O que fazemos aqui, onde quase não estamos? Alguém pergunta e sabe. Atirada para a montanha a voz há-de em regresso florir uma resposta. Nesse dia será outra Primavera e o mesmo Silêncio nos será resposta. A mesma voz e o mesmo silêncio. Onde a neve era uma túnica branca a entrar no templo da Saudade. Que faziam aqui os lírios e as rosas? Sabiamos que sempre a Saudade era uma via nocturna para a diurna esfera que se erguia e, num dia, desaparecia no mar, e no outro da Terra nasceria a mesma flor em Ouro e Terra. Como anjos que sobrevoam a ponte onde a passagem é um centro, um vórtice; uma funda memória bebida de suas mesmas raízes e banhada em saudades futuras. Acabaremos por atravessar-nos como Luz e saberemos o lugar sem lugar que nos é, para além do que não pode ser dito e em regenerado ânimo, futurando-nos crianças de novo, não seremos nunca, disso, senão a distância! Seria pó de estrelas, o canto. Lento e silencioso deveria ser o salto da bailarina suspensa na vertigem. Por esse fio, esse triz de nos olhamos surpresos de nossa face. Uma caixa de música tocada pelo invizível braço da inexistente forma que somos. Se olharmos para trás, o que vemos então, em invertida imagem? A presença de um nada que nos enche de mundo nadificado e de novo plenamente nascido. Nada vivido no avesso dos espelhos e no eco de uma mesma Voz, oceânica e fundo, como um fundo respirar dos deuses.
Iabel subiu essa ponte, e de cima nos cantou e leu, como se, árvore de invertida forma, descansasse as suas raízes no céu. Sentados sobre a pedra dos dias, tranquilos e olhando o lago, veremos o nada que somos a acenar-nos. Futuro e espera sobre a ponte sobre o mar. Há as gaivotas que ao destino densificam em velados véus de velado rio. Olhemos, serenos, ao longe as cidades e os homens; as guerras e os cansados passos, os saudosos campos de girassóis em febre e delicados nós amarelos, de delicadas pétalas de suave brancura. Já era na voz de Isabel o silêncio do nosso esperar. E sempre um bosque surgirá com corças de leite a subir o verde renovado dos ecoados cavalos azuis e renovados quadros e ondas de sereias vozes, de madrugar auroras de memória em nós.
Havemos de pentear os nossos cabelos e revelar as almas junto ao lago, onde a água em círculos parados nos reflecte em brilhos moventes de luas nascidas. A névoa que se desprende da boca das rosas se abrirá em nevoentos cantos, dorir nossa distância na voz da água a bater na pedra cantante dos dias. Os pássaros carregaram a luz nas suas asas e, nas dos anjos soprarão música, que há-de lembrar-nos que somos esse som, antes e depois de tudo, somos Silêncio, Nada.
28 comentários:
aos cobardes que destruiram, ou tentaram este blog, aviso-vos... a minha espada é de fogo e a minha vingança infinita.
Sei que o excesso não é benvindo, nem agradável, mas foi uma vontade.
A um blogue que irradia tamanha Luz, era inevitável a convivência com tão infelizes sombras...
É o contraste inerente da Vida, sendo a infelicidade, tal como a sombra, comum a todos nós... Ahh, mas há sempre a sombra que teima em luzir! É esta mania de querer do fundo do sono, nascer Sonho sem fim...
Saudades!, é Bela a Tua Luz, que em mim se reflecte... a Luz do Silêncio e da Saudade, de tudo ser vencido pelo Nosso Amor.
Beijinho.
Escrevi "era" ("inevitável") e é mesmo isso. Tudo (aqui e agora) Era.
Porque só na Era do Nada e do Tudo se conjugará, perfeitamente, o Verbo no Presente.
E quem não gosta de ver os outros luzirem, deixou de ser criança, de renascer. Toda a criança sabe que luzir, espontaneamente, sem medo infortunado de se exibir, é o modo mais fiel de se ser.
Saudades, tanta palavra, mas eu Sei que tu lês e escreves a Minha Língua. Nascida do Coração.
Saravá!
"Já era na voz de Isabel o silêncio do nosso esperar."
Eis uma palavra suficientemente esférica para serenar "as cidades e os homens; as guerras e os cansados passos" deles e nossos, e o que de fustigado haja em mim também.
Isso me lembra, uma vez mais e sempre, que, "antes e depois de tudo, somos Silêncio, Nada."
Grato pelo eco inconfundível da voz branca de Isabel, no silêncio que habita o raro perfume que exala do ajardinar das palavras em Saudades...
Comentários eliminado(s),
Que dizer? a próprio nome o diz, sem nenhum mistério. Máscara de ser?
baal,
A Serpente não se destói, devora-se e muda de pele. Eu já mudei e mudarei mais ainda, mas o que sustenta este espaço é maior, porque, O para além de Deus se ultrapassa nisso, em que mudando segue, no que lhe permanece em infinito sem fim...
Anita,
Por onde tens andado, "miúda"?
Esta Luz que aqui vês é sombra de outra que ainda mais branca brilha em qualquer lugar ou não lugar onde nos encontremos e nos reconheceremos.
Beijo de Saudades
Lapdrey,
"Velho" Guerreiro, ainda aí está?
Creio que sim, mesmo que, amordaçado olhar de silêncio, da Torre do Vento se aviste o mar e a luz que o acompanha, na distância de um aceno. Em certa pedra, em certo mar ajardinado ver-se-á a face abismada de si...de mim..., meu amigo, à flor do sal sigo...
Saudação a todos, de Saudades.
Saudades,
Não há por "aqui" consenso:
O "Velho" diz que o Guerreiro nunca cá está!
O Guerreiro diz que o "Velho" está cá sempre!
Concordes, só mesmo nas saudades, de certo mar ajardinado de Saudades...
Lá fora, o Carnaval: o do mundo, de si mesmo mascarado, e o do adeus à carne.
Saudação do que nos dá maior saúde - no nascer e renascer, em cada morte...
Lapdrey,
Esperava, afinal, esse sorriso. :) Nas saudades também não há consenso: o que é, só é se já não é; o que foi, eternamente será. :))
Coisas de Saudades! Esquisitices!
Quanto ao “Velho Guerreiro”, referia-me à máscara que vou usar nesse tal de Carnaval do mundo.
A última parte da frase... essa que disse... não se importa de repetir? Qual carne? Isso não é à Sexta-feira? (risos)
Lá fora, não há. E dentro... também não.
“Nascer e renascer em cada morte”, para si também.
Uma mão cheia de Serpentinas e já agora de “Serpentinos” para todos.
PS. É só festas, e depois admiram-se que o país não ande para a frente!(risinhos)
A miúda tem, por aí, 'vagabundando', como é seu fado...
('vagabungado'...) ;P
Anita,
O "fado vagabundo" é o mais genuíno do fado português, se for espontaneamente cantado.
Chamo-te "miúda" carinhosamente.
E abraço-te daqui com muita ternura.
osh, 'vagabundado'.
:)) Um abraço terno, também
Está muito carnavalesca, amiga Saudades! Se bem que: antes carnavalesca, do que canibalesca! (:
(eu rio ao contrário, rio para dentro, e pelos ouvidos! Daí o boneco "às avessas")
Quanto à máscara: A Saudades deve, por certo, ficar "a matar", de "velha" Guerreira. É, por certo, o seu costado de amazónia, a "buzinar" lembranças regressivas! (Não sabia que as havia no Além-Tejo... mas acho que as haja também no Aquém-Tejo).
Uma coisa, Saudades!
A minha amiga, que deve perceber destas (e doutras imensas) coisas, que me diz?
Almada (eu até assinaria uma petição para mudar o nome da cidade para Al-Madah: hi hi!), Almada é (para quem está do lado de cá, claro) Além-Tejo?
Estou em angustiante dúvida... ou será, antes, angustiante: estou em dúvida também nisto!
Ai, tire-me lá desta cartesianeura, amiga! Sim? Deve ser disto do adeus à carne, sabe, deste "carne vale". Quem o faça, claro!
Nos dia que correm, isto deveria chamar-se é antes Mac-vale, com um belo Ciao aos alienígenas hamburgers do Donald MacDonald, perdão, do Dolar MacMillions!
Anita,
Não vale separar essa palavra... a do fado, pois fica mal. Não sei... não gosto... Vou experimentar: "Vaga.bunda" (risos!)
Acho que podemos transformar esta: Carn(e)(n)ã(o) val(e)em "Carnatal", sempre se nascia... mas não sei se pode!...
P.S. Se o Paulo não começa a estar atento a esta caixa de comentários. Isto pode descambar!
Acho melhor estar calada. Também tenho "medo" do Lapdrey... Ui, dizem que é terrível!
Um beijinho, Anita
Eu faço de santinha, então, para amenizar o curso desta ribeira, neste carnatal.
Ainda da conversa antes: e tudo por causa do rei dos vagabundos...
http://www.youtube.com/watch?v=wCQ34sT1zvs
;)
Lapdrey?
Hum? Quem é esse? Não creio ter o prazer... (Mas, pelo que diz, saudades, ainda bem que não conheço tal traste!)
P.S.
Há por aqui, bem me parece, três alminhas "penadas" que, pelos vistos, "adoram" que se fartam isso do Carnaval.
Né, "moçada"? (risos!)
Ah, é verdade!
Eu na Terça-feira Bucha e Estica, perdão, Gorda, vou mascarado de Saudades.
Estou com saudades! Vá-se lá saber porquê? (risos!)
Deve ser para experimentar ver o tal de Lapdrudo a partir de fora: a coisa deve ser de regar as malvas a rir!
Senhor “Lapdrêutico”, perdão... Senhor “Lap” fica bem, mas é mais em Cascais... Em Almada.... bom...(tinha que vir logo à pergunta de geografia!). Ó pá, como é que soube que eu sou um zero em orientação?!
Genial a do riso ao contrário (não posso mais...) O boneco às avessas, meu amigo?!
Só se pode estranhar o“velha”, porque guerreira sou (risos e amuos em conflito)
Essa do “buzinão” não gostei. Isso ainda não aconteceu, isso é futuro, por estas bandas, seu “Droplêutico”.
Eu também já tive essa dúvida, até que decidi deixar a angústia para os angustiados (:
Aprendi, rápido!)
Essa do “Carne não vale” é minha! Já tinha escrito na negativa, só para ser diferente!
Não gosto de hamburgers nem mesmo os de imitação carnavalesca. Também me metem medo!
Amiga Saudades, deixei "lá", na base da Torre, duas: uma de carnaval, outro não!
Beijo amigo!
(para a amiga Anita não envio beijos, não! Ela só os aceita agora do titã Pascoaes)
Esclarecimento, a quem interesse: O Lapdroso abomina comida de plástico!
pensava que aqui se era contra a censura mas vejo que e a mesma conversa de sempre
Quem está a fazer verdadeira censura aqui és tu, meu pobre "coitado"!
Nalguma coisa e por alguma razão te censuras a ti mesmo!
Desperta!
Uhhhhhhhhh!
guerreiro, guerrilheiro, e um mig 31 sovietico, bom carnaval.
Teremos assustado baal? É a pergunta deste "carna.vital".
Ou terá Saudades em riso e alegria, exprimido do avesso a sua nostalgia de uma ausência anterior a tudo, que dói fundo e tanto, e sobre si dá uma pirueta e pensa: Onde está Iabel, a dos pés azuis? Um dia haveremos de ir à casa das gaivotas... De cima de uma torre verás os pássaros que ficaram na Torre da Igreja... E o campanário.... a campanário me leva para Holderlin. Vales verdes, e o branco no branco... E o som na audição repercute os ecos. A imagem de um fractal uma reiteração
existente na matemática do espaço.
Talvez tenha sido aí que nos encontrámos. Os sem ego, poderão ser "ego-semelhantes"? Fico na dúvida.
Sigo para a Torre.
Saudades
obrigado, saudades.
estava só um pouco triste e cansado e quando assim é começo a asneirar...
Mas já me encontro a caminhar no cume da montanha, em direcção à Torre, onde se des-vela o ser.
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