O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 25 de março de 2010

partida

Tudo se mostra

neste gesto de arredar a cortina

Para ver se lá fora chove

Tudo até as estrelas mais distantes

Assomam de leve a incomensurabilidade dum sorriso

Na verdade tudo presente e ausente

Numa ondulação de sempre

Dá uma consistência quase madura

À fugacidade das coisas

E ao de leve a noite vem

E o longe apaga-se nas cores do aqui

E do firmamento mostra a perfeição impossível

É a hora do lume e do abandono

A derrota suave de todos os começos

A muralha do sono em breve virá circundar a mente

Com um oceano de águas argênteas

E num barco de marfim

Serei de novo nauta dos avessos

2 comentários:

platero disse...

"Nauta dos avessos" - gostei de navegar o teu poema

abraço

Semente disse...

Será uma 'Partida' perfeita!

A distância ainda me permite voltar, quando as marés me trazem aqui.
gostei muito, Paulo!

Beijinhos*
e beijinhos ao Platero*