O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Acordo Ortográfico é "acto colonial"?

O Acordo Ortográfico é um acto colonial do Brasil sobre Portugal com regras que não são recíprocas, afirmou à Lusa o escritor e jornalista Miguel Sousa Tavares, no Brasil para lançar seu "quase-romance" No Teu Deserto.

"O Brasil é o único país que recebeu a língua de fora e que impõe uma revisão da língua ao país matriz, como se os Estados Unidos impusessem um acordo ortográfico à Inglaterra", afirmou Sousa Tavares, criticando o facto de não ter havido uma consulta aos profissionais que trabalham com a língua, como os escritores, jornalistas e professores.

O escritor lembrou que um acordo exige reciprocidade, para afirmar em tom crítico que a reforma da ortografia foi "cozinhada entre académicos que queriam se reunir e viajar". "Não encontro escritores brasileiros que defendam o acordo", aponta.

O escritor e jornalista disse que não pretende mudar a sua forma de escrever e adverte que o Acordo Ortográfico vai "condensar e expurgar" muitos dos detalhes da diversidade linguística. Sousa Tavares duvida que os países africanos de língua portuguesa cumpram o acordo. "Vão começar a rejeitar o português se nós os obrigarmos a seguir estritamente uma gramática que não lhes faz sentido nem ao ouvido, nem na escrita".

"Acho um projecto idiota, e pode ser prejudicial em muitos países. Querem unificar o português em todo o mundo falante de língua portuguesa. Não vai ser em Portugal nem no Brasil porque temos 500 anos de trabalho e a nossa língua efectiva, mas em Angola apenas 10% fala bem português, o resto não fala", argumenta.

Miguel Sousa Tavares é também muito crítico sobre o conceito de lusofonia e a actuação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). "Gastam imenso dinheiro aos contribuintes de Portugal e do Brasil e não é por aí que a lusofonia vai funcionar. Nós nunca faremos uma «Commonwealth» nas relações económicas. Na hora da verdade, o Brasil vai entrar em disputa com Portugal".

Para Sousa Tavares, a única forma de construir laços na lusofonia é a aproximação a partir de afinidades entre os povos, o que vai passar pela língua. "Finalmente o que funcionará é a língua. A lusofonia passa muito pelas relações humanas que são mais importantes, elas é que vão determinar", referiu ao destacar que hoje há "muito mais concorrência do que cooperação" no mundo lusófono.

O jornalista é autor de Equador, um dos maiores sucessos de vendas da literatura portuguesa dos últimos anos e está no Brasil para apresentar seu novo romance e participar na Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro.

/www.rr.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=92&did=71254

5 comentários:

Luiz Pires dos Reys disse...

Para lá de parecer-me que, neste tema do des|acordo ortográfico - tal como na maioria daqueles em que a questão de fundo está, desde início, demasiadamente mal equacionada (por nela se poderem acoitar quer os cães de guarda, quer os predadores, quer os abutres)-, para lá de parecer-me que não há acordo que sobreviva para os propósitos que nos querem vender, fica-me obviamente a certeza de que o acordo serve sobretudo para o que pareceria não ter que servir: moeda de troca em acordos que nada têm de ortográfico, mas talvez tenham muito de prestidigitante, para nos pôr convenientemente estrábicos, tal como acontece fadadamente em tudo quanto a política põe a tonteira choné de Miss Piggy: querer fazer passar por porreiro aquilo que não passa, em próprio, de bestial.

Por outro lado, e apenas em rodapé, fica-me a comichão da pergunta: que diacho é aquilo de um "quase-romance"??

Está a dar-me cá uma destas vontades de atirar-me a um "quase-poema" ou de propor a alguém fazer um "quase-soneto"!!...

Afinal, bem vistas as coisas, o que temos e teremos é um "quase-acordo" ortográfico.
Ou será, antes, um acordo quase-ortográfico?
Ou um quase-acordo quase-ortográfico quase quase quase qualquer outra coisa?

(A ver se não me esquece perguntar isto ao Miguel, quando ele regressar lá de "se reunir e viajar", perdão, quando regressar da Bienal do Livro do Rio de Janeiro...)

Paulo Borges disse...

Há muito de razão no que ele diz e na questão da concorrência primar sobre a cooperação... Este é um assunto sobre o qual cada vez mais me reservo, depois do inicial entusiasmo lusofónico...

Estudo Geral disse...

Pois. Tudo se passa de uma forma meio estranha. Um acordo que está em vigor, mas sobre o qual (quase) não se houve uma palavra dos responsáveis políticos. Opiniões divididas, dúvidas que permanecem. Com certeza que nunca iremos estar todos de acordo sobre a matéria, mas pelo menos que se aborde o assunto de uma forma séria...

Paulo Feitais disse...

Quanto ao autor da crítica, eu tenho um preconceito inamovível: o homem berrou contra os professores e isso não esqueço nem esquecerei. Bestialidade à parte, o fulano às vezes diz algumas coisas acertadas. Neste caso tem razão.
Eu acho que uma língua viva não precisa de ser regulada por decreto, antes pelo uso e pela tradição. E depois, o Português, tal como todas as línguas vivas que tenham 'fermento', fatalmente será útero de outras línguas. Faz pouco sentido domesticar a fala (e especialmente a escrita, pois é dela que trata o acordo ortográfico), entendida como o conjunto de actos linguísticos em que as virtualidades linguísticas são actualizadas.
Abraço!
:)

Anónimo disse...

R,NADA TEMOS DE MODIFICA
A LÍNGUA PORTUGUESA,É DAS MAIS NOBRES
E DIFÍCEIS,É ÚNICA,É NOSSA...
se não gostam,aprendam!

MARIA JOSE FERREIRA