O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 16 de março de 2010

"Era tão grande o seu amor por ela..."

"Era tão grande o seu amor por ela que teria conseguido levantar a tampa do caixão - se a flor que ela aí colocou não fosse tão pesada"

- Paul Celan, Contraluz, 1949.

3 comentários:

Anónimo disse...

Mas é tão maravilhosa esta frase de Celan que sinto na pele o caule dessa flor e o peso tão grande desse Amor.

Gostei muito. Do jogo entre o peso da morte e a delicada flor que brota da vida e o peso do Amor que da rosa "da morte" se enamora... Morrer e nascer no gesto do outro!

Imenso poeta!

Isabel Santiago disse...

Para Celan a "morte é uma flor". Arrancar a flor da terra é matá-la, deixá-lá, lá, no seu repouso é fazê-la viver na sua durabilidade plena. Um amor deve deixar-se entregue à terra que o faz durar, para além da posse e do toque. E se a morte fosse a vida para lá da duração?

Anaedera disse...

"Enterra a flor e põe o homem sobre esta campa."
Paul Celan