O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 30 de março de 2010

curso do rio Homem



"Amas
como pudesses mudar o curso do mundo,
como pudesses alterar as razões da vida,
como pudesses mudar o curso do largo rio
com uma simples colher...

E ninguém te avisa ou te pergunta:
onde vais com essa peça de talher?!

Amas,
e amas tanto,
que sensibilizas quem te vê cavando,
assim,
tão entretida,
tão meiga e faceira,
como quem cavasse para plantar uma roseira...

Mas queres mudar o curso do rio!
E ninguém há que ao menos te dissesse, tão somente,
que,
se esperança quisesses ter,
talvez devesses tentar na nascente...

Não podes mudar o riacho que já se fez,
o rio que já se avolumou!
Eis o que é amar - remudar o curso que a vida
tantas vezes já mudou...

Mas,
sensibiliza-me tanto,
ver-te tentar,
que talvez,
deva eu pegar minha perdida colher
e cavar bem fundo em mim - p'ra te ajudar!"

O curso do rio, de Marcelo Souza Bandeira
Foto: Rio Homem, de António R. Dias

4 comentários:

Kunzang Dorje disse...

belo o rio homem... grato pelo poema que evocou as minhas memórias de infância passada num lugar entre o rio Homem e o rio Cávago, quando o tempo era eterno nas brincadeiras da meninice.

abraço, anaedera :)

Anaedera disse...

também recordo o mesmo espaço,
da infância...
e
como o meu tempo ainda me permite
passar por aqui,
deixarei mais lembranças.
abraço

Unknown disse...

Gostei do poema. Muito. Mesmo.
Lembrei o Rio Sabor e lamentei: um lamento pobre, como quem solta um grito sem eco.

1 Abraço,

Sandra Ferreira

Anaedera disse...

grito bem ouvido,
até aqui...
Obg