quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Bildnis eines Schattens / Retrato de uma Sombra
Os teus olhos, rasto de luz dos meus passos;
a tua testa, lavrada pelo brilho dos punhais;
as tuas sobrancelhas, orla do caminho da tragédia;
as tuas pestanas, mensageiros de longas cartas;
os teus cabelos, corvos, corvos, corvos;
as tuas faces, campo de armas da madrugada;
os teus lábios, hóspedes tardios;
os teus ombros, estátua do esquecimento;
os teus seios, amigos das minhas serpentes;
os teus braços, álamos à porta do castelo;
as tuas mãos, tábuas de juras mortas;
as tuas ancas, pão e esperança;
o teu sexo, lei do fogo na floresta;
as tuas coxas, asas no abismo;
os teus joelhos, máscaras da tua altivez;
os teus pés, campo de batalha dos pensamentos;
as tuas solas, criptas em chamas;
as tuas pegadas, olho da nossa despedida.
- Paul Celan (1920-1970), A Morte é uma Flor (Poemas do espólio), tradução, posfácio e notas de João Barrento, Lisboa, Cotovia, 1998, p.19.
a tua testa, lavrada pelo brilho dos punhais;
as tuas sobrancelhas, orla do caminho da tragédia;
as tuas pestanas, mensageiros de longas cartas;
os teus cabelos, corvos, corvos, corvos;
as tuas faces, campo de armas da madrugada;
os teus lábios, hóspedes tardios;
os teus ombros, estátua do esquecimento;
os teus seios, amigos das minhas serpentes;
os teus braços, álamos à porta do castelo;
as tuas mãos, tábuas de juras mortas;
as tuas ancas, pão e esperança;
o teu sexo, lei do fogo na floresta;
as tuas coxas, asas no abismo;
os teus joelhos, máscaras da tua altivez;
os teus pés, campo de batalha dos pensamentos;
as tuas solas, criptas em chamas;
as tuas pegadas, olho da nossa despedida.
- Paul Celan (1920-1970), A Morte é uma Flor (Poemas do espólio), tradução, posfácio e notas de João Barrento, Lisboa, Cotovia, 1998, p.19.
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11 comentários:
Queixinha:já havia postado este poema neste blog!
Outra coisa:não faz mal nenhum tê-lo colocado de novo, pois é belíssimo, íssimo, íssimo.
...de uma Sombra, Casto Severo...
Amei o poema. "A Morte é uma Flor"
Uma flor sem tempo...
Já disse que adorei o poema?
Saudades
Desculpinha...
Para isto ser real, só tirando tudo o que vem depois das vírgulas. Os poetas só sonham mulheres que não existem. Mal das que os escutam.
A realidade existe fora da sua percepção!? Não me digas que és traumatizada ou discípula das banalidades do Caeiro...
Porque é que eu tenho um rosto?
Não diria que os poetas sonham mulheres que não existem. Diria é que os poetas expressam muito bem a paixão. Quando há paixão, é assim que se vê/sente o outro.
Há tantas vidas que te busco no mundo! E tu aqui sempre, a morrer abraçada a mim!
Banalidades do Caeiro?! Vê-se logo que és tudo menos portuguesa! Deves ser discípula das banalidades de um outro qualquer...
Não se é portuguesa!? Agora o nacionalismo chegou a este blog? E sim, o Caeiro é uma seca: é bom para as mentes rasas.
Anónimo, acho que tens um rosto, porque deves precisar dele. Talvez não aqui, mas noutro lado qualquer.
Se se referem a Alberto Caeiro, banal não. Simples não é banal. Simples é bom para as mentes rasas, mas também para as outras. Diria mesmo que melhor ainda para as outras...
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