O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pela marinha a vender azeite e farinha.

Cantiga de escarnho de Afonso X o sábio


Non me posso pagar tanto

do canto

das aves nen do seu son,

nen d'amor nen de mixon

nen d'armas - ca ei espanto,

por quanto mui perig(o)sas son,

- come dun bon galeon,

que mi alongue muit'aginha

deste demo da campinha

u os alacrães son;

ca dentro no coraçon

senti deles a espinha!



E juro par Deus lo santo

que manto non tragerei nen granhon,

nen terrei d'amor razon

nen d'armas, por que quebranto

e chanto

ven delas toda sazon;

mais tragerei un dormon,

e irei pela marinha

vendend' azeit' e farinha;

e fugirei do poçon

do alacran, ca eu non

lhi sei outra meezinha.



Nen de lançar a tavolado

pagado

non sõo,

se Deus m'ampar,

aqui, nen de bafordar;

e andar de noute armado,

sen gradoo

faço, e a roldar;

ca mais me pago do mar

que de seer cavaleiro;

ca eu foi já marinheiro

e quero-m' ôi-mais guardar

do alacran, e tornar

ao que me foi primeiro.



E direi-vos un recado:

pecado

nunca me pod'enganar

que me faça já falar

en armas, ca non m'é dado

(doado

m'é de as eu razõar,

pois-las non ei a provar);

ante quer' andar sinlheiro

e ir come mercadeiro

algûa terra buscar,

u me non possan culpar

alacran negro nen veiro.



A Senhora Carmen acaba de gravar o seu disco não há muito, tem 82 anos, de Sanguinheda, no Sul da Galiza.
Aqui canta "Na flor dos meus anos"


3 comentários:

rmf disse...

A verdade de um canto!
Um abraço.

José António Lozano disse...

A razão de pôr isto agora tem a ver com algo que li sobre a Galiza na Nova Âguia, não sabia que agora estavam restringidos os comentários só a membros da equipa, de maneira que o ponho aqui.
Está-se a falar em termos desproporcionados da situação. A questão depende dos galegos, que pelo geral têm um posicionamento bastante sensato. Os grupos radicais dum signo ou doutro podem existir mas não são o sinal indicador pelo que um deva guiar-se, penso.
Fala-se como se houvesse uma repressão típica de uma ditadura. É falso.
Os mêtodos pelos que alguns gostariam de que houvesse uma Galiza monolíngue em Galego seriam, esses si, ditatoriais.
São as pessoas que nunca compreenderão a sensatez, por exemplo, de uma "senhora Carmen". A quererão salvar de si mesma.
Sinto trazer este tema aqui mas quero contribuir também a um conhecimento da Galiza.

Anónimo disse...

Mentira! A Galiza é nossa.