sábado, 4 de outubro de 2008
não espero
apenas acrescento às horas uns bocados de ter visto
uns restos de campanários na aldeia em que vivi a infância possível
tudo se acerta por essa vara cravada no chão
que obriga o sol a sangrar uma sombra
que aponta o agora como o que se entranha nas bocas acesas
de querer
amar é um estuque
e as paredes de estar à escuta
abaulam para fora e parece que a perdição engravidou
e vai dar à luz um navio de bruma
de onde os pássaros poderão cruzar as ânsias
e as expectativas
os pássaros dos dedos
unidos em bando nas mãos esquecidas
nuvens os pés
rochedos no peito são uma praia
o mundo todo
o corpo
de onde se evadiu uma alma secreta
mergulho a respiração é toda a atmosfera a iniciar-se
na lonjura de não ser
que sombreia as razões e os recessos da memória
parto
a vida é uma fome a levedar-se para dentro
há bocados de ter sido espalhados por aí
serão pasto das impossibilidades necrófagas
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5 comentários:
gostando muito de HH, não podia deixar de gostar deste poema de PF
um abraço, Paulo
"tudo se acerta por essa vara cravada no chão
que obriga o sol a sangrar uma sombra"
Outra qualquer passagem do seu pensar serviria de desculpa para agraciar o poema mas, esta em especial a sublinho, como forma subtil de dizer Tempo, Espaço, Volume...
Muitas das vezes faltam-nos as palavras certas para "aquela imagem" que a nós diz tudo, dizendo nada ao mesmo tempo. Esta imagem é um exemplo... http://banhosdecinza.blogspot.com/2007/03/so-horas.html. Se assim o desejar, gostaria que fossem as suas palavras, a dar-lhe tudo o que lhe falta, o Volume e o sentido.
Um abraço, subscrevendo na íntegra as palavras do amigo Platero! :)
Parabéns!...Um grande abraço!
Corpo e alma.
"os pássaros dos dedos
unidos em bando nas mãos esquecidas
nuvens os pés
rochedos no peito"
gosto das metáforas, das imagens, que associam a natureza ao corpo. Gosto e consigo vê-los assim, os dedos, as mãos, os pés, o peito.
"o corpo
de onde se evadiu uma alma secreta"
Esta é a minha frase eleita deste poema, Paulo.
Porque sinto isso diáriamete.
Nem sempre é bom sentir que não estamos em nós,
Ou que, sendo nós, não somos o que vemos, somos outra coisa.
Mas há dias em que corpo e alma se unem. Esses dias de Sol quente e de céu azul onde reconhecemos os dedos, as mãos, os pés e o peito.
:)
Grata estou pela partilha do poema*
Eu também não espero, caro Paulo, mas aguardo a vista plena do campanário que me dobra como aos sinos e suspende nos céus um rebate e afundamento.
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