O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

minha memória de Setembro


os aviões as vidas

o ar quente os prédios

os centros de negócios

incêndios


o cimento e o ferro

ardendo

os gritos das sirenes

o desespero da gente


os cães os gatos

os pardais fugindo

a luz do fogo

eu almoçava só

como se não fosse gente


magma de cimento

equipamentos de escritório e ferro

e alcatifas

lava

de betão e gente


eu almoçava – lembro-me perfeitamente -:

feito por mim

arroz de tomate

e jaquinzinhos fritos


mesmo que os não houvesse

eu ouvia gritos

mas disto estou seguro

como se fosse agora lembro


o voo dos aviões

determinado recto

contra as sinistras torres

do World Trade Center

3 comentários:

afhahqh disse...

Eu estava a comer hamburguer com ovo, a minha mãe na cozinha, chamei-a. Saí à rua, tudo obviamente espantado. De facto pergunta-se se o 11 de Setembro mudou o mundo ou nos mostrou como o mundo já tinha mudado. Certamente mudou o mundo de todos aqueles que com ele sofreram, directa ou indirectamente - todos nós?

Paulo Feitais disse...

Muitos males do mundo teriam termo se cada homem se dedicasse à culinária mais simples, mais próxima do dia e do que ele trouxer (o simples acto diário de ir às compras - fora dos hiper-qualquer coisa que estão por todo o lado - , pode ser uma forma de partilha da humanidade, o perguntar pela frescura do peixe, pelas maçãs mais sinceras, pelas crianças do sr. do talho, pelas férias do pessoal da frutaria, etc.).
Muito do que escapa a estes actos de presença diária só faz inferno e traz maldição (é uma maldição o sermos escravos do tempo e mestres da sofreguidão).
O gosto pela culinária ajuda a temperar o carácter. :)

platero disse...

Paulo

Gostei do comentário poético

- maçãs sinceras
que tomo por:
verídicas, honestas

abraço