O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 29 de maio de 2009

E os silêncios...


Na mesma janela
desde a que chovia
deixo que acarinhe
a pura luz do sol
a pele
e os cantinhos de terra
que ainda ficam
no sentido prendidos
as pálpebras da mãe
que tinha medo
e a gentes tão diversas
que passam sob o sol,
que nunca voltam
a pairar no meu olhar
com as harmonias diluídas
nos passos liberados,
no trânsito das luzes
a sonhar.
Iolanda R. Aldrei

6 comentários:

maltez disse...

Belo e misterioso.

maltez disse...

Faz lembrar o Nick Drake.

Anónimo disse...

Os silêncio são de ouro

maltez disse...

Fui baptizado nas cinzasEsperava pelo baptismo, havendo começado a catequese há dias, quando aconteceu a Quarta-Feira de Cinzas. Nesse dia passei na igreja, ao fim do dia, e o padre colocava cinzas na cabeça das pessoas. Incitaram-me "Vai" e eu disse "Não posso porque não sou baptizado"; disseram-me que podia, fui e o padre colocou-me as cinzas na cabeça, dizendo "Arrepende-te e acredita no Evangelho".

Deu a missa e, terminando-a, disse: "Hoje, quando regressarem a vossas casas, ouçam o silêncio". Escurecia, cheguei a casa, jantei e, já noite escura, acendi uma vela, abri e comecei a ler o Evangelho, escutando um silêncio sem nome que assolava toda a vila. Fui baptizado nas cinzas.

Anónimo disse...

Belo baptismo!

Iolanda Aldrei disse...

Um saúdo, meus amigos. A luz de quem passa e de quem fica, a cinza de quem foi. Sim, a cinza é um baptizo que fala também do caminho e o trânsito.
As místicas que pairam entre os silêncios.