O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 13 de janeiro de 2008

Desaforismos

Procuro notícias da minha morte.

Procuro aquilo que encontro.

O que procuras procura-te. Pára e deixa que te encontre.

O teu bilhete de identidade é o teu epitáfio. Se te vês como alguém, com nascimento e nome, já estás morto.

Nunca nasceste. Nunca morrerás. Recorda-te e deixa de fazer de conta.

Tudo o que te alegra num nascimento é o que te dói num funeral. Tudo o que te exalta é o que te deprime. Tudo o que tens é o que perdes. Enquanto não compreenderes e transcenderes isto não podes deixar de andar aos trambolhões, a fazer de parvo, a fazer de conta.

A verdadeira humildade é não te acrescentares.

Sê intrépido. Fica no espanto e não te demovas. Nem para trás, nem para diante.

4 comentários:

Anónimo disse...

E, no entanto, movemo-nos.

Paulo Borges disse...

O que não deixa de ser espantoso, o modo como desertamos do espanto.

Anónimo disse...

Sei que isso não é quietista, mas acho sempre que a locomoção pode exercer-se espantada e espantosamente. Ou seja, como não-deserção.

Paulo Borges disse...

Demover-se, neste sentido, não é mover-se nem movimentar-se. Claro que o movimento não implica deserção de coisa alguma, se o virmos suspenso na quietude do espaço em que sempre se inscreve.