O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 20 de março de 2010

Não tenho pressa


Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde
    o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
 vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

- Alberto Caeiro

5 comentários:

Anaedera disse...

... "vivemos vadios da nossa realidade"...
mas não será essa vadiagem
que a faz avançar?

Kunzang Dorje disse...

... ou não será essa realidade que faz avançar a vadiagem sem, contudo, nos apercebermos?

Anaedera disse...

E então assim se avança!

Kunzang Dorje disse...

será que se avança mesmo?

Anaedera disse...

Sempre se avança,
mesmo que retornando ao semelhante,
já se esteve, já se partiu
e já se voltou.
Nada é igual.