O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sede silente

Talvez à vista não salte,
porque se firmam no firmamento, imóveis
- em tons que se mudam sem se moverem
na sombra e no ímpeto dos azuis-
as vozes pousadas em silêncio na sede de um diálogo cristalino.

11 comentários:

Paulo Borges disse...

Sim, também no silêncio habita a sede... Por vezes a mais intensa. Poderá em silêncio se desalterar?

Unknown disse...

Em silêncio, olho-te nos olhos, sorrio-te e abraço-te.

Unknown disse...

"Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme."
Fernando Pessoa

Anónimo disse...

Ponho no firmamento a voz. E digo ao seu ritmo: imobiliza-te. Quando o espelho da outra voz se aproximar, sorrirei, apenas. E com a alma. Seremos uma clareira. Um alargamento do firmamento. É para lá que diriges o olhar, quase desde o teu primeiro elogio à luz da cidade que aqui nos deixaste ao passar perto do S. Carlos. É por isso que mereces um bosque.

luizaDunas disse...

Gostei muito Anita, deste poema, sobretudo dos dois primeiros versos."Talvez um dia...encontres o que queres porque o queres." É magnífico! e oportuno na questão de algumas sedes.
É possível desalterar-se no Silêncio qualquer sede, Paulo. No entanto, há sedes que anseiam pela água de uma certa Fonte, uma gota apenas e o Universo vibra de Alegria, não é por "outros recursos" nem saciedade que clamam.
Venha o Bosque, Isabel. Ai que sede!

Abraço-vos

Paulo Borges disse...

Não será a sede a Fonte que se não sabe?

Ana Moreira disse...

Tens razão não é evidente mas o que busco (a minha sede) é a palavra inequívoca que proporcione o entendimento perfeito( o diálogo cristalino), a união total tanto na concordância como na discordância.

luizaDunas disse...

Ana,

Na concordância ou na discordância... diálogo, cristalino, união total: "Two hearts, One soul"

Paulo Borges disse...

Compreendo, mas diria que união supõe separação. Não será melhor buscar o que não pode ser unido por não poder ser separado... e vice-versa? Mais do que buscar, repousar nisso.

luizaDunas disse...

Para mim, a Sede não implica uma Busca.

Paulo Borges disse...

Concordo. Assim a Sede pode revelar-se Sede (lugar onde nos sentamos e somos) e desocultar-se Fonte.