O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

CÓSMICA SAUDADE

(Ode pascoaliana)

Eu tenho a poderosa sensação
de já ter sido uma outra criatura
com diferente forma, outra estrutura,
uma outra natureza ou condição.

Terei já sido luz primordial,
porção de Deus, do paraíso expulso
devido acaso a, por um louco impulso,
perder minha inocência original.

Fui pedra, arbusto, fui roseira brava,
água da fonte que refresca e lava,
águia talv4ez, bicho da terra, nada.

Hoje, fazendo parte da manada
que integra a lastimosa humanidade,
de tudo tenho um pouco de saudade!

JOÃO DE CASTRO NUNES

3 comentários:

platero disse...

Bom soneto, sim senhor

não há dúvida que é mestre

Paulo Borges disse...

Comungo desse sentimento, que também encontro num soneto de Antero de Quental.

guvidu disse...

eu ainda sinto que sou tudo isso, daí o nick ser fragmentus por essda acepção de ter em mim um pouco dos reinos mineral, vegetal e animal, sempre soprados a essência divina...

era este o soneto prometido? :)
um sorriso