quinta-feira, 2 de abril de 2009
Ainda Agostinho da Silva: da explosão do nada em tudo (aperitivo para o Colóquio de amanhã, 3 de Abril, no Anf. I da Fac. de Letras da Univ. de Lisboa
[…]
6. Parece-me, por outro lado, que se não pode construir nenhuma filosofia geral ou metafísica sem admitir, com o velho Espinosa, que se tem de partir da ideia de alguma coisa que é constituinte de tudo, mas da qual se não pode dizer, como ele, que é substância, porquanto excluiríamos o insubstante, nem que é deus, porque excluiríamos tudo a que não chamamos deus, nem sequer que existe fora do pensamento, porque estaríamos excluindo o que não existe; de resto, basta pensar esse alguma coisa como pensável para já excluirmos o que não pensamos.
7. Penso assim que esse alguma coisa é nada, só sendo alguma coisa quando todas as coisas existem e o fazem pensar como A Coisa. Logo que isso se dá, existe o a que chamamos o Universo, como suas imutáveis leis, imutáveis naquele Universo, portanto sob o domínio do que se chama determinismo no mundo material e destino no mundo humano.
8. Creio que esse explodir do Nada em Tudo não se deu de uma vez para sempre no mundo, mas se está dando a cada momento, sendo pura ilusão nossa a ideia de sua continuidade: cada ocultação do determinismo detectada pela ciência, cujo progresso não vejo como ilimitado, como não vejo o da Humanidade — o passo final será o salto do determinismo para a liberdade —, significa a passagem de um mundo a outro (a paleontologia estratigráfica pode não ser o fruto de uma evolução, mas o testemunho dos saltos de um mundo a outro).
9. Cada mundo criado tem leis fixas, e destinos humanos; cada intervalo significa a liberdade de aparecer outro mundo com diferentes relacionamentos legais.
10. Entrarei agora em linha de conta que aquilo a que chamo mundo é, na realidade, a ideia que eu tenho do mundo: outro ser completamente diferente teria dele um conceito completamente diferente.
11. Portanto, para que surja um mundo diferente do actual, basta que eu mude, que me insira naquele momento em que o alguma coisa se recolhe ao nada, o que só pode ser preparado e propiciado por um comportamento dentro do mundo que existe, mas o mais diferente possível dos comportamentos normais, o que é o conceito fonte das várias asceses de tantas culturas e o conceito fonte daquilo que nos Evangelhos cristãos vem designado por metanóia ou, calculo, o samadhi de Oriente.
12. A responsabilidade do mundo, tal qual ele é, está, por conseguinte, em mim e não nos outros — pessoas ou estruturas — e em mim, se o momento é certo, se estou eu certo, se procedo certo (tal como os alquimistas o julgavam para a limitada operação de transmutar matéria, se não para a mais vasta de transmutar a vida), reside o poder de modificar o mundo, de o fazer nascer outro.
13. Deixando de ter vontade própria — caso contrário não se atingiria o nada que pode ser tudo —, só posso contribuir para que surja um mundo que agrade aos outros, isto é, àqueles que mostram real impulso de não serem o que são, impulso real e válido dentro do que eu próprio penso estar certo — porquanto, até o último momento, é no universo que existe que estou agindo, a todos parecendo o novo que surgir como a consequência lógica das circunstâncias do anterior, o que ainda pode dar a vantagem de se poder conservar anonimato próprio”
– “Até o primeiro quartel do século XX…” [Fevereiro de 1976], in Textos e Ensaios Filosóficos II, pp.306-307.
6. Parece-me, por outro lado, que se não pode construir nenhuma filosofia geral ou metafísica sem admitir, com o velho Espinosa, que se tem de partir da ideia de alguma coisa que é constituinte de tudo, mas da qual se não pode dizer, como ele, que é substância, porquanto excluiríamos o insubstante, nem que é deus, porque excluiríamos tudo a que não chamamos deus, nem sequer que existe fora do pensamento, porque estaríamos excluindo o que não existe; de resto, basta pensar esse alguma coisa como pensável para já excluirmos o que não pensamos.
7. Penso assim que esse alguma coisa é nada, só sendo alguma coisa quando todas as coisas existem e o fazem pensar como A Coisa. Logo que isso se dá, existe o a que chamamos o Universo, como suas imutáveis leis, imutáveis naquele Universo, portanto sob o domínio do que se chama determinismo no mundo material e destino no mundo humano.
8. Creio que esse explodir do Nada em Tudo não se deu de uma vez para sempre no mundo, mas se está dando a cada momento, sendo pura ilusão nossa a ideia de sua continuidade: cada ocultação do determinismo detectada pela ciência, cujo progresso não vejo como ilimitado, como não vejo o da Humanidade — o passo final será o salto do determinismo para a liberdade —, significa a passagem de um mundo a outro (a paleontologia estratigráfica pode não ser o fruto de uma evolução, mas o testemunho dos saltos de um mundo a outro).
9. Cada mundo criado tem leis fixas, e destinos humanos; cada intervalo significa a liberdade de aparecer outro mundo com diferentes relacionamentos legais.
10. Entrarei agora em linha de conta que aquilo a que chamo mundo é, na realidade, a ideia que eu tenho do mundo: outro ser completamente diferente teria dele um conceito completamente diferente.
11. Portanto, para que surja um mundo diferente do actual, basta que eu mude, que me insira naquele momento em que o alguma coisa se recolhe ao nada, o que só pode ser preparado e propiciado por um comportamento dentro do mundo que existe, mas o mais diferente possível dos comportamentos normais, o que é o conceito fonte das várias asceses de tantas culturas e o conceito fonte daquilo que nos Evangelhos cristãos vem designado por metanóia ou, calculo, o samadhi de Oriente.
12. A responsabilidade do mundo, tal qual ele é, está, por conseguinte, em mim e não nos outros — pessoas ou estruturas — e em mim, se o momento é certo, se estou eu certo, se procedo certo (tal como os alquimistas o julgavam para a limitada operação de transmutar matéria, se não para a mais vasta de transmutar a vida), reside o poder de modificar o mundo, de o fazer nascer outro.
13. Deixando de ter vontade própria — caso contrário não se atingiria o nada que pode ser tudo —, só posso contribuir para que surja um mundo que agrade aos outros, isto é, àqueles que mostram real impulso de não serem o que são, impulso real e válido dentro do que eu próprio penso estar certo — porquanto, até o último momento, é no universo que existe que estou agindo, a todos parecendo o novo que surgir como a consequência lógica das circunstâncias do anterior, o que ainda pode dar a vantagem de se poder conservar anonimato próprio”
– “Até o primeiro quartel do século XX…” [Fevereiro de 1976], in Textos e Ensaios Filosóficos II, pp.306-307.
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9 comentários:
Moral da história: Desaparece e deixa que tudo em verdade seja!
Apoiado.
Alguém me explica este texto? Ou é preciso ir ao colóquio?
eu vou... também quero que me expliquem este texto!
Irei ao colóquio, se vocês me garantirem a presença da Madonna com aquele belíssimo traje que está na Nova Águia ...
Alguém confirma?
Hei Amigo, estou muito interessado no Espírito Santo... quero saber o que ela, a Madonna, tem a dizer!
O Renato anda mesmo com muito bom gosto... deve ser das cores e dos cheiros da Primavera!
Estão contentes, ó parvalhões, por estarem presos na vossa existência!? Acham que é a Madonna que vos salva de serem condenados à morte, com a desvantagem de não saberem quando é executada a sentença!?
A Madonna é a Vida, a inconsciência.
Belo e profundo texto. Demasiado profundo para ter um comentário ao seu nível, excepto um ou outro arremedo.
eh pá, venha lá a sentença! A miúda é boa todos os dias!
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