O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 21 de julho de 2009

XVI

De cada vez que um de nós morre
há uma faca apontada às jugulares:
o silêncio como mantimento.

A morte equilibra-se em nossos corações
com o deslumbramento.

Há-de haver um corpo que transite de alma em alma
e em cujos olhos se alumie a força brutal da mesma vida.
Há-de haver uma voz desvairada que se derrame como napalm
sobre a noite que nos envolve.

Por agora não sei como tocar a distância de onde nos falam.


de O vento soprado como sangue, Cosmorama, 2009.

11 comentários:

trauteando disse...

Música. Ridiculamente tonal. Há que tomar precauções apocalípticas e dar solução ao piano. Nada de sétimas diminutas que, de tão românticas, esbofeteiam qualquer nazi que se preze. Não. A retórica da solução final é trocar o piano pela bateria e fazê-la explodir na jugular do ouvido. Dá-lhe gás que não quero ouvir mais nada. Quando o som não consegue legitimidade torna-se patológico. É uma forma de silêncio como outra qualquer. Colcheias a torto e a direito, com toda a força, que a pauta é de cinco em linha e estou farta de melodias lamacentas de Dalai felicidade, dependuradas em claves de sol. Ah Ah Ah!
Tá bem abelhas – diz a vítima, de auscultadores em cada tímpano a curtir o belo do Requiem de Mozart. Morri por hoje.

Paco disse...

Escreves bem mas és estúpido.

Paco disse...

Falo do comentador, claro.

RECTIFICAÇÃO disse...

Eu sou UMA GAJA! Respeito!

Isabel Santiago disse...

João,

recebe o meu melhor abraço. Já sabes o que penso. Já sabes o que sinto. Continua, a escrever...a escrever...a ser escritor!

Tamborim disse...

Lindíssimo. Inquietante também.

Anónimo disse...

Sem nada com nada quanto dá?

Anónimo disse...

E tu, Isabel, quando é que nos presenteias com um dos teus belos textos?

presente disse...

anónimo, escreves sempre com os cotovelos?

Anónimo disse...

mas com cotovelos ou com os dedos a diferença está restrita aos membros superiores...
Quanto chegar à cabeça não depende de quem escreve, mas de quem lê...
E presente está mais ausente do que a casca da castanha quando abre o ouriço.

eco disse...

Respostas sábias do mestre às três frases atrás situadas

1ª Frase: “O que há a fazer, é não fazer nada, fazendo tudo.”

2ª Frase: “Se já lá estivesses, nunca lá chegarias. Se já lá não estiveres, nunca lá chegarás.”

3ª Frase: “Aparece desaparecendo.”

PB