O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Crer do Querer



Quisera morrer nos teus braços de névoa!
Aí! onde a vinha cresce na veia perdida
e a hora de sonhar é nó, é mó da vindima do mar
Que a água me desse pela cintura, quisera eu!
e que rezasses, dentro da memória do rio parado
Uma missa por mim e por ti, ao céu sereno.


Quisera de horizonte a horizonte cantar,
ao que vem beber nos regatos do céu,
a seiva e o néctar dos pomares do Jardim
A cálida brisa de uma manhã sem janelas
Uma Aurora rasgada em flor futura
Uma Saudade nasce na luz ao Sol devota.


Quisera renascer em flor em um outro não lugar
nascer e morrer, tal como a fina névoa rente às ervas:
se transforma no vapor que sobe ao claro céu
Como fonte onde saciam a sede gazelas,
e os mansos cavalos do vento, o sopro da nuvem
sorvem o hálito da tarde a sonhar vinha e mosto.


Quisera ver florir outonos, como rosas bravas,
na brancura rugosa do fim do verão nos muros,
onde se ouvem, se o silêncio se escutar,
correr as fontes próximas dos jardins
e os veios de água a rolar na ampulheta
do cristalino desenhar da gota.


Nas asas do Silêncio de névoa e luar ornados,
Quisera eu morrer como se estivesse viva.

13 comentários:

Anónimo disse...

...pedalem nas vossas "bicicletas!"... de névoa!
JCN

Anónimo disse...

:)

João de Castro Nunes disse...

Lá volta o "descarado" a servir-se das minhas iniciais! Até onde e quando... isto é tolerável?
JOÃO DE CASTRO NUNES

João de Castro Nunes disse...

Musicalidade à parte, se a Poesia... são metáforas, estamos incontestavelmente perante um notabilíssimo Poema. Quisera... fosse meu!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

Não nos degladiemos, nós os do puro astro/ Afinemos alto, até às estrelas, os nossos violinos/Sejam eles o mais claro rastro/Dos nossos sonhos mais que adamantinos!

Afinai com arte vossos violinos e violencelos:)

fas disse...

Não morras, Maria, escreve mais um pouco, nós precisamos desses versos.

Anónimo disse...

Um beijo irmão, Francisco!
Saudades!

Luiz Pires dos Reys disse...

"Quisera eu morrer como se estivesse viva."

Esta calou fundíssimo!

Valeu-me a" Aurora rasgada em flor futura".

platero disse...

névoa, pedalar, campainhar

como com o apito dos comboios a névoa
sobretudo matinal
amplia o som das campainhas
das bicicletas

é o que falta à beleza do teu rio
- uma bicicleta encostada ao tronco
ulmeiro(?)

Anónimo disse...

Meu querido Platero, o que tu sabes sobre névoas e bicicletas e a ampliação do som das campainhas das bicicletas e dos comboios na neblina das manhãs!:)

Viste "O Carteiro de Pablo Neruda?"

Una metafora!!! e... uma bicicleta frente ao mar! Que imagem!

"Dimena" haveria de gostar!...

Anónimo disse...

...já para não falar da I. a dos pés azuis pequenos...

...Vai na bicicleta, I. a dos pés azuis, leva nos pés as asas de Saudades. Leva luzes de estrelas em vez de pedais e voa campainhas e campanários no cimo dos montes, entre azul e azul, salvando o branco das casas e o rodapé azulíssimo das casas...
Os campos vão doirando a cor da erva, e os cabelos de I. vão entrançando a vide na nota acobreada da sua lisa face e da imensa Saudade que me leva e me escreve, na bicicleta do poeta... Atrás das borboletas que levantam o pólen dos vestidos das flores selvagens... A esteva cobre os campos e a bicicleta buzina, em surdina, na névoa da tarde...

Bucólicas e campinas, no final de tarde...

A Aurora é uma flor a nascer no dia futuro... redonda como um fruto, aqui onde se saúda a Vida, ao som da nascida bicicleta; nascida da força natural do ar do Sol da terra e dos astros "A bicicleta cósmica de Platero", um bom título para uma B.D. ou um futurante meio de transporte, dese o E.T. ...:)

Sorrisos para todos.

P.S. Um beijo especial daqui da Serpente para a terra de "jadis".

Eterna Amizade!
Não ouves o ruído da campainha?

Anónimo disse...

Corrijo: onde se lê "dese", deve ler-se "desde", as outras incorrecções são desatenções que não impedem, creio a compreensão do texto/comentário.

Um abraço e boa semana.

Paulo Borges disse...

Lindíssimo! Ando sempre atrasado nas leituras...

Mil desculpas e Abraços