O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 15 de setembro de 2009

"O Oriente e o Ocidente são círculos de giz, que se desenham sob os nossos olhos para troçar da nossa timidez"

- Friedrich Nietzsche

2 comentários:

Anónimo disse...

A "nossa timidez", talvez seja essa mesmo: a de não olhar de frente o Sol ou o ponto inexistente entre círculos, em que Oriente e Ocidente deixem de fazer sentido, por serem o reflexo ilusório do olhar dividido: o tímido olhar de quem separa o mundo, para o compreender e, quiça, para, uma vez mais, ilusoriamente cuidar possui-lo.

Se o olhar for directo, um olhar de "meio-dia", então, já não fará sentido traçarmos círculos imaginários de Oriente e Ocidente, sob a realidade, para que ela seja a Realidade.

Só por "timidez" o homem não vê que o olhar é cego!

Um abraço.

Luiz Pires dos Reys disse...

Talvez esta correlação (e, quiçá, encurralação") entre Oriente e Ocidente seja uma espécie de Vesica Piscis da civilização humana.

Como toda a representação desta figura primeira da Geometria Sagrada, ela pode tanto ser vista com os círculos geminados na vertical, como na horizontal.

No primeiro caso, evidenciará porventura o que entre ocidente e oriente mais se ancora respectivamente nos vários níveis do ser humano, da natureza e do universo, nos seus diversificados "escalonamentos".

O segundo, representação horizontal da mesma figura geométrica, ilustra o desdobrar da unidade primordial na complementaridade indissociável, em tudo presente.

Para ser inteiro, integral, equilibrado, o nosso olhar deve contemplar ambas essas mundivivências e "resolvê-las" numa síntese que, não apenas superiormente, mas circular e omnipresentemente, as transfigure naquilo a que poderia chamar-se "holovivência" mutacional.

Isso será talvez inaugural, (re)fundador duma outra sagração geométrica (re)estrurante da realidade.

A Vesica Piscis, semente do organon através do qual apreendemos o espaço e todo o objecto que nele se nos apresenta, dará (quem sabe) lugar a um outro paradigma de consciência que libertando, enfim, tempo e espaço da sua mútua correlação, encurralação e dependência limitadora, os restitua à sua primordial potencialidade (na sua então transcendida consistência) de colunas da construção do mundo no espírito do Super-homem ou do Além-homem, de que falou Nietzsche.