Quanta mais alma
Por mais que a alma ande no amplo informe,
A ti, seu lar anterior, do fundo
Da emoção regressou, ó Cristo, e dorme
Nos braços cujo amor é o fim do mundo.
Fernando Pessoa, 1929
Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".
"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"
- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente
Saúde, Irmãos ! É a Hora !
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14 comentários:
Muito interessantes o epitáfio e o comentário! Sem tempo para mais, pergunto apenas se isto não se pode aplicar à própria "vida" dos "vivos" que julgamos ser, sem esperar pela "morte" que julgamos haver.
Fico contente pela referência ao profundo texto do meu amigo turco-alemão Cem Komurcu.
Saudações!
Caro Professor,
julgo que através da disciplina, meditação e sabedoria é possível morrer e renascer, para viver não a vida dos "vivos" mas sim a vida dos "mortos".
Saúde do túmulo:)
Queria agradecer este texto por razões que são mais ou menos óbvias para quem me vai lendo aqui e ali no blog, no corpo impermanente e insubstancial deste blog. No entanto, não posso deixar de particularizar duas ou três referências que são muito importantes para quem, sem escolher, acaba por pensar a morte, os mortos, a saber, o "amplo informe", o "lar anterior", "Cristo" e a linha que, invisível, liga as cidades da melancolia: Lisboa e Istambul.
As primeiras ideias são fundas e além do mais belas. A ideia de "lar antigo" permite rasgar os véus das palavras e dar a ver um útero inicial de onde nunca se sai, onde só em aparência se saiu, o lar onde e apenas podemos estar em casa; nos outros estaremos abrigados, protegidos de algumas coisas, mas não são a morada, o destino e a origem que sempre coincidem. E só podem coincidir no "lar anterior". Esse lar, por exemplo, penso que está estampado no rosto e no corpo das pinturas de Waterhouse. E, assim, depois deste texto poderei dizer, as figuras de Waterhouse estão em trânsito para o "lar antigo" e seguem unigidas, como Cristo, para o seu útero absoluto e único. E por isso, túmulos são moradas, ou são como as garrafas por onde, Celan, diz que os poemas vão, e seguem a caminho.
E, para não me alongar mais dizer só, que entre estas razões para agradecer o seu texto, ainda encontro mais uma que me é muito especial: o seu texto fez-me lembrar a obra de Orham Pamuk, "Istambul", que é uma longa e detalhada reflexão sobre as razões da melancolia da cidade: as ruínas, os cemitérios, os barcos a vapor, a neblina do Bósforo...
O autor diz assim: " Em todo o decurso da minha vida, o sentimento da ruína do Império Otomano e da tristeza pela miséria dos escombros que cobriam a cidade representaram os elementos característicos de Istambul. Passei a vida a lutar contra esta tristeza, ou então - como acontece com todos os habitantes de Istambul -, a tentar apropriar-me dela." pp. 14-15
Com efeito, Istambul é um "lar antigo" em todos os sentidos, e o seu texto é como um barco a vapor que deslizou no meu espírito. Nas margens estão as ruínas e, olhando para elas, o amplo informe, promete o mundo original das formas, até lá o demiurgo irriquieto que anda no vento, acaricia as pálpebras de quem olha para dentro do invisível e do obscuro.
Muito lhe agradeço o prazer imenso desta reflexão ao cair da manhã que só não é de Istambul, porque não tem o cheiro das especiarias, mas trouxe na escrita o toque do que é especial e antigo no mais fundo de cada um.
pensava que regressavamos ao lugar do ser, à toca por sobre a clareira ao não desvelado, e que o nosso lugar seria ao início primordial, ou será tudo uma questão de linguagem?
É baal! É! Toma umas cervejas e vais ver que é! Às duas da manhã, como é teu hábito, vais ver que é.
baal és melancólico como pareces, ou é só charme?
melancólico ao entardecer (como é de ser), às duas melancólico e triste utilizando a ironia não como defesa, mas como alegria.
'chatice'lá utilizei a ironia antes da hora. mas aina não bebi as sagres.
baal és estonteante! Vais acabar por ser adoptado no blog como o gralhista de serviço, porque tu não precisas de álcool para desfazer as palavras: já nasceste embriagado! E isso é ser eleito! Vá, mas não fiques muito convencido...a malta gosta de ti como és. E gostamos de ti a todas as horas...a sério!
Até há uma canção das "Doce" que dizia:"uma da manhã, hei...vem com duas da manhã..."
Já não deve ser do teu tempo...mas vinha a calhar para te dizer a importância de ti a todas as horas...
És mesmo fixe!
desfazer palavras é desconstrutivismo, gralhar é falar de mais, enganar-se é acertar, desta vez não 'gralhei', logo enganei-me.
se não gralhas não és pássaro, assim, gostamos menos de ti!
bem...talvez não! Afinal, ainda te enganas e no engano há imensa graça...vamos ver, vamos ver...
vou, não sei quando volto, se volto. Voar leva-me sempre para muito longe...
Somos epitáfios de nós mesmos
O Tejo não existe, tal como este blog e tudo o resto. Pessoa viu isso, mas, para continuar poeta, passou ao lado.
ps do bosf, acontece é dif´cil fazer 4 (quatro) coisas ao mesmo tempo:
beber
estudar
postar
e pensar (ou estar inebriado? de conceitos).
baal enlouquece e vai-te embora
ó nome escatológico, pensa e deixa de ser uma finalidade.
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