O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 8 de fevereiro de 2009

Fragrante peugada

Naturalmente dócil, um pasto verde-luxuriante, um toiro. E não poderão ser diferentes as palavras ou pensar num outro qualquer início. Uma Esmeralda em fogo até ao fim de uma consciência ou possível forma de este ser exposto, por estas palavras. Dizer; um esforço… e um campo doirado de Sol e trigo, que o estrídulo das cegarregas levava ao rubro. O bebedoiro da Terra velha. E um toiro, nado e criado na planície ribatejana (de gaiola como um passarinho condenado a divertir a multidão). Foi ímpeto inicial e onda de calor que lhe tapou o entendimento; pronto, já está! Estava na arena… A tremer como varas verdes, olhei à volta; do lado de lá gente, sem acabar... O artista acompanha o seu longo passeio, a plenos pulmões; ilusão da luz, a iluminação e a procura. E nesse toiro, a razão de uma procura. E nesse animal, a minha expressão e humanidade que por um ápice lhe foi concedida, a última vastidão, em impacto. Revejo-o, em uma cigarra feliz, com água limpa de espelhar os olhos, que canta… Depois, um coro de rouxinóis que acompanham Mozart, de mãos dadas, ao último momento deste possível fim.

Fui Serralho, que raptou de uma Torga o seu bolbo embrionário, adornando o futuro, flauteando-o de saudade, aos pastores de Vergílio, com a magia de Amadeus no papel principal.

Um abraço!

7 comentários:

platero disse...

caro Vergílio

vocês amedrontam-me com tão fina qualidade
quase apetece um esforço para esquecer o alfabeto.
Grande abraço pelo teu texto; pelas cores; pela sugestão de Mozart.
talvez pela invocação do Ribatejo e da Lezíria os dias ganhem luz

Anónimo disse...

As cores tão portuguesmente nossas, no cenário do "pasto verde-luxuriante" onde a docilidade aparente do toiro encosta às tábuas da lezíria a luta desigual... A queda ou a subida à mennina dos rouxinóis...viagem clara guiada pela fina sensibilidade das cores e da terra.

Belo texto e super-belas fotos. Parabéns, Vergílio. Lindo post!
"Fragrante peugada". Sem dúvida!

Anónimo disse...

"vocês amedrontam-me com tão fina qualidade quase apetece um esforço para esquecer o alfabeto."

Platero

Muito bom!

Laura disse...

E este texto faz o homem parecer tão pequeno diante do touro... um belo texto, realmente!
Cair de joelhos, por vezes, só nos faz é bem.

fas disse...

É um texto excelente, também acho. Com boas fotos. Um bom conjunto e tocando na porta entreaberta da mais fina qualidade...

Anónimo disse...

Se se olharem ao espelho levarão uma marrada.

luizaDunas disse...

Vergílio, o toiro na cigarra feliz e os rouxinóis a cantar (n)o toiro levaram-me a uma dor impossível, e ao toiro a um impossível fim.

Fortíssimo nos sentidos.