terça-feira, 16 de março de 2010
ALQUIMIAS, de Ângelo Rodrigues
Introdução
Por Isabel Rosete
Erotismo, sensualidade, irreverência imagética, mesclados por um pensamento de fertilidade singular, que sempre tenta fugir à vulgaridade, ao ridículo do dizer comum das frases feitas, para isto ou para àquilo, tanto na presença dos temas ordinários, como perante a manifestação dos mais insólitos ou hilariantes, são os traços unificadores de Alquimias.
Entre a tanga e a treta ou a treta e a tanga (tanto faz!), entre Deus e o Diabo, ou qualquer outra silhueta do género, Ângelo Rodrigues caminha rumo a uma realidade realista (o pleonasmo é propositado) e quase-surrealista, num dizer marcado por uma poética da sensibilidade dos interstícios. Vai às entranhas do trivial e extrai-lhes o sumo e o miolo. Nada passa despercebido aos seus olhos microscópios inscritos numa alma de filósofo. Sim, de filósofo! Aquele que vê para além das aparências e que, tal como o poeta, que também é, sorve os pormenores das coisas-mesmas na sua essência primogénita.
Homens, mulheres, meninas, vampiros e outras criaturas que tais, estão, ao mesmo tempo que pairam e vagueiam, pelas páginas desta antologia policromática e multiforme. Mas, não são os únicos! Também há a Deolinda, os extra-terrestres, a vizinha do lado, o Sebastião e o Sócrates, o Soares e o Manel Feijão que, em competição ou não, partilham o mesmo “esperma sagrado” em qualquer “tourada à portuguesa”.
Espelhos e sonhos, bruxas e papas (sejam lá de quê!) envolvidos em estórias de incógnitas, mistérios, enigmas, por vezes esfíngicos, convidam o leitor a uma saga onde a Palavra – em poesia ou em prosa – fala mais alto, entre os anjos e os homens, entre o céu e o inferno. Mas antes, detenhamo-nos num passo intermédio: o Purgatório, onde os primeiros pecados são redimidos. E depois? Avança-se rumo ao infinito próximo da mortalidade a que estamos, irremediavelmente, sujeitos.
Todos os caminhos de bifurcam por entre o céu azul, a procura da verdade, algures por encontrar, no campo ou na cidade, em qualquer espaço deste mundo, ora visível, ora empoeirado ou enevoado, delimitado por um Tempo que sempre passa e só volta no ressurgimento das memórias do cantar e do celebrar.
Alquimias é, ainda, o esconderijo de muitos segredos onde o autor se revela, de um modo peculiar, também pelas letras das suas canções. Ao pensar e ao poetar, junta-se o musicar. A arte das musas, na sua linguagem universal, circunda o espírito do autor ávido do dito e do não-dito, acompanhado pelas aves do seu paraíso ou pelo cavaleiro das estrelas de um céu claro que lhe/nos indica um certo Destino.
Inventemos, exorcizemos…ousemos uma outra linguagem ou até uma meta-linguagem, de um certo ponto de vista, para dizer o aparentemente inefável, o que é encoberto por um pudor inexplicável, como se tudo no Homem e na Vida não fosse pura naturalidade. É este, seguramente, um dos grandes apelos de Ângelo Rodrigues, sempre para além ou para aquém de qualquer máscara ou dissimulação.
Um espírito sensível e sensibilizado, dialogante e afinado, como é o do autor, abrange e espalha-se por todos os lugares, até mesmo por aqueles que se mostram mais inacessíveis. Acompanha os passeios de Deus e os da Humanidade, bailando no centro das almas, nem sempre dispersas. Está, aí, em parte certa ou incerta, a escutar o Mundo na sua máxima exuberância ou esplendor, como Dionísio, em pleno estado de embriaguez, nas entranhas da Terra, sentindo com os instintos sem afastar a Razão, movendo-se pelo excesso (medido) de todas as hipérboles, ousadas ou não ousadas, mas sempre personificadas e presentificadas nas frontes de todas as noites iluminadas, esperando, expectante, na face oculta do Mistério.
Consagra-se como poeta, e como os poetas, aos silêncios falantes e à peregrinação, inevitável a todos os seres humanos, no campo da Verdade e da Imortalidade, num Éden, outrora perdido, que urge, agora, re-inventar.
Rejeita o tédio e a claustrofobia quotidiana para que não se lhe esgote a alma. Também busca o Amor, tomado como um propósito determinado e um fado (o fado fadado de todos os homens, sem excepção alguma), como uma força implacável que o move, consciente ou inconscientemente, sem eufemismos, na presença do perfume das rosas.
Aqui está, Ângelo Rodrigues, com as suas Alquimias, uma obra de um ecletismo incomparável – conto, poesia, prosa, canções, entrevistas, aforismos, filosofias e outras coisas que tais – acompanhado pelo desejo do Todo, da Plenitude, porém com impaciência, numa espécie de catarsis musical proporcionada pela linguagem das aves migratórias, tão errantes como ele próprio, que ao seu ouvido sussurram, iniciando-lhe e iniciando-nos uma espécie de terapia poética, rondante dos limiares do absoluto, entre os domínios da vida e da Morte, nem sempre em silêncio, nem sempre em oração.
E assim escapa às encruzilhadas paralelas do labirinto do Minotauro, pisando o fio de Ariana visível, quiçá, em qualquer noite de Lua cheia, de onde o nevoeiro se afasta, definitivamente. E porquê? “Porque sim!” Sem perplexão.
Bebamos mais um sonho possível na lúcida loucura das palavras inebriantes deste mago dos mais indecifráveis enigmas, entre o céu e a terra, os mortais e os divinos, num eterno-retorno do outro e do mesmo, por vezes, num certo lastro de dúvida metódica.
Isabel Rosete
Janeiro de 2009
Por Isabel Rosete
Erotismo, sensualidade, irreverência imagética, mesclados por um pensamento de fertilidade singular, que sempre tenta fugir à vulgaridade, ao ridículo do dizer comum das frases feitas, para isto ou para àquilo, tanto na presença dos temas ordinários, como perante a manifestação dos mais insólitos ou hilariantes, são os traços unificadores de Alquimias.
Entre a tanga e a treta ou a treta e a tanga (tanto faz!), entre Deus e o Diabo, ou qualquer outra silhueta do género, Ângelo Rodrigues caminha rumo a uma realidade realista (o pleonasmo é propositado) e quase-surrealista, num dizer marcado por uma poética da sensibilidade dos interstícios. Vai às entranhas do trivial e extrai-lhes o sumo e o miolo. Nada passa despercebido aos seus olhos microscópios inscritos numa alma de filósofo. Sim, de filósofo! Aquele que vê para além das aparências e que, tal como o poeta, que também é, sorve os pormenores das coisas-mesmas na sua essência primogénita.
Homens, mulheres, meninas, vampiros e outras criaturas que tais, estão, ao mesmo tempo que pairam e vagueiam, pelas páginas desta antologia policromática e multiforme. Mas, não são os únicos! Também há a Deolinda, os extra-terrestres, a vizinha do lado, o Sebastião e o Sócrates, o Soares e o Manel Feijão que, em competição ou não, partilham o mesmo “esperma sagrado” em qualquer “tourada à portuguesa”.
Espelhos e sonhos, bruxas e papas (sejam lá de quê!) envolvidos em estórias de incógnitas, mistérios, enigmas, por vezes esfíngicos, convidam o leitor a uma saga onde a Palavra – em poesia ou em prosa – fala mais alto, entre os anjos e os homens, entre o céu e o inferno. Mas antes, detenhamo-nos num passo intermédio: o Purgatório, onde os primeiros pecados são redimidos. E depois? Avança-se rumo ao infinito próximo da mortalidade a que estamos, irremediavelmente, sujeitos.
Todos os caminhos de bifurcam por entre o céu azul, a procura da verdade, algures por encontrar, no campo ou na cidade, em qualquer espaço deste mundo, ora visível, ora empoeirado ou enevoado, delimitado por um Tempo que sempre passa e só volta no ressurgimento das memórias do cantar e do celebrar.
Alquimias é, ainda, o esconderijo de muitos segredos onde o autor se revela, de um modo peculiar, também pelas letras das suas canções. Ao pensar e ao poetar, junta-se o musicar. A arte das musas, na sua linguagem universal, circunda o espírito do autor ávido do dito e do não-dito, acompanhado pelas aves do seu paraíso ou pelo cavaleiro das estrelas de um céu claro que lhe/nos indica um certo Destino.
Inventemos, exorcizemos…ousemos uma outra linguagem ou até uma meta-linguagem, de um certo ponto de vista, para dizer o aparentemente inefável, o que é encoberto por um pudor inexplicável, como se tudo no Homem e na Vida não fosse pura naturalidade. É este, seguramente, um dos grandes apelos de Ângelo Rodrigues, sempre para além ou para aquém de qualquer máscara ou dissimulação.
Um espírito sensível e sensibilizado, dialogante e afinado, como é o do autor, abrange e espalha-se por todos os lugares, até mesmo por aqueles que se mostram mais inacessíveis. Acompanha os passeios de Deus e os da Humanidade, bailando no centro das almas, nem sempre dispersas. Está, aí, em parte certa ou incerta, a escutar o Mundo na sua máxima exuberância ou esplendor, como Dionísio, em pleno estado de embriaguez, nas entranhas da Terra, sentindo com os instintos sem afastar a Razão, movendo-se pelo excesso (medido) de todas as hipérboles, ousadas ou não ousadas, mas sempre personificadas e presentificadas nas frontes de todas as noites iluminadas, esperando, expectante, na face oculta do Mistério.
Consagra-se como poeta, e como os poetas, aos silêncios falantes e à peregrinação, inevitável a todos os seres humanos, no campo da Verdade e da Imortalidade, num Éden, outrora perdido, que urge, agora, re-inventar.
Rejeita o tédio e a claustrofobia quotidiana para que não se lhe esgote a alma. Também busca o Amor, tomado como um propósito determinado e um fado (o fado fadado de todos os homens, sem excepção alguma), como uma força implacável que o move, consciente ou inconscientemente, sem eufemismos, na presença do perfume das rosas.
Aqui está, Ângelo Rodrigues, com as suas Alquimias, uma obra de um ecletismo incomparável – conto, poesia, prosa, canções, entrevistas, aforismos, filosofias e outras coisas que tais – acompanhado pelo desejo do Todo, da Plenitude, porém com impaciência, numa espécie de catarsis musical proporcionada pela linguagem das aves migratórias, tão errantes como ele próprio, que ao seu ouvido sussurram, iniciando-lhe e iniciando-nos uma espécie de terapia poética, rondante dos limiares do absoluto, entre os domínios da vida e da Morte, nem sempre em silêncio, nem sempre em oração.
E assim escapa às encruzilhadas paralelas do labirinto do Minotauro, pisando o fio de Ariana visível, quiçá, em qualquer noite de Lua cheia, de onde o nevoeiro se afasta, definitivamente. E porquê? “Porque sim!” Sem perplexão.
Bebamos mais um sonho possível na lúcida loucura das palavras inebriantes deste mago dos mais indecifráveis enigmas, entre o céu e a terra, os mortais e os divinos, num eterno-retorno do outro e do mesmo, por vezes, num certo lastro de dúvida metódica.
Isabel Rosete
Janeiro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário