudesses encarar o momento reflexivo como aquele em que vez tudo de ti em um, como que num pacote, como quando Krishna se desembrulha na miríade de seres que é; assim também tu descobrirás que és múltipla, embora encontres uma linha de comportamento, para lá dos humores, dos quais te deverás despejar (mas cuidado, não te constipes!).

pedro disse...

O Paulo está a traduzir o «Bréviaire du Chaos» para português?

maltez disse...

Para que os despejes, terás de envolvê-los numa lágrima (não te preocupes porque pode ser mental) e chorá-la para sempre, transformando assim a tua vida num hino à alegria, tua através dos outros: repara que os outros não são os teus, pois agora os teus são o homem do café, a empregada de limpeza, um estranho qualquer num sítio qualquer. Serás, então, verdadeiramente, uma louca de amor e efectivamente feliz.

Gato: já dormi.

maltez disse...

Repara que as linhas acima meramente descrevem a analítica do processo, embora este seja contínuo, automático e inato - de facto como uma lágrima e como a alegria de quem dela se liberta. Naturalmente, à medida que fores sendo mais sagaz, espontaneamente identificarás em que fase do processo te encontras.

maltez disse...

Se isto te parecer muito complicado, não te preocupes: dança. Beijinhos.

abo mina ve L disse...

Nunca te cansas gato maltez?
De qualquer forma, agradeço todos os elogios. Se pudesse oferecer-te um presente, seria, com toda a certeza, uma esfregona!

maltez disse...

hehehehehe :)