sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Antonio Machado - da "bestia paradojica" e do nada nela
XV
Cantad conmigo en coro: Saber, nada sabemos,
de arcano mar vinimos, a ignota mar iremos …
Y entre los dos misterios está el enigma grave;
tres arcas sierra una desconocida llave.
La luz nada ilumina y el sabio nada enseña.
¿Qué dice la palabra? ¿Qué el agua de la peña?
XVI
El hombre es por natura la bestia paradójica,
un animal absurdo que necesita lógica.
Creó de nada un mundo y, su obra terminada,
“Ya estoy en el secreto – se dijo -, todo es nada.”
Antonio Machado, dos “Proverbios y Cantares”,
(“Poesías Completas”, Espasa-Calpe, Madrid, 1980, pág. 220 e seg.)
Cantad conmigo en coro: Saber, nada sabemos,
de arcano mar vinimos, a ignota mar iremos …
Y entre los dos misterios está el enigma grave;
tres arcas sierra una desconocida llave.
La luz nada ilumina y el sabio nada enseña.
¿Qué dice la palabra? ¿Qué el agua de la peña?
XVI
El hombre es por natura la bestia paradójica,
un animal absurdo que necesita lógica.
Creó de nada un mundo y, su obra terminada,
“Ya estoy en el secreto – se dijo -, todo es nada.”
Antonio Machado, dos “Proverbios y Cantares”,
(“Poesías Completas”, Espasa-Calpe, Madrid, 1980, pág. 220 e seg.)
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4 comentários:
sobre entropia, a pedido irrecusável de Lapdrey:
"a entropia começa
como a lei o predizia
mal o animal tropeça
na primeira luz do dia"
Lamento não ser como o meu bom amigo e Saudades - que conheço há muito tempo - feito de palavras
abraço
Platero é feito do que é feito, feito do que o faz e torna único e inconfundível:
simples como o Divino,
belo como uma criança...
Obrigado por ser Platero, meu Amigo "termodinâmico"!
Abraço "desentropeçado"!
(risos desentrópicos)
Vem a propósito da última leitura de "os pobres" de Raul Brandão, quiçá, o precursor do teatro Absurdo em Portugal, e no mundo, porque não? Ver o Doido e a Morte...
"do nada"
(...)
Alma vibrátil e fugaz, olhando a natureza, o que sentiu? Assombro, esplendor, pavor, enigma, deslumbramento. Tudo vive, deseja, estremece, palpita, murmura e sonha. Tudo vive, tudo vive: o homem, a fera, a rocha, o lodo, a água, o ar, braseiros de mundos, aluviões de nebulosas, incorporeidade genética do éter. Fervedoiro de vidas insondável, que o tempo não esgota, porque a morte criadora continuamente o desorganiza e reproduz em formas novas e diversas. E todas se cruzam, beijam, penetram, correspondem. É uma teia vertiginosa de fios sem fim, de fios móveis, ondeantes, cambiantes, urdindo-se ela mesma, na eternidade impenetrável, sem ninguém ver o tecelão. Rigidez, solidez, inércia, não existem. Na fraga mais dura, no bronze mais compacto circulam desejos, dramas, turbilhões de moléculas e vontades. As cordilheiras inabaláveis são redemoinhos dentro de enxovias. O concreto dilui-se, o material evapora-se.
"do paradoxo"
(...)
Em cada bloco metálico latejam oceanos dormentes, de vagas fluidas, invisíveis. Acordem-nos, e o bloco obtuso, electrizado, irradia no éter. Vede um penedo monstruoso: parece firme. Desagregou-se, e é lama; a raiz tocou-lhe, e é seiva; a seiva gerou, e é flor e é fruto; o fruto, alimento; o alimento sangue; e o sangue vermelho, corpo que caminha, carne que fala, cérebro que pensa. Natureza! universo!... Vidas infindáveis eternamente circulando numa vida única. Assombro, esplendor, pavor, deslumbramento! O homem vacila, desmaia, quer equilibrar-se... mas onde, se não há terra em que poise, nem muro a que se encoste?! Tudo impalpável, fugaz, incerto, ilusório, ilimitado... tudo vida, tudo sonho, tudo voragem... Se baixa os olhos do imenso ao grão de areia, o grão de areia, infinitésimo, resolve-se-lhe em vidas infinitas. Quer contemple o universo, quer examine um corpúsculo, a alma engolfa-se estonteada, no mesmo abismo devorador e criador.
"do homem"
(...)
O léxico sem princípio nem fim, das vozes mudas do incriado, das línguas tácitas da natureza, alguém o ouviu que se recorde? Alguém: o homem. O homem, crisálida do anjo, foi monstro e planta e verme e rocha e onda; foi nebulosa, foi gás impalpável, foi éter invisível. Articulou todas as línguas, e delas conserva, obscuramente, vagas memórias dormitando. Por isso os poetas adivinham, e raros com a intuição prodigiosa do meu amigo.
"do poema de Platero"
(...)
O que é a vida?
A vida é o mal. A expressão última da vida terrestre é a vida humana, e a vida dos homens cifra-se numa batalha inexorável de apetites, num tumulto desordenado de egoísmos, que se entrechocam, rasgam, dilaceram. O Progresso, marca-o a distância que vai do salto do tigre, que é de dez metros, ao curso da bala, que é de vinte quilómetros. A fera, a dez passos, perturba-nos. O homem, a quatro léguas, enche-nos de terror. O homem é a fera dilatada.
Excertos da "Carta-Prefácio" de Guerra Junqueiro do Livro ao livro "Os pobres" de Raul Brandão
Permite-me, que por aqui envie um grande abraço ao amigo Platero, que tão distanciado tem estado das lides serpenti(n)formes! Este grande abraço pela saudade da tua voz, companheiro!
Lapdrey, aquele abraço à transmontano!
Luís: o teu endereço ainda é o mesmo?
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