O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

a caminho de Tiago




"Assim pudesse o poema
Como a pedra esculpida
Do pórtico antigo
Ter em si própria a mesma
Compacta alegria
Cereal claridade

Ante o voo da ave
Do espírito que ergue
Os pilares da nave."

São Tiago de Compostela, de
Sophia de Mello Breyner Andresen

4 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Ao meu jeito:

CAMINHO DE SANTIAGO

Granítica cidade jacobeia,
onde gastei a sola dos sapatos
ao longo de sete anos de contactos,
escuta uma vez mais a minha ultreia!

Pelas vezes sem conta que trilhei
as tuas praças e os teus recantos,
os teus degraus românicos e santos,
ao céu directamente subirei.

Como durante parte da existència
fiz o caminho que de Portugal
conduz à tua velha catedral,

já não terei que lá voltar um dia
após a morte como ocorreria
se o não fizesse com antecedência!

JOÃO DE CASTRO NUNES

João de Castro Nunes disse...

"RUCINHA"

A pétrea Compostela de granito
com suas praças, ruas, soportais
desperta em mim, por causas pessoais,
a sensação telúrica de um mito.

Os anos que passei celeremente
naquela austera e mística cidade
com meu amor, em plena mocidade,
estão de pedra e cal na minha mente.

Evoco-a nos salões da Rosaleda
e sob os velhos choupos da Alameda
em toda a sua céltica beleza.

Sorrindo meigamente, à portuguesa,
nunca talvez se visse em Compostela
rosto tão lindo e alma como a dela!

JOÃO DE CASTRO NUNES

João de Castro Nunes disse...

SOB A CHUVA MIUDINHA

Sete anos, meu amor, inesquecíveis
ali passámos entre monumentos,
ali vivemos dias e momentos
vocabulaiamente indescritíveis.

Tudo eram festas, honras, distinções
inebriando os teus vinte e tês anos,
concertos a convite dos decanos
das mais diversas instituições.

Quando nos longos meses de morrinha
te passeavas sob os soportais
para fugir à chuva miudinha,

eu tinha a sensação que à tua beira
havia sempre sol... em doses tais
que iluminava Compostela inteira!

JOÃO DE CASTRO NUNES

João de Castro Nunes disse...

Pobre Sophia, que só viu Santiago de Compostela... de raspão! JCN