O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Homenagem a Cesário Verde

Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas


Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!


Mário Cesariny de Vasconcelos, in pena capital
Assírio & Alvim; 2ª edição. 1999

8 comentários:

Anónimo disse...

esse gajo era um pedofilo

Anónimo disse...

e o teu professor da primaria?

Anónimo disse...

Bem-haja por chegar, com o Vergílio a par da Liliana, à Serpente, os bons ventos da poesia portuguesa e não só. Que pena que sejam dados de forma pré-formatada nas escolas, de acordo com sebentas que não deixam saborear os frutos do espírito.


Frescos os ventos deste poeta e fresca e colorida a presença do Vergílio neste blogue. Que o preencha sempre com vivacidade e com o verdadeiro tumulto do espírito criador.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Onde há POEMA, felizmente nada mais se escuta. Nada mais de vê, nada mais é visível, tudo à volta deixa em nós a vaga sensação de nunca ter aparecido, como se fosse desde sempre desaparecido. E o melhor é que a vaga sensação é uma certeza.

O Poema permanecerá.

Luiz Pires dos Reys disse...

O que eu mais aprecio neste poema de Cesariny é o "burro que olhava para o mar", o único aliás que, ali, não precisa de ler poesia para ser poeta.

(Devo-te palavras, Vergilio, e muito silêncio entre elas, não estou esquecido!)

Abraço, amigo!

rmf disse...

Ânimos serenados...

Companheiro, essa talvez a magia da contemplação. Sente-se.

No espaço e no tempo de não haver palavra mais que sucinta que os definam. Esse silêncio é o tal... onde n(O)s encontramos. Retrato sem paisagem, cantor sem voz, alma sem poeta, folha sem palavra.

Acabei de ler "os pobres" de Raul Brandão, prefácio de Guerra Junqueiro, mas ainda é cedo para me espraiar nessa costa :) ou espalhar, quem sabe?

Um abraço numa noite clara!

PS - não deves não!

Luiz Pires dos Reys disse...

"Esse silêncio é o tal... onde n(O)s encontramos." Assim é, Vergilio!

"Isso", a luz em nós nascente e "O poente que nos convém".

Abraço irmão, neste "burro que (também) olha o mar" das serranias!