O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A Fala da Ilha Brasil

Olorum Baba
Iahweh Abbá
Santos e orixás
São um só

Eu sou a humanidade transcendida
A questionar o sofisma da aparência
Espiritualizarei a face utilitária
Das nações do norte do planeta

Forças do Sul venham semear
Assegurar a estrada a caminhar
As almas eu hei-de fecundar
E o que era o corte colheita será

Por amor não vão se olvidar
Eis que é chegada a nossa hora
De Vieira, Pessoa e Mãe Senhora
Agostinho, D. Sebastião e Baltassar

A espada eu hei-de empunhar
Oxossi a flecha certeira
Das matas virão as folhas
Dos caboclos a cura de Omolu

Triplo nexo, duplo milênio
Mar da Arabá, austral Atlântico
Bahia de todos os Santos
Fortalezas não hão-de faltar

Tampouco a força do ijexá
O cadinho de todas as raças
Os rios de água Yorubá
O fogo inaugural das culturas
Os ventos soprados no Tempo
A Terra vista do Templo
Os desígnios de Adonai.

2 comentários:

Ana Margarida Esteves disse...

Lindo:-)! Com um ritmo de Capoeira ... A nao esquecer que

"Quando eu venho de Luanda, aie
Nao venho so ...

Quando eu venho de Luanda, aie
nao venho so ..."

Domingos Emanuel do Espírito Santo disse...

Concordo integralmente com a observação de que "de Luanda, não viemos só". Talvez o poema não o tenha conseguido expressar suficientemente, mas a ideia, a princípio, era a de re-presentar o mito da Ilha Brasil enquanto síntese de raças, civilizações e culturas.
A Ilha Brasil é uma possibilidade de Brasil, sem dúvida, mas não só. É ele, enquanto uma certa possibilidade, e tudo o que o constituiu junto: É Ibéria, é África, é Ameríndia, é Oriente e ainda alguma Europa.