O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 1 de março de 2010

bom dia, bom dia, bom dia

Bom dia pátria, bom dia meus ex-colegas de turma, meus cultivadores de amoras, meu sino que agora tocas piedoso. bom dia vento, vento suão, vento parado, vento ventoso.
bom dia irmãzinha, como vai a nossa vida para além dessa túnica?

serafim, joão, teresa, manela, bom dia! a todos que vão na estrada chuchando o dedo, ao sinatra na rádio, ao polícia que aceitou mais uma burla, à criança que pinta a sua passadeira, bom dia, aí comboios para a índia, bom dia céu, olá inferno, há quanto tempo,
olé olá petroleiros desesperados, jean sartre levantado da campa, saramagobytes, bom dia configurações do homem, bom dia ó pétalas, ó ideias, ó mar da apúlia, ó abastados e outros sem nada, sérios e moinantes, carecas e peludos, letrados e aprendizes, comunas e descomunados,

bom dia ao sol, à chuva que perfura a terra, ao senhor matias da tabacaria, à dona filomena da cavalaria. como vais relojoeiro com o teu bico doirado, e tu, cego da concertina, tudo bem meu irmão de outra mãe, ó ana das minhas loucas lembranças, ei carro-de-bois de onde vens para onde vais, allô rio de janeiro, é só para te lembrar que estou aí pra semana que vem, então meu cavalo branco, estás pronto para mais um dia, ei pregador de manias, cuspidor de salivas.
olé olé limousines e carros velhos, como vai a nossa vida meu anjo meu escaravelho, bom dia portugal de jeans cossados,
aleluia carteiro, estava a ver que não vinha, olha aí carniceiro, cuidado com os dedos,

bom dia todos ouvintes outrintas ouquarentas, bom dia bife de fígado para o jantar, minha roda de moinho movida a hidro-pensamento,
olá pescador onde pescaste a minha dor,
ó silva pereira ó pereira da silva estamos juntos separados, bom dia, bom dia, bom dia centrais nucleares que desejais não serem acordadas, bom dia senhor ministro o que é que vem a ser isto, ei tu aí de saco cheio na cabeça, bom dia, paisagem, antenas, gruas, bichos-carpinteiro, a todos aquele abraço da manhã,
sem me esquecer de ti camisa rota,
surfistas em campo de milho,
dançarinas da meia-noite,
a ti também ó jesus que lá vou eu, e a ti ó tás-te a passar,


senhor doutor não fale mais em partir, ai que me arrepio, vai mais uma bolacha comendador. buenos dias a tu padre y a tu madre em limpeza espiritual, good morning capitão para que lado vou morrer? já agora um xi-coraçao à minha alma que conduz o meu sapato, ao meu peito em ruínas, que saudades de outros tempo!
um bom dia ao amor, mas que não volte a acordar tarde,
aos ombros deste grandioso andor,
aos manetas que me querem cumprimentar de mão e não podem,
ao lobo que anda por aí, ao salário que ainda há-de ser,
às amizades futuras que não contem comigo.
bom dia fortunas colossais, bom dia miséria sem inventário para descrever, famosos desconhecidos, à lógica sem ter lógica,
polícia ladrão,
padre sem vocação,
cabeça de pescada no prato,
os meus carnurentos bons dias,
ah quase me esquecia de vós outono\inverno que quando soprais, escolheis mal quem ides ferir,
ó sogreguidão que mal te fiz eu,
ih psicólogos armados em dramaturgos, oh tostão furado no olho direito da felicidade, eh batalha de leões contra formigas,
cantai ó velhos-novos acamados, ó lepresos, leprosozinhos parabéns a vocês,
se ainda tenho forças para vos dar bom dia é para vós arcanjos enganosos, reis de copas sem dama, minhas traças na roupa, minhas queridas revolucionárias, que vos saiba bem a minha pele também, os meus pensamentos cuidado, que dão azia,
xau aí minha santa, boa viagem para a coreia, que mal fiz eu em ser assim, bom dia greves e feriados, olho negro da costureira que diz que se aleijou,
a todos, a muitos todos, a minha voz ao alto, no empedrado onde deus pinta retratos, os meus sinceros bons dias, até outro dia, que eu agora...ah...que eu agora... vou dormir!

7 comentários:

Anónimo disse...

Vai trabalhar!

baal disse...

vai sonetar. andaste nas bagaçeiras do fp? é que nem o àlvaro era assim intempestivo.

platero disse...

DORMISTE BEM?
quem escreve assim já não deve ter facilidade em conciliar o sono

abraço

João de Castro Nunes disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ethel disse...

enquanto dormes acordo, e por ti dou a quem esqueceste ou não tiveste tempo: -bom dia!
ao fulano de tal, ou ao senhor Figueiredo da tabacaria:
-Ó senhora doutora, esqueceu o jornal? E eu nem respondo porque doutor é o médico do quarto esquerdo.
-bom dia Senhor Figueiredo, meu nome é Maria!
A todos os outros que não mencionaste fui um a um e disse bom dia. Até a ti que agora acordas, te segredo baixinho:
-Bom dia amigo, que já se faz tarde.

João de Castro Nunes disse...

Continua a "barrigada" dos bons-dias! JCN

platero disse...

Voltei a ler
E cada vez me agrada mais.
bom trabalho

abraço