quinta-feira, 30 de abril de 2009
Trans-Pátria - Para uma sabedoria da metamorfose
"Os povos, culturas, civilizações, tal qual os homens, não conseguem começar a realizar-se senão limitando-se. Este é, ao mesmo tempo, o modo como surgem para a vida e caminharão para a morte. Tendendo a fechar-se numa exígua e aniquiladora maneira de ser ou conceber, esquecem que aquela limitação pela qual se tornaram possíveis e atingiram a grandeza é a mesma pela qual morrem, quando deixam de a tomar como processo e a tomam como fim. Isto caracteriza, no entanto, os povos, culturas, civilizações, como os homens singulares: obstinam-se em manter-se por aquilo mesmo que os tornou possíveis, esquecendo ou ignorando que para nós, homens, no seio da arquipotente Natureza e perante a subtil solicitação do incriado, só persiste o que incessantemente se renova. "Não iremos além", clamam os pusilânimes no doloroso seio das metamorfoses. Isto significa que o sentido autêntico de verdade os desertou e, com ele, a potência de ser e subsistir"
- José Marinho, Aforismos sobre o que mais importa, Obras, I, edição de Jorge Croce Rivera, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994, pp.298-299.
Eis um trecho de um verdadeiro filósofo, expoente maior do pensamento português, lusófono e universal e, por isso, escassamente lido e parcamente compreendido, por aqueles mesmos que o lêem.
Que este trecho possa despertar todos os que tomam por definitiva e eterna, e como um fim em si, a forma transitória e contingente de um ser, uma pátria, uma cultura ou uma civilização. Ai de quem não for Proteu, o deus da metamorfose, figura paradigmática do ser universal, como o grande Antero de Quental anunciou!...
- José Marinho, Aforismos sobre o que mais importa, Obras, I, edição de Jorge Croce Rivera, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994, pp.298-299.
Eis um trecho de um verdadeiro filósofo, expoente maior do pensamento português, lusófono e universal e, por isso, escassamente lido e parcamente compreendido, por aqueles mesmos que o lêem.
Que este trecho possa despertar todos os que tomam por definitiva e eterna, e como um fim em si, a forma transitória e contingente de um ser, uma pátria, uma cultura ou uma civilização. Ai de quem não for Proteu, o deus da metamorfose, figura paradigmática do ser universal, como o grande Antero de Quental anunciou!...
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6 comentários:
existe outra constante que não seja a limitação naquilo a que chamamos vida?
libertando-nos dessa limitação, não procuramos ser deus, criando algo novo que não podemos nomear de homem, ser ou vida?
Baal, creio que a única constante nisso a que chamamos vida é a metamorfose de todas as formas no seio do informe e incriado, delas inseparável. Se nos vemos no plano da manifestação, seremos sempre isto ou aquilo, um determinado ser, homem, animal, deus ou demónio, em mutação contínua de uma forma e um mundo para outros. Se nos vemos no plano do incriado, nada disso somos, sem sermos nada. Se nos vemos em ambos os planos, brincaremos alegremente no carnaval da existência, de preferência fazendo, sem pensar nisso, o que for melhor para todos os seres-máscaras aparentes.
'Há, porém uma aporia: porque não há sensação dos próprios sentidos? Por que na ausência de objectos externos, eles não provocam sensações, mesmo tendo em si o fogo, a àgua e os outros elementos dos quais há sensação.
aristóteles, de anima
os sentidos, os elementos, são 'incriados', o todo (uno) é 'incriado'?
Talvez haja sensações dos sentidos, mesmo sem objectos. E até da consciência, sem objecto.
Quanto ao resto, não será tudo incriado, no sentido em que nunca há entidades, com a suposta origem e o suposto fim?
Porque é que ninguém lê José Marinho?
Porque é que alguém lê?
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