O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Bosque

O bosque é o livro de onde falam as vozes que a alma consegue escutar. Entregue a esta certeza, ela leu alto das Sombras Errantes:

Diante de mim, no rio, na obscuridade, a silhueta revestida de luz de um barco achatado, vazio, que parecia vazio, movia-se bastante depressa, descia em silêncio. [O flamingo não é um barco pensa ela, é uma arca que passa no rio a caminho do outro reino, mas aqui é um barco.]
- Incomodo-te?
Ele estava à minha frente, segurando-se à margem com a ajuda de um remo amarelo.
- Dá-me a corrente – disse-lhe eu.
Ele estendeu-ma.
Ela é a leitora, é a que pergunta. Ele, o barqueiro, é o que chegando primeiro à clareira, responde e empresta a corrente. Foi com ela, a corrente, que chegou ao âmago do livro, do bosque. O escritor ainda estava lá dentro e o sol declinava como um verbo que se diz no plural: nós incendiamo-nos de um fogo-solar, quando abrimos a paisagem interior à exterior. Quando deixa de haver diferença entre uma e outra. A clareira é esse lugar a que se chega quando, lendo, a abertura nos unifica com todo o real próximo e distante, nomeável e inomeável. Com a página, com a paisagem. Ou, dito por outras palavras, a clareira é a página que no meio da obscuridade do sentido da vida, do livro, aclara e rasga a passagem para dentro do legível e do audível, do bosque. Uma clareira é uma página de luz para quem escreve e para quem lê. Porque a corrente, na leitura, pode não ser um movimento, pode ser só uma intensidade, pode ser uma paragem no lugar onde o autor cego de luz se prepara para os caminhos e os descaminhos do bosque. No bosque os étimos estão fechados nos anéis antiquíssimos dos troncos e escondidos na metamorfose das folhas e das cores, nos rumores e humores das palavras abandonadas e apenas consagradas ao silêncio e à passagem dos poetas. Mas a clareira pode ser o lugar onde o texto se faz claro, diáfano e mistério. O leitor pode ser o eleito pela luz espiritual com que o autor se manifesta como afim ao inteligível, ao Sol. A página-clareira é o lugar onde, no bosque e no livro, se prende a corrente. Ele continuou a escrever. Ela continuou a ler:
Prendi-a ao pequeno desembarcadouro de madeira que balança diante do meu eremitério.
Presa a corrente e dedicada à leitura, absorta, ela percebe como na margem da clareira e conduzida pelo autor-barqueiro, ela tinha finalmente no eremitério da alma uma voz, um tu acompanhado de palavras-ninfas. O livro tinha conseguido que junto ao rio o autor-barqueiro tivesse falado com ela. Havia um tu que conseguia entrar, vagar no eremitério da sua alma. E havia um coro que, vindo do interior tenso e intenso do bosque, cantarolava o imperceptível para o qual no início de ler os seus ouvidos não estavam preparados. Ela procurava-os, dentro e fora do livro, ao autor e às palavras-ninfas, na corrente que é a leitura. No bosque uno da página e das folhas, das árvores e do livro. A leitura não a afastava da corrente intensa dos rumores e da luz. A clareira abria para dentro das páginas, para a densidade cerrada das copas e dos ramos, das frases e dos parágrafos, os seus raios, os seus sons e os seus tons. O sol sabe geometrizar o seu alfabeto de rectas para o lugar em que as sombras e os sonhos se passeiam, se desenham, se insinuam com a forma despida da palavra. Mas a palavra é sombra-luz, da mesma maneira que é som-sentido, e chegada ao acto de ler, sem-sentido. Recebidas, lidas do bosque, as palavras vêm revestidas de uma novidade-antiga que perturba, afecta a relação com a corrente. Com a vida. A palavra é uma intensidade hesitante entre o ser e o não-ser, que nos afasta e aproxima, nos devolve e nos engole ao presente e aos presentes. Há nela uma matéria visível e invisível, há nela sonoridades audíveis e inaudíveis, perceptíveis e imperceptíveis, há nela tempo e in illo tempore. Ler é contactar com o que dentro do bosque gemia. Mas o que gemia? O autor toca as palavras na sua arqueologia. Na sua etimologia, na língua morta do esquecimento e na ferida do uso, a verdade original da palavra padecia. Ler é cuidar do que do antigo se anima. Reanima. Ler os antigos é cuidar daqueles a que o tempo impôs uma afonia, uma atonia imerecida.
No bosque, como no livro, o antigo não comunica. O antigo profetiza. O antigo é o advento. O bosque é para a linguagem o lugar da iniciação e de uma justa recordação. Depois de atravessar a clareira – e o bosque é o lugar, como bem sabia Heidegger, que não conduz a parte alguma – o autor descobre em si um dom. Escrever é, na dedicação a uma arqueologia que é a etimologia, a celebração baptismal da palavra e do coro das ninfas que a acompanham no seu adensamento de sentido e significação. Escrever é um acto arqueológico complexo e completo que procura o som e o sentido perdidos, esquecidos. Escrever é uma anamnese que pretende a unidade da coisa com a palavra original. É esse o nome. Escrever é renomear.
Para a Lúiza, para o Soantes. Para os leitores.

24 comentários:

platero disse...

deixar o meu muito obrigado
pelo prazer do texto

rmf disse...

O meu humilde obrigado com as palavras do Platero.

Saúde!

Paulo Borges disse...

A Isabel resguarda o segredo da leitura e da escrita, tão profanado nestes dias alucinados da nossa crescente miséria colectiva. É uma sacerdotisa que se ergue, canto e voz antiquíssimos, no bosque da nossa errância. Abre-nos a clareira de um baptismo sem nome.

Anónimo disse...

Cinco estrelas, Isabel!
Aliás, como todos os seus textos. Sempre belíssimos...

Abraço.




P.S. Isabel, não se importa que eu comente anonimamente, pois não?
É que a minha mãe disse-me:
- Olha que tu não entres naquele blogue, que aquela gente não regula bem da cabeça, são todos loucos!!Estás a ouvir?!

E pronto. É por isso que eu sou anónima! Desculpe.

Anónimo disse...

Ó Isabel, esqueceste-me... ainda ontem falámos!
Ai, ai, só te perdoo pela beleza que és e escreves ...
:):):) ... muitos!

Anónimo disse...

Eis um texto magnífico! Belo...
E anda toda a gente à conversa no "Perfil do Blogger"!

Anónimo disse...

Isabel,

Esperámos o "teu" bosque e ofereces-nos a clareia, o "fogo-solar", não a luz que cega, mas a que ilumina a leitura. As folhas são páginas de luz que o "autor-barqueiro" conduz. É um livro
que nos lê por dentro em letras de poeira estelar. São palavras-luz. Nelas aqueço o coração,porque o inverno já estala na lareira, o "remo amarelo" desprende-se da corrente, e as palavras da leitora
são "Sombras Errantes" Je ne puis plus parler. Comme alors. Je ne m’y risque pas. Je presse le pas sur le trottoir. Je m’éloigne dans l’ombre ...
Um abraço de saudades.

Anónimo disse...

Ao Platero, ao Vergílio, aos Anónimos, ao Paulo e à Saudades:

numa certa corrente, a que fazemos quando nos lemos e aprendemos a ser com os outros, na máxima interioridade com o que uns e outros pensam, cedemos para que entrem na nossa morada. Eu moro no que dizem - e são vocês um bosque - e nesse nomadismo umas vezes sinto calor e outras frio. Numas sinto a infância e noutras o futuro. Mas mais do que agradecer, com estas palavras que me tornam vermelha como uma romã, quero que sintam que vos reconheço como outros insubstituíveis com quem leio. Quero que saibam que quando vos leio, fecho os olhos e vejo o livro. Vocês escrevem num livro com ritmos múltiplos e subo pelo tronco do que escrevem até vos ver nos ramos mais altos. Porque vocês são feitos do papel com que também aqueço a alma. E é importante que vos agradeça a bondade de me lerem. Não consigo dizer mais. Mas vou ler-vos por aí acima. É acima que é o vosso lugar.Acima de mim, acima d' aqui. Sei que vos encontrarei, também sem ser aqui.
A vossa,
Isabel

Paulo Borges disse...

Isabel, já não aceito mais agradecimentos seus: agradecer-me agora só com um livro!

Aguardo.

Sorriso

luizaDunas disse...

BonDia Isabel,

Já estou a ver o Bosque, ao longe. Vou na sua direcção.
Falar-te-ei.

Abraço-te

Anónimo disse...

E eu a ti te vejo.

Anónimo disse...

Venho pelo rio, pela corrente e venho até aqui. Um Flamingo precisa de ouvir os que sabem ler. Quando Deus se silencia, quando o Silêncio é Deus, quando os sons são poemas, o Flamingo descansa e pensa com as asas abertas e entra no seio de uma árvore e ouve Pascoaes perguntar:
"Que é uma árvore, senão uma "actividade" da...actividade?"

Tu, leitora do Flamingo, por lhe seres semlhante, és capaz de responder por que razão um Flamingo, de asas abertas, também escreve poemas e é actividade da actividade? E, por que razão gosta o Falmingo tanto de árvores que sabem de cor os poetas?

Anónimo disse...

A poesia é um voo, em que a linguagem se activa sobre a sua "actividade" de ser comunicação. A poesia é a linguagem a ganhar asas. A árvore é a morada da linguagem.

Anónimo disse...

quem é o flamingo? qual a sua relação com Pascoaes? o que é que eu perdi?

Anónimo disse...

O Flamingo é um texto da Isabel aqui publicado em Agosto. A relação do flamingo com Pascoaes é a mesma do flamingo com a poesia.

Anónimo disse...

Para a Isabel outro bosque



A madrugada não acabava nem começava. Um instante eterno, um momento de paragem e suspensão, um momento para além do tempo. Tendo entrado no bosque para deixar um morto animal, tendo entrado para o entregar ao seu círculo de círculos, ela própria os sentiu sobre si, ela própria se sentiu circunferência de tudo quanto é e existe à mesma distância de nós aos mundos. Círculos dentro de círculos. Num enredo indiscernível entre a vida do pequeno animal morto e ela animal vivo, entre a morte e a vida, entre o tempo e a eternidade, entre a noite e o dia, entre o movimento e a quietude. Círculos dentro de círculos. O grande compasso do Criador a traçar sobre si o segredo de encaixe entre tudo o que é, já foi e devirá. O grande compasso num movimento ininterrupto sobre si mesmo e sobre si mesma.
Quando cessaram os círculos, e o tempo se sentiu não como matemática dos dias, mas como tinta aclarada de um Criador já não geometrizava mas pintor, ela vislumbrou, na luz branca, a ponte. A ponte inacabada, ou muito acabada de um Criador. A ponte rarefeita na sua pobreza decadente, ou a ponte imperfeita no seu esboço cadente de um inventor demorado a aperfeiçoar o existente. Mas mesmo havendo a ponte, ela voltava para trás, como se tivesse descoberto uma parte da realidade por fazer, por acabar, ou já demasiado acabada para poder ser aceite por ela, tocada por todos os círculos da criação em acção.
De súbito um som, um som vindo desse lado da ponte, da realidade ou por fazer ou arruinada, um som inconfundível de uma criatura que miava. Ela despertou não para a realidade, mas para o sonho que há antes e depois da realidade. Num salto, num movimento sem tempo dentro de si, para um espaço improvável em produzir o audível, ela acercou-se da criatura faminta que ela recebeu dentro de si. Ela não era nem do tempo, nem do espaço. Os sons que ouvia eram os da ordem e da desordem do mundo a coincidir. E isso é o círculo amoroso que a fazia estar à mesma distância de tudo o que é de modo inconfundível dentro de nós, quer sejamos visitantes ou habitantes do bosque. O amor é esse círculo que nos faz estar à mesma distância dos vivos e dos mortos que amamos. E amar é estar à mesma distância de tudo, porque o amor é um centro que nos faz girar em torno da origem e nos afasta para fora de nós. No centro do amor não há eu. Há um som que vindo da consciência funda, ilumina a direcção da vida. E é por isso que a ponte mesmo imperfeita nos une ao que parece irremediavelmente inaudível. Não é a ponte que liga, porque só o interior livre de si pode ligar-nos ao incriado. Ela estava nesse centro e a linha do amor unia-a ao que soa como improvável. É por isso que ela brilha como uma estrela na noite escura da vida e é verbo, é sem nome.

luizaDunas disse...

O livro que se lê é sempre um livro que se escreve tanto pelo que se lê como pelo que está e fica eternamente invisível, não digo por escrever. É da natureza própria da leitura: a escuta e a escrita. A errância.

O Bosque chamou-me a atenção, ao avistá-lo, parei. E escrevi. Ao continuar na leitura vejo a imagem. E fui lendo à medida que caminhava para o Bosque, isto é, fui lendo enquanto escrevia. Só que o que se avista, ao perto ou ao longe, perde a distância. E o que inicialmente parecia ser a capa de um livro, logo o livro desenganou, destapando-se. Qual capa! Ao continuar a ler, escrevi, e encontrei as Sombras Errantes. Errar é humano, disseram-me iluminando-me. Gosto da Caldeira na Noite, Isabel.

Anónimo disse...

Cara Isabel Santiago, tenho lido com muita atenção os seus belos textos, que são realmente admiráveis. Permita-me todavia uma pergunta: qual é a sua visão do mundo? Filosófica.

Anónimo disse...

Leitora do flamingo
Obrigada leitora do flamingo pelo seu texto. Leitora ou flamingo. Também gosto muito de ler pessoas. Pessoas que são tão livres como livros.
Um aceno branco

Luiza:

a leitora é uma escritora. Na leitora está invisível a escritora? E os dois gestos, o de ler e o de escrever, são errância?
Na resposta a estas perguntas eu digo que sou do caminho, de uma quietude inquieta.

E escrever é, também paralelamente, ler. A escritora é também legente. Num acto há sempre a sombra de um outro. No ler há a sombra do escrever e no escrever há a sombra do ler. Esse caminhar na quietude inquieta, na luz escura, no verbo escuro, é a caldeira onde me cozo. E a tudo o que recebo cru. Sim, Luiza, sou uma humana em errância e quase nunca em concordância. Sobretudo comigo e com o que sou. Porque, como no verso de Píndaro, sou a sombra de um sonho.
Não sei se percebi ou distorci o sentido do que quiseste conversar comigo. Mas, entendendo o que disseste, confesso a ferver, que sou na Caldeira.
Um abraço saudoso.

Caro Anónimo

muito, mas mesmo muito sinceramente só sei responder assim: sou a síntese de muito disto que lhe confesso que fala comigo. Parménides, Heraclito, Platão (muito mesmo), algum Aristóteles (o da ética e o da poética, algum da física); Pseudo Dionísio, Eckhart, Santo Agostinho, São Boaventura, Dante, Espinosa, Leibniz (por causa de um grande amor), de Kant (mas do Kant que o excelente professor do secundário me ensinou e ficou insuperável). Do Hegel que fala do amor e só, de Nietzsche, Kierkegaard, Merleau-Ponty (muito intensamente e desassombradamente), de algum Derrida, de Nancy, de Levinas (em muito), de algum Heidegger, de Benjamin, de Simone Weil (bastante marcante). Pascoaes, Coimbra, li Pessoa...e tenho experiências heterogéneas com...li também textos orientais que recomeçam, depois da faculdade, a insinuarem-se como determinantes para além de mim. Gosto dos escritores austríacos quase todos e muito, para além de Kafka que é incontornável dentro de mim, gosto de Homero, gosto de Melville, gosto de Agamben, Citati...
O que sou e vejo resulta destes, e se os elenco sem ordem e à medida que lhe fui respondendo, é porque assumi para esta resposta a "lei" que assumo desde que me ensinaram a ler: não escolho, sinto que fui por eles escolhida. Nunca iluminei, sinto que fui semre iluminada. Estes autores não me deram uma visão do mundo. Deram visões. Desculpe se o decepciono, mas acredite que é a máxima exposição, ainda que incompleta, que faço de mim. Não sei limitar o que me atravessa num juízo do tipo: "Isabel é...." O que fica por preencher, seja lá que predicado for, não é adequado. Sou a leitora do que li e do que lerei. Cabe-me agradecer-lhe a atenção aos textos. Eles são a resposta à pergunta. A sua atenção sabe que não o enganei nesta resposta.

É este leitor o que me pediu a carta a Rilke?
Receba um sorriso grato.


Por fim,para a mãe da anónima lá de cima e para brincar...lembrei-me de partilhar com ela esta frase do Pascoaes que li por estes dias e é mais sábio de tudo o que poderia dizer: "Basta que enlouqueça, em nós, um sentimento, para sermos doidos declarados. Quando ele acorda, desnorteamos; quando adormece, entramos no domínio do bom senso. Temos a loucura intermitente." Com essa vos saúdo, por causa do sentimento desnorteado da amizade...

Anónimo disse...

Obrigado, Isabel. Fiquei a admirá-la ainda mais. Sou outro anónimo, não o que lhe pediu a carta a Rilke.

Anónimo disse...

Caro Anónimo

"Nulle chose n'est plus divine (si tu peux le comprendre)
Que de n´être pas ému,maintenant et dans l'éternité."

Silesius, Le Voyageur Chérubinique

Comove-me a ideia e o sentimento de haver leitores...sinto que caminho para um centro que não importa onde e se fica em lugar algum. Comove-me que fale comigo...e agradeço-o. Muito.

Anónimo disse...

E gostei muito do seu texto e dos seus comentários e também dos comentários dos comentadores, mas diga-me cara senhora: pode traduzir o que escreveu em francês? é que eu sou mais da geração de inglês, bem sei que não era para mim, mas... eu também sou leitor a partir de agora.
Hei-de passar aqui mais vezes.

Anónimo disse...

Leitor que desce e parou por aqui:

sugiro como tradução do aforismo de Silesius o seguinte:

"Nenhuma coisa é mais divina (se o podes compreender)
Do que não estar comovido, agora e na eternidade."

Este "estar" leio-o como ser em estado de comoção. A vida é divina, pela sua diversidade, pelos encontros, pelos desencontros, pelas aproximações e pelos afastamentos, por todos os movimentos, e todos parecem mover-nos no sentido de que aquele que os sente não só se move, mas se comove por pressentir que há em cada instante um rasgo, um indeterminado que tantas vezes nos aflora no suspiro e no silêncio, para a eternidade. Porque o tempo explica, mas não nos implica com tudo o que somos e com tudo o que é. Quase me desencontrava de si,não fosse alguém avisar...e não o recolheria na conversa com o Bosque. Esse lugar onde há uma corrente maior do que todos os instantes. Que o Bosque inspire palavras, silêncios e clareiras por entre a acção difusa do tempo.
Receba o meu sinal de agradecimento num sorriso que me ilumina para o presente e para fora dele. Porque é um sorriso comovido.
E suba, suba por ai acima: há tanta gente neste blog a escrever bem, a pensar melhor, a ver tanto e tão bem...e suba porque no cimo da Montanha há sempre um esperado inesperado. E todos os seres merecem esperar o inesperado. Como este seu terno comentário.

Anónimo disse...

agradeço, cara Isabel. Obrigado pela tradução e pelas suas palavras.