O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 30 de janeiro de 2010


Uns de nós chegámos antes do tempo – poucos minutos no nosso tempo – só que aqui seriam… qualquer coisa como… largos milhares de anos, antecipadamente…

Rompemos os céus brindados pelo cobalto, acima de bem-aventurados.

Ficámos abertos à imensa alegria de aqui termos vindo parar.

Palmas e aplausos! Tínhamo-lo dito, dissemos, por fim…

Nem tudo aqui era o que se expectava, nem tudo era espanto.

Até aqui o tempo passava…

Sentíamos falta, algum desespero… alguns de nós tentaram cometer suicídio… ainda assim, fomos poupados…

Os avós dos nossos avós e dos avós dos avós eram brilhantes, excelentes cientistas, inteligentíssimos…

Mas a viagem tinha sido longa e dura, entediante…

Quando nós aqui chegámos, centenas centenas centelhas de anos depois, os que sobrevieram, simplesmente, viveram, erraram...

Nada a dizer.

Eu cheguei no terceiro grupo.

Todos tínhamos ideias de aqui dedicar conhecimento, de causar grande impressão, portanto, começámos por fundar uma grande capital!

Uma cidade que rivalizasse em tamanho com todas as cidades do mundo!

Chamámos-lhe… o espaço era prodigioso!

Duas grandes vias aqui convergiam…

Bem perto – mesmo aqui – construímos o nosso primeiro edifício, e com a mesma primeira pedra, as outras mil que se seguiram.

O edifício civilização no espaço divinizado era fruto harmónico, e amor – por nós recriado – e vazio, que daí florescia…

Sabíamos o quão distantes estávamos de casa…

Aqui perto, entre estas duas enormes vias, ao longe, ainda mais inacessível… era o nosso memorial,

Andrómeda.

5 comentários:

Anónimo disse...

É preciso saber navegar um mar de confiança. Saber quem está entre nós na equidistância da casa que nos será morada… Para além do tempo sem fim. Para além da viagem ao deserto. A memória era uma saudade do “espaço prodigioso” onde poetas se lembram de sonhar em conjunto a errância! Alguém que sonhe ser “poeta da montanha” ainda que o não seja…

Um beijo "RMF" ou uma palavra enTre-vias, com um sorriso lá dentro :)

P.S. Sempre o Tempo e o Silêncio desenhados no Mundo...

João de Castro Nunes disse...

Se a "saudadesdofuturo" avaliza... eu aceito a letra! JCN

Anónimo disse...

Caro JCN!

O mesmo digo eu de quem apresenta a "letra", vai para ele o meu aval... pois se servir também para si... com todo o gosto. :)

Um sorriso de Saudades, JCN!
Como tem passado, entre Serpentes?

rmf disse...

Sempre com um sorriso ao ver-se em em discursp, adaptado, Herzog, "Wild Blue Younder"... belo filme. Como se diz à antiga portuguesa Belíssimo! ou estridentemente in-sonorizado por um mama mia d'Itália, que também o confere. O que se escreveu... tão bem se adsorve ao que entre-vias, na realidade, não existe, - só o sorriso -, ou é longínquo, inacessível, próximo de tudo onde tudo se fez parte da distância.
É esse um cenário do mundo, é esse vão de escada abrigo de um sorriso ao fundo. Desligar. Serão para sempre essas passadas passadas na errância. Isso sim, e pois também, saudade. O tempo, o silêncio... onde se aninham serpentes em seus cobertos metafísicos, abrigadas desse não-lugar onde o tempo que se julga que o é, não é tempo e indiferente à paisagem em que se emoldura uma montanha ou ao remoto, que de tão vasto é infinito, tão horizantal como um verbo que o silêncio silencia, quando levemente se olha por cima do ombro. Por vezes, andam os ponteiros ao contrário, e o tempo pouco se importa; por vezes, o tráfego é ilimitado, mas nem um som se aproxima; por vezes, só idade, só aí, penas, talvez em mais nenhuma ocasião se configure poeta algum, procura catar-se de aquele que não o é, que nunca o foi nem algo, incapaz pelo absurdo que são os vocábulos que se proferem dizer, num só nada, apenas isso ou coisa alguma. Viagem por fora, cá dentro, alma-mater nula. Nem dedos nem papéis, nem por demais pensamentos em que se ascenda a escadaria ao sabor de um irreal devaneio que diga... realidade! Só ausência, e ponteiros. F-

Anónimo disse...

Meu caro Erre, Aime, Efe,

Meu bom Amigo,

Uma galáxia azul. Meu Deus! Que beleza profunda. Meu Amigo sempre a remeter-nos para um outro espaço em uma outra galáxia. Azul. “Mama mia!”
Sorriso próximo da distância. “O tempo, o silêncio…” a horizontalidade da montanha, o verbo que silencia ou se eleva em som de canto, em coro.
Os ponteiros que aqui giram não sei para que lado giram, nem se ao contrário o rio segue outro caminho. Lá irá ao mar…

“Alma-mater” não se anula por palavras ou imagens. Se seguirmos mais do que as palavras… a via da nossa alma, “mater” do mundo que imaginamos e sonhamos, tão real, tão real!
Que Saudade disso que seremos!
Uma lágrima não se importa de cair na página ou no azul de Andrómeda…
Consigo, seguindo o passo...

Um abraço R-!