O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 13 de janeiro de 2008

Carta a carta
corta a vida
os fios do destino
revelado aos olhos
chuva lumínia
da bruxa que foste
nos tempos vividos
no susto e na escuridão
das preces
a torre fulminada pelos raios divinos
as ilusões caídas por terra
o mago
deixado
pele de serpente do impossível
no princípio do caminho
doido
depois da morte
na vida
em busca da ignorância
onde ardem os cajados
do peregrino
vazio por dentro
a rufar os tambores de haver mundo
e distracção
sabendo
que a morte de Ulisses
é o estar preso a Ítaca
a terra dos enganos
e rindo
nas margens do estar sem buscar
pó do caminho
e sombra no calor do estio
luar nas noites cravadas
na pele alada dos amantes
brisa ao fim da tarde
e o gume do silêncio
a ferir os tímpanos do tempo
nunca já homem
nem deus
nem sombra acorrentada nos infernos
nem esperança
apenas a inversão de tudo
a diversão do nada
na dança de ser
a escuta que se desgarra

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