O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 30 de abril de 2009

Os deuses

Os deuses são felizes.
Vivem a vida calma das raízes.
Seus desejos o Fado não oprime,
Ou, oprimindo, redime
Com a vida imortal.
Não há
Sombras ou outros que os contristem.
E, além disto, não existem...

Fernando Pessoa, 1920

9 comentários:

Anónimo disse...

Pois fico também feliz que assim seja, Kunzang Dorge.

Um abraço de Saudades

Paulo Borges disse...

Infelizmente existem, ilusoriamente, como tudo o mais que julga existir na sua ficção de id-entidade separada. Infelizmente também sofrem, quando a sua ilusão de imortalidade chega ao fim e despertam morrendo e metamorfoseando-se em mundos inferiores. Infelizmente também são oprimidos pelo Fado, pelo fadar-se a ser isto ou aquilo, como todos os seres iludidos e ilusórios.

Anónimo disse...

E se estes deuses não fossem os deuses do mundo dos deuses, mundo ilusório e causador de dukha, mas sim os santos, os iluminados, os despertos, livres do Fado e da existência, imortais porque mortos no mundo das aparêcias?
E se estes deuses fossem simplesmente criaturas que deixaram de o ser por terem des-coberto (de todos os véus) a sua natureza primordial?

Paulo Borges disse...

É uma perspectiva nova e possível, caro amigo, embora não me pareça que seja desses "deuses" que fala Pessoa. Apesar de compreender o que quer dizer, também não sei se em rigor podemos considerar os despertos "mortos no mundo das aparências", precisamente porque para eles já não há aparências e tudo, incluindo eles mesmos, são sagradas aparições, mesmo no mundo material e sensível. Grato por trazer dinamismo e questionamento a este espaço.

platero disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
deuses disse...

Ah, sim!? Nunca demos por isso...

platero disse...

somos o que os deuses
deixam
que nós
queiramos ser

( perdão a "deuses")

deuses disse...

Então, Platero, levas-nos tão a sério?

Anónimo disse...

Deixemos os deuses. Reconheçamos as divindades que somos.