O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 2 de março de 2010

Quem se Espera

a Baal,




"Quem esperamos? Quem,
No silêncio, na sombra, no deserto?
O Menino divino de Belém,
Ou o rei Encoberto?
Esperamos alguém:
Qualquer que tenha o coração aberto.

É demais esta ausência, este vazio!
Quem adorar, servir, como Deus e senhor?
– O que estender a ponte sobre o rio
Da miséria e pavor !
O que apascente e que semeie em desafio!
O que disser:

Eu sou! E for."


António Manuel Couto Viana
imagem: CqM Viana do Castelo

18 comentários:

rmf disse...

E enquanto se espera? O que se espera em quem?

Anaedera disse...

E o que podemos ver em quem esperamos, senão nós mesmos?
Se tudo o que é, já existe, então basta deixar que ocorra.
Permitindo ao outro que cresça, até nós, na liberdade de todos.
Pois:
"O tempo dos outros é o tempo de Deus."

Anaedera disse...

Mas sempre chega a hora de agir!

rmf disse...

Como posso eu agir, se me encontro na inanidade?

baal disse...

'e o que podemos ver em quem esperamos, senão nós mesmos?
se tudo o que é, já existe, então basta deixar que ocorra.'

sobre isto vou pensar e não é fácil.

sempre acreditei num princípio e numa finalidade. e que nesse princípio tudo estava definido, a liberdade não passa de uma ilusão.

obrigado anaedera (pela dificuldade).

rmf disse...

Por quê o porquê de se esperar? Porquê?

João de Castro Nunes disse...

Ainda não viram que, para o BAAL, todas as "esperanças" foram para a cova com o josif... de bigodeira aparada e em vias de canonização pelos ortodoxos, em cujas igrejas ele ia por vezes fazer as suas orações... encapotadamente, à sorrelfa? E lembrar-se a gente que ele descendia de uma família judaico-portuguesa! Que glória! Qual Menino Jesus ou D. Sebastião!
Djugashwilli, ó Anaedera, Djugashwilli! JCN

Anónimo disse...

"O que disser:
Eu sou! E for".

Este poema é toda uma conversa com o Baal e com o que em nós medita sobre o que espera, cada um de nós, de si, no mundo e no mundo em si.

Este final, retira toda a esperança vã de encontrar esse Menino divino fora de nós mesmos.
Esperamos alguém que dorme, mas simultaneamente age: estende "...a ponte sobre o rio/Da miséria e do pavor!" Estende a ponte!

Em quem esperamos, já cá está e o devir nasce, sempre que formos, vamos!

Um abraço. Gostei muito deste poema. Acho que está muitíssimo bem dedicado.

Daqui mando um abraço a Baal, o nosso deus "deleuziano!" e imanente...

baal disse...

pelo menos o 'josif' mandou o crápula do hitler para a cova.

'senhora que o velho se quer levantar
dá-lhe na corneta e põe-no a andar.'

à luta

Anaedera disse...

Isso mesmo Saudades,
Esperar é adormecer, até que desperte o que só pode estar em cada um.
Uma acção latente de já estar a ir. A plenitude da força, no que está parado.
Porque espera...
Obg

R.Felix
Tudo o que é vivo mexe!


Baal
Também acredito num princípio e num fim.

JCN
Djugashwilli?!

Anónimo disse...

Sinceramente... Que música de banda!
No próximo carnaval vou desfilar com as vossas palavras e uma lágrima pintada debaixo de um olho!

platero disse...

Não conhecia nada do poeta.
antes de acabar leitura do poema pensei que estava a ler "Saudades"
-uma versão soft de Saudades para mimosear Baal

as pontes são estruturas terríveis
para as cogitações dos indecisos. é a meio das pontes que eles se questionam se devem prosseguir ou
retornar.
Só os indecisos?

Anónimo disse...

Mas que grande elogio que o Platero deu à Metáfora que constitui o poema de Saudades!

Essa da "versão soft" é que me deixa um bocadito confusa e em meditação. Um mimo é coisa que gosto de oferecer. Dir-se-ia que dependo deles para receber em dom e dádiva.

Anaedera, a versão feminina ou travestida (Platero, será um novo Fausto?) do menino da lágrima deixa-me sensibilizada. Pelo bom gosto, já que o bom senso!...

Um beijo a todos.
Estou realimente muito constipada!

P.S. Que saudades tenho eu de Lapdrey!
Há, mas já não está cá.
Parece que nem com pontes, o fazemos voltar! Até porque não seria preciso: o sujeito tem asas!
Fausta, Fausta!!!

platero disse...

porque a meio da ponte há ainda uma
outra alternativa
:
jogar-se dela abaixo

Anónimo disse...

Ó saudades, gosto tanto quando te atravessas por mim. Até parece que bebo red bull, ganho asas de tão permeável... Sempre que falas comigo, não sou eu e é bom. O Ser existe porque outro existe e a sua importância é relativa à importância de outro porque o outro é que é um Ser.

Um afago. Na ponte.

Anónimo disse...

Faus(tina)
Agarra na ..tina e toma banho para te passar os gostos dos afagos nas pontes...

Estranhos gostos!

Mas está bem, cada um... com a sua... "permeabilidade".

Quanto ao poema, é muito belo. Eu "achar"!

Beijinhos

Anónimo disse...

A tua mente é uma ilusão, saudades. Eu ter a certeza. Espreito-te para dentro e o deserto é um oásis pintado no céu, essa parede que nunca devia ter rodado para cima.

Anónimo disse...

Faust(anda),

"Tás-te a passar?!"

Não vês que a ilusão faz tempo que deixou de ter Saudades?
(sorriso)

Gosto da parede a rodar para cima.
E aprecio muito as metáforas que usas.

Também te acho graça. Muita.

Se tivesse tempo e não tivesse um bocadinho febril, ensinava-te algumas para acrescentares ao oásis do céu por onde me espreitas.

Um beijinho, Fausta.
A Anaedera, baal, Rui e JCN e Platero, claro. Um sorriso de simpatia

P.S. Viste por aí o Lapdrey? Tenho tantas Saudades dele! Mas sei que ele não volta... e não me importo...

A ninguém espero!