O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sentir a realidade - uma breve especulação a partir dos primeiros dois trechos

Os símbolos e as interpretações são desnecessários porque temos a realidade - demasiado rica, ou quer a julgues pobre: é o que é.

Ascende à realidade que aparece ante ti. Penetra os seres com a tua visão. Transmuta-te.

Pratica a ascese do olhar, toca nas coisas: tu próprio és fenómeno.

Vai delas para lá delas e perceberás que elas são isso. São o que vês e o abismo que sentes.

Compreende que tudo conflui nesse abismo, que é também abismo da alma.

A alma é também um fenómeno: abençoado fenómeno!, perpassado pelos esgares da consciência.

A consciência é una, universal, comunitária. A minha consciência, propriamente, não existe.

Depressa passará, e cairá na grande malha do Esquecimento. Mas sempre fluirei na grande corrente do Universo.

Apareço e desapareço por entre os meus esgares, teus esgares, como um grito, uma lágrima ou o riso de Deus, palavra que nos confunde.

De onde vimos? Para onde vamos?

Ninguém sabe de onde vem nem para onde vai, embora todos saibam onde estão.

O passado e o futuro são escuros, o presente é luminosidade perpassada por escuridão, como o dia o é.

Porque na verdade o mundo é mistura. Ziliões de átomos e seres em colisão, que se atraem e repelem, que se unem, que choram, gritam e amam.

O mundo é uma grande história de amor, A grande história de amor, um romance, pleno em aventuras e desventuras, e a História é Fortuna.

Tudo isto podemos saber, tudo isto podemos esquecer. Tudo isto podemos embrulhar como quem guarda carinhosamente o maior dos tesouros e, num relance, contemplar - não sem o uso da imaginação, outra palavra que confunde.

Ou podemos simplesmente ser... o dia.

Saúde!

1 comentário:

guvidu disse...

sentir a realidade...é viver um sonho ;)

escreves divinamente!

bj especial em ti