O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 30 de maio de 2009

Almada Negreiros: Reconhecimento à Loucura

Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar

José de Almada Negreiros
Poemas
Assírio & Alvim

31 comentários:

maltez disse...

loucura que me atormentas
e logo me tornas terno
em jardins fora do mundo
onde acariciamos o Sol
brincamos com as gotas da chuva
que brilham em carrosséis perdidos
e tu, louca,
cambaleias rindo um fio
de não sei quê

maltez disse...

o teu sorriso é puro
e tudo o que dizes reluz,
alegra-nos para sempre
saber-te sempre criança
por acarinhar

maltez disse...

não sabes
como és preciosa
e a preciosidade
é algo que não te interessa
porque queres apenas ver e tocar
e cheirar e sentir e brincar
e sorrir com tudo
aquilo que os outros não vêem
a ti te espanta,
admirada buscas
chamas por mim e dizes e apontas
a minha ignorância
que só se pode exprimir
em ternura

maltez disse...

caminhas
sozinha de um lado para o outro
por entre as gentes loucas
acenas
a nossa ignorância, mistério
que desconheces
porque nos não conheces
que conheces?
e no entanto trazes algo em ti
escondes algo em ti
sem que o escondas
a jóia que todos os loucos desejam
possuir

maltez disse...

para os loucos caminhas
entre mundos, suas aflições
mas tudo é um em ti
e quem te conhece
ama-te.

Anónimo disse...

Texto excelente. Mais para praticar do que para conhecer.

Anónimo disse...

Um blogue que faria as delícias de qualquer especialista de saúde mental.

Anónimo disse...

Principalmente porque o diagnóstico não é simples. Os traços de simples perversidade sexual, megalomania e delírio religioso primário não esgotam as possibilidades da análise.

doente mental disse...

Por isso é que cá venho tanta vez.

Ipilola disse...

Os médicos também se tratam. Psiquiatras é mais difícil, mas uns choques eléctricos já têm dado bom resultado.

maltez disse...

Anónimo das 12:21 e doente mental: saúdo-vos.

Anónimo das 12:26: não sabes com quem falas e não sabes do que falas.

Escrevo um texto repleto de amor por uma pessoa de todo em todo amável, e a resposta que obtenho é esta... sinceramente...

maltez disse...

Mas sabes que mais? Estou em paz, os loucos - que são todos, mas todos os que conheci nas minhas viagens entre mundos, pessoas extremamente sensíveis - compreendem-me e amam-me, num amor recíproco. Eis a diferença entre a praxis o saber dos livros. Cumprimentos.

maltez disse...

Uma última nota: se soubesses mais da vida, saberias que a verdadeira e mais sofisticada religiosidade é precisamente a religiosidade primária. És mais velho que eu, mas tens tanto que aprender... espero que este texto te seja útil.

Sem remorsos, raivas ou rancores, mas pleno de amor na esperança que cresças,

Um grande abraço.

Diana disse...

Mas tu conheces com quem estás a falar, para saberes que é mais velho do que tu?... Como é que sabes que é mais velho e que é um ele?

maltez disse...

lolololol lindo

parecem cogumelos.

Digo apenas o que já disse: escrevi um texto releto de amor por alguém que conheço e que se enquadra naquiloa a que a normalidade chama "doente mental" e a resposta que obtenho é uma resposta enraivecida e com ataques pessoais. Realmente...

cota disse...

Ó maltez, não subestimes o saber dos livros. No tempo de uma única vida não conhecerás toda a praxis a não ser também através da leitura de outros. (Vê-se que és novinho)

E o amor platónico... Oh... (imaginem o actor com toda a coluna vertebral torcida para trás, quase, quase paralela ao céu, de mão na testa em ameaça de continência e insistindo)Oh... O amor platónico... Grandioso e eterno porque sem praxis...

Aterrando.
Diana: perguntas mui pertinentes.

maltez disse...

cota:

mas isso é evidente.
e ninguém está a falar de amor platónico, mas de amor pelos doentes mentais, com quem de facto convivi, e por uma doente mental em particular, porventura de entre todos a mais amada por todos e a aparentemente mais amável. Repara que mesmo os mais agressivos se tornam ternos: provavelmente nem todos, mas falo do que vivi, não do que li no Banquete - que de resto dei - ou noutro livro.

maltez disse...

cota:

repara que a leitura de outros se faz também através da leitura de outros de facto - pessoas, pedras, livros...

Não concordas?

maltez disse...

Aprende-se o que é a ética quando se está entre a espada e a parede.

Não concordas?

maltez disse...

O Deus da Filosofia a priori não é o Deus da Filosofia Experimental e logo não é o Deus das pessoas comuns.

Não concordas?

maltez disse...

Definição de Saudade:

Saudade é o que sinto pelo meu cão.

Concordas?

Bombardeiro disse...

Amor pelos doentes mentais é, em perspectiva global, amor ao próximo?

14:24 - Concordo para além disso.
14:25 - Quando se está entre a espada e a parede, a ética transforma-se em póética.
14:27 - Não sei o que é Deus. Ainda não o aprendi.

14:27 (em permanência de tempo)Não tenho cão.
Saudade é não ser.

maltez disse...

em permnência de tempo lolololol

amor aos doentes mentais é amor aos doentes mentais. Se quiseres podes estendê-lo ao próximo, se te parecer bem.

Anónimo disse...

Terapia grupal: espero que consigam bom sucesso...

Anónimo disse...

hehehehehe já fiz

Anónimo disse...

'ACTIVIDADES

Se estiver interessado em Cursos de Introdução à Meditação Budista e ao Budismo, bem como sobre outros temas, como Religiões Comparadas, Fernando Pessoa, Mestre Eckhart, Saudade, Quinto Império, contacte: 918113021.'

É melhor etiquetar como saudade, quinto império, relva verde, vacas santas, ovelhas surdas, domínio da vontade, queca apocalíptica, o pinote de buda.

Bunda disse...

LOLADA

Manel Coto disse...

Cada um sabe por onde anda e ao que vai.

Esqueceste-te de "cabra".

Anónimo disse...

Sim, pelos vistos faltava o 'coito' da cabra.

Anónimo disse...

Eu quero, ando necessitada de orientação espiritual

Conselho disse...

Vai ao curso. Estão lá as etiquetas todas. É só escolher.