O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 28 de abril de 2009

somos como estes macacos

«Era uma vez quinhentos macacos e um deles pensava que era muito esperto. Uma noite, esse macaco viu o reflexo da lua no lago e, todo orgulhoso, informou os outros macacos: "Se formos ao lago buscar a lua, seremos os heróis que a salvaram." Inicialmente, os outros macacos não acreditaram nele. Mas, quando viram com os seus próprios olhos que a lua havia caído no lago, decidiram tentar salvá-la. Subiram a uma árvore e seguraram-se uns aos outros pela cauda, a fim de poderem alcançar a reluzente lua. No preciso momento em que o último macaco estava prestes a agarrar a lua, o ramo partiu-se e eles caíram todos no lago. Não sabiam nadar e todos se debateram na água, enquanto a imagem da lua se desfazia na ondulação. Movidos pela sede de fama e originalidade, somos como estes macacos, pensando ser tão espertos em descobrir coisas e procurando convencer os nossos companheiros humanos a ver o que vemos, a pensar o que pensamos, impelidos pela ambição de sermos o salvador, o esperto, o que tudo vê!... Temos todos os tipos de pequenas ambições, como impressionar uma rapariga, ou de grandes ambições, como aterrar em Marte. E acabamos continuamente na água, sem nada a que nos agarrar e sem saber nadar.»
in O Que Não Faz de Ti Um Budista, de Dzongsar Jamyang Khyentse, Ed. Lua de Papel

10 comentários:

Anónimo disse...

É nessa água e nessa condição que continuamente estamos.

Maria da Aurora disse...

A nossa mente é como um macaco a quem embebedaram, cortaram a cauda e pegaram fogo, diz a tradição.

Tão loucos iludidos com o brilho da lua nas águas do nosso inconsciente.

Até doi pensar que não será possível agora já sermos os Libertos desta roda das existências, apesar de talvez já o sermos ou da sua inexorabilidade!

Semente disse...

O que é que uma Sereia*,

que passa noites a adorar o luar e mergulha sem parar em qualquer água da vida,

pode dizer?

Que sim!
Que todos temos essa fragilidade, é de uma fragilidade que se trata, não é de uma virtude.

E que sim!
Que quero muito continuar a mergulhar todos os dias*

afhahqh disse...

É bem verdade.

Pedro Nuno disse...

Para quê!? Para sofrer ilusoriamente!? Tenham juízo.

Anónimo disse...

os criadores são criminosos

Corvos de Odin disse...

Esta é a doença que tem vindo a minar a Universidade … E a Ciência, a Filosofia e as Artes em geral …

baal disse...

não nos esqueçamos que impressionar uma rapariga é tal vez a maior das ambições

Corvos de Odin disse...

Que motiva muita da Ciência, da Filosofia e das Artes … A ambição mais profunda e inconfessável do seus cultores é dar a volta às miúdas … Não é preciso ler Phillip Roth ou David Lodge para concluir isso. Basta olhar à nossa volta …

Nunca Mais disse...

Schopenhauer explica essa compulsão na "Metafísica do Amor". Os sexos atraem-se para que o círculo vicioso e tormentoso da vida se reproduza sem fim...