sábado, 20 de março de 2010
Não tenho pressa
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde
o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
- Alberto Caeiro
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5 comentários:
... "vivemos vadios da nossa realidade"...
mas não será essa vadiagem
que a faz avançar?
... ou não será essa realidade que faz avançar a vadiagem sem, contudo, nos apercebermos?
E então assim se avança!
será que se avança mesmo?
Sempre se avança,
mesmo que retornando ao semelhante,
já se esteve, já se partiu
e já se voltou.
Nada é igual.
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